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Água de Alckmin é só até a eleição
Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
Na entrevista de ontem ao Estadão, o governador Geraldo Alckmin disse que “o abastecimento de água está garantido” em São Paulo.
Ele, mais do que ninguém, sabe que isso não é verdade.
Ou que é meia-verdade, porque está garantido, por, talvez, 90 dias.
Isso se as condições forem favoráveis como foram em julho (choveu, no mês, 80% da média, enquanto em junho a precipitação não chegou a 30% da normal para o mês)
Depende de fatores que, ao contrário do que ocorre com a mídia, não estão sob o controle do PSDB: os climáticos.
Do dia em que foi iniciado o bombeamento, 17 de maio, entre “volume morto” e a água remanescente no sistema, foram consumidos cerca de 145 bilhões de litros além do que a Natureza foi capaz de fornecer às represas do Cantareira.
Como restam 142 bilhões de litros, hoje, não é difícil, até para um leigo, perceber que se consumiu a metade das reservas em menos de três meses.
Portanto, a “garantia” de Alckmin, se você quiser comparar com a de um aparelho eletrodoméstico, é de perto de 90 dias.
Com uma diferença: depois do prazo, ele vai quebrar e, como já terão passado as eleições, só restará aos desavisados praguejar aos céus.
Exatamente como ocorreu com aqueles “os preços vão continuar tabelados e congelados” do Cruzado de Sarney em 1986 ou com o “um real é igual a um dólar” de Fernando Henrique em 1998.
Um engodo irresponsável como este, claro, se prenuncia de muitas formas.
Os técnicos e cientistas dizem que é irresponsável?
Que se danem.
O que é um professor de Recursos Hídricos, como Antonio Carlos Zuffo, da Unicamp (ouvido pelo Estadão) perto do Zeca Camargo, no Fantástico?
No Diário do Centro do Mundo, um ótimo artigo mostra como Alckmin foi escafedido da “reportagem” sobre a falta de água.
Sobrou para São Pedro e para os prefeitos do interior, que têm de se virar com as gotinhas que a Sabesp ainda deixa fluir para os rios que abastecem suas cidades.
Dentro de duas semanas, começa a ser bombeada a segunda parcela do fundo das represas, em Atibainha, que está, neste momento, respondendo pela maior parte da água do sistema.
O Jaguari-Jacareí está exaurido e não pode produzir mais sequer a metade dos 20 m³ diários que lhe competiam.
O cenário, parcamente mostrado na mídia, é pavoroso: virou um simples canal lamacento.
Na anatomia deste crime, social, econômico e ambiental, há cúmplices.
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