Algumas sobre o dólar - MIRIAM LEITÃO
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Algumas sobre o dólar - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 24/08

O dólar mais alto veio para ficar. A atuação do Banco Central vai ajudar, está correta, mas pode chegar o momento em que ele tenha que vender dólar físico. O câmbio desvalorizado ajuda as exportações, mas após estabilizar. Quando a moeda americana sobe, impacta a inflação. Os investidores de renda fixa podem perder capital mesmo com a ação do Tesouro de recompra de papéis.

Ótimo que ontem tenha sido de queda do dólar no mundo inteiro, mas tudo se move, quando o preço da moeda americana se altera subitamente. Não é apenas aquela visão binária: sobe o dólar e fica bom para a indústria e o exportador; cai o dólar e é ruim para a indústria e o exportador. A economia brasileira ficou mais complexa, mais atada ao mundo, as empresas são afetadas de diversas maneiras pelo câmbio e, na maioria delas, o efeito é positivo e negativo. As dívidas e os insumos importados ficam mais caros num primeiro momento; a competitividade da indústria e dos exportadores aumenta a médio prazo, quando o dólar se estabiliza em outro patamar.

Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, acha que além da mudança no mundo, os agentes econômicos temem as incertezas internas.

- O dólar mais alto veio para ficar, a economia americana está mais forte, há uma mudança na liquidez no mundo com a decisão que o Fed vai tomar. Há medo das incertezas internas nos próximos 18 meses até a eleição. O governo está se desentendendo muito, ninguém sabe quem manda em que. A presidente afirmou o compromisso fiscal, mas as ações do governo são contrárias ao discurso - disse ela, numa entrevista que me concedeu na Globonews.

Dados mais fracos da economia americana fizeram o dólar cair ontem, mas também ao redor do mundo houve intervenções dos bancos centrais.

O economista Cláudio Frischtak, da Inter B Consultoria, usou a expressão "cacofonia oficial" para concordar com Solange sobre esse espantoso coro de gente dando palpite no governo - ou nas cercanias - sobre câmbio. Esse é assunto delicado, sobre o qual é melhor fazer do que falar. O efeito do dólar em alta espalha-se por toda a economia, diz Frischtak.

- Todos nós estamos mais pobres desde o dia em que o dólar começou a subir. Os preços dos importados e dos produtos afetados pela moeda americana estão mais caros, a inflação fica mais alta e tira poder aquisitivo da população. O Banco Central terá que manter os juros subindo. Os juros de mercado já deram um salto - diz Frischtak.

Perguntei a ele se os aplicadores terão perdas com essa mudança do quadro de juros e ele disse que sim.

- Na realocação das carteiras, que está havendo agora, há uma fuga de capitais do Brasil; os juros de mercado sobem e os preços dos títulos do Tesouro brasileiro caem, principalmente os pré-fixados. Esses títulos estão nas carteiras dos fundos; se o valor deles cai, as cotas também. Já está havendo perda de capital dessas carteiras. O Tesouro, quando recompra os títulos pré-fixados, estanca as perdas, mas não recompõe os prejuízos já ocorridos - diz o economista.

Solange afirma que o quadro da economia brasileira está hoje bem mais complexo.

- Temos uma enorme inflação represada, esqueletos se formando no armário com as políticas parafiscais (transferência de recursos aos bancos públicos, principalmente o BNDES). Este ano e o próximo serão difíceis. O governo tentou crescer estimulando o consumo e isso criou muitas distorções na economia - diz Solange.

Frischtak calcula em 10% a inflação real no Brasil, sem a repressão das tarifas e preços controlados. E lembra que é melhor enfrentar isso agora do que em 2014, que é ano eleitoral.




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