- Na minha adolescência (anos 80), não existia essa obsessão de contar calorias. Ninguém falava nisso, e a gente não tinha a menor idéia de quantos “pontos” (sistema adotado pelo Vigilantes do Peso e por várias dietas) valia cada alimento. Mas isso foi mudando, e rápido. Hoje as meninas de oito anos já começam a contar calorias e dividir alimentos entre “bons” (saladas) e “ruins” (todo o resto). No entanto, há um paradoxo aí. Se nunca vivemos numa época tão obcecada com o corpo – e a contagem de calorias como tema de leigos é uma das provas disso – por que estamos mais, e não menos, gordas? Por que vivemos no meio de uma “epidemia da obesidade”? Ué, saber as calorias de cada mordida que colocamos na boca não seria benéfico pra gente?
- Um dos problemas é que a tal epidemia da obesidade é altamente exagerada. Um dos motivos que o mundo ficou mais obeso é que, nos anos 90, a Organização Mundial da Saúde mudou os parâmetros que indicavam sobrepeso e obesidade. Até então, o Índice de Massa Corpórea (IMC) dizia que, se você tinha até 27 de índice, estava enquadrada na categoria “normal”. Acima de 32, seria obesa. Do dia pra noite, sem discussão, de portas fechadas, a OMS decidiu arbitrariamente que só seria considerado peso normal quem tivesse até 25, e acima de 30, seria considerado obeso (acima de 40, obeso mórbido – um termo que por si só já assusta e discrimina). Essa mudança de parâmetros automaticamente incluiu milhões de pessoas em todo o mundo numa só categoria: “precisam emagrecer com urgência”. E fez aumentar ainda mais os lucros da indústria da dieta.
- Cientistas não ligados à indústria da dieta afirmam que há infinitamente mais dinheiro pra promover “a epidemia da obesidade” (ou seja, pra espalhar o pânico de que, se você é gordo, tá com um pé na cova), do que pra fazer que a obesidade deixe de ser um problema. A epidemia é altamente lucrativa. E, por trás de praticamente todo estudo associando obesidade com doenças cardíacas e câncer, existe uma indústria da dieta ou farmacêutica que bancou esse estudo. Geralmente não acreditamos quando indústrias tabagistas divulgam resultados “provando” que cigarro não é assim tão prejudicial à saúde. Mas não piscamos antes de aceitar que, sim, sem sombra de dúvida, obesidade mata (só os magros vivem para sempre).
- No meio de tudo isso, há montes de médicos enriquecendo com cirurgias de estômago. O próprio termo “obesidade mórbida” nasceu nos anos 50 como um termo de marketing pra vender cirurgias de redução de estômago, não como um conceito médico. E a cada ano muda-se o critério usado pra “recomendar” uma dessas cirurgias. Logo logo ela vai deixar de ser apenas para “obesos mórbidos”, e mulheres com sobrepeso vão poder entrar na faca, embora a cirurgia tenha uma mortalidade na faixa dos 10%, e que os problemas associados a ela possam ser maiores que aqueles enfrentados por uma obesa mórbida. Não faz mal. Nós mulheres encaramos qualquer sacrifício, até a morte, para alcançar a tão sonhada beleza, único objetivo de nossas vidas.
- Lógico, vendem pra gente que dietas funcionam (apesar que os comerciais pra remédios pra emagrecer nos EUA sempre venham com pessoas perdendo peso milagrosamente e letras miudinhas dizendo “results not typical”, “esses resultados não são típicos”), cirurgias pra redução de estômago funcionam, fechar a boca e se exercitar funciona. Se alguma coisa não funciona, o problema está na pessoa, não no produto. É a gorda que sabota tudo, que não tem força de vontade, que mente sobre o quanto está comendo. Porque, obviamente, a gorda quer ser gorda. Ela só passa a vida toda tentando emagrecer porque não tem mais nada pra fazer.