É POSSÍVEL VIRAR LÉSBICA?
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É POSSÍVEL VIRAR LÉSBICA?


Sei que este post vai gerar polêmica, que vou ganhar mais meia dúzia de haters por causa dele, e que ele estará cheio de equívocos proferidos por uma leiga. Mas venho querendo escrevê-lo faz tempo, e se nem no meu próprio bloguinho pessoal posso escrever o que eu quero, vou escrever onde?
Eu, como várias outras mulheres hétero, passei a maior parte da minha vida sem ter amizade com lésbicas. Tudo bem, talvez minha técnica de handball fosse lésbica, mas ela não era necessariamente minha amiga, e sua orientação sexual não tinha a menor importância pra mim. Nunca fui cantada por uma mulher, pelo menos não que eu tenha notado. Não sabia muito sobre lésbicas, e não pensava muito nelas.
Aí eu fui fazer mestrado na UFSC. E lá havia muitas lésbicas. Quer dizer, não que eu soubesse. Porque junte a minha total falta de gaydar a uma grande dose de ingenuidade e você entenderá porque eu pensava que duas moças que moravam no mesmo apê havia dez anos eram apenas colegas de quarto. Quando me aproximei mais deste casal e contei isso pra elas, nós rimos. E percebi que elas têm birrinhas parecidíssimas àquelas que eu tenho com o maridão (“Você não me ouve mais”, etc).
No doutorado conheci outra mulher que veio a ser uma das pessoas mais doces e gentis que conheci nos últimos tempos. Aliás, em toda a minha vida. Mesmo que ela esteja em Floripa e eu em Fortaleza e a gente não tenha mais tanto contato, vou amá-la pra sempre. Bom, ela, que agora tem mais de 50 anos, é lésbica. Mas nem sempre foi assim. Até os 30 e poucos anos, ela foi casada com um homem. Tem três filhos homens, todos adultos (e héteros), e se dá super bem com eles. Ela me contou que ainda sente tesão por homens, mas se identifica como lésbica. E ela só se apaixona por mulheres. Olhando pra trás, ela constata que sempre se interessou por mulheres.
Através dela, conheci suas amigas, a maior parte lésbicas. Elas são muito unidas, todas se conhecem. Admito que fiquei um pouco decepcionada ao ver que lésbicas, inclusive lésbicas feministas, também gastam tempo falando de esmalte. Mas todas foram simpáticas comigo. Enfim, isso não tem nada a ver com o tópico.
Mas, ao conhecer mais lésbicas, vi que não era nada incomum que mulheres “se descubram” lésbicas depois de uma certa idade. Uma ex-professora minha, lindíssima, que já tinha sido casada com homens, estava, depois da menopausa, “experimentando” se relacionar com mulheres. E gostando, pelo que ouvi falar.
Pois é, essa é a primeira parte polêmica: mulheres podem “virar” lésbicas, ou nossa orientação sexual já nasce definida? A maior parte das pessoas LGBT acha que não é uma opção, e se recorda da primeira vez que se sentiu atraíd@ por alguém do mesmo sexo, ainda bem criancinha (assim como eu me lembro de quando aquele jogador de futebol mexeu comigo). Se pensarmos que orientação sexual é uma opção, abrimos as portas para religiosos e psicólog@s homofóbicos que insistem que é tudo uma questão de caráter e que homossexuais podem ser “curados”, ou seja, podem virar héteros. Mas será que é igual pra todo mundo?
Por outro lado, me parece bem restritivo afirmar que uma mulher (ou um homem) hétero não pode buscar novas experiências com alguém do mesmo sexo. Eu não digo que a gente pode treinar nosso olhar, que a gente pode aprender a achar atraentes pessoas gordas ou mais velhas ou com algum defeito físico? Que a gente pode tentar se “descondicionar” do que a sociedade nos dita como normal e aceitável e padrão? Então por que não poderíamos fazer isso em relação a pessoas do mesmo sexo? Se podemos ampliar nossos horizontes pra, sei lá, gostar de paladares inéditos e diferentes, por que não poderíamos ampliar nosso desejo sexual?
Claro, falar é fácil. Fazer é que são elas. Neste momento da minha vida, eu sinto que teria que nascer de novo pra poder me sentir sexualmente atraída por mulheres. Mas vai saber o que pode acontecer no futuro... Afinal, já ouvi uma mulher que foi hétero a maior parte da vida perder o marido (geralmente nos casamos com homens um pouco mais velhos e, pra piorar, eles costumam morrer mais cedo que a gente) e, depois de amargar a solidão, testar outras pairagens. O argumento dela, que me pareceu bastante sólido, foi: “Estou com 55 anos. Tem muito homem que não quer nada com mulher mais velha. Já lésbicas não têm essa frescura. E então, eu devo desistir da minha sexualidade e ficar sem fazer sexo até morrer, ou posso tentar me relacionar com pessoas do mesmo sexo?
Este é o segundo ponto polêmico dessas minhas divagações, porque sugere que lésbicas são lésbicas por não conseguirem homem. E nada mais distante da realidade, óbvio. Primeiro que lésbicas não querem homem. Depois que, se quisessem, elas são lindas e inteligentes e provavelmente conquistariam qualquer cara que quisessem. 
Tenho certeza que a imensa maioria das lésbicas é lésbica desde que se conhece por gente e, se algum dia fez sexo com homem, foi só pra tentar se adequar ao que um mundo homofóbico e machista esperava dela. Fez e não gostou, ou fez e não achou aquilo tudo, ou fez e concluiu categoricamente que aquela não era sua praia, e tratou de se assumir lésbica. Mas estou pensando em mulheres que se consideram hétero a maior parte da vida, e resolvem experimentar. A gente ouve sempre falar que a sexualidade feminina é mais fluída, menos estanque, que a masculina. E o mundo permite um maior contato físico entre mulheres –- um contato físico necessário que pros homens só é permitido aos praticantes de esportes. Também ouvimos falar que não é de todo raro mulheres que se identificam como hétero terem, na adolescência, alguma experiência com outra mulher. Mas uma mulher se interessar por outra mulher, ou inclusive transar com outra mulher, não faz dela lésbica, sequer bissexual. Acho que ela tem que se identificar como tal, e essa identificação vai além de encontros furtivos. Talvez, como disse essa minha amiga querida, a atração pelo mesmo sexo inclua não só sexo, mas também amor e outras intimidades.
Bom, eu tenho muito mais dúvidas do que certezas, como já deu pra notar. Mas será que a descoberta da homossexualidade é igual pra toda mulher? E, voltando ao título, é possível virar lésbica?




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