ALGUNS CONSENSOS SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, POR FAVOR?
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ALGUNS CONSENSOS SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER, POR FAVOR?


Segunda passada, no post em que respondi ao Dedalus, ele e um outro rapaz sentiram-se injustamente acusados pelo post e pelos muitos comentários. E, perdoem-me, mas falaram muita besteira também. Tentaram justificar o estupro apelando pra vantagens genéticas, explicando que funcionou com Genghis Khan, que os golfinhos também estupram, que é pra espalhar a sementinha... Várias leitoras responderam, principalmente a Marjorie, que rebateu todos os argumentos com muita sensibilidade e paciência (muito mais do que eu). Já mais pro final, apareceu o Canis (Antônio), com uma visão rara para um homem:

Olá Lola, Li o último post e pensei até em escrever minha história de como eu me tornei um homem não machista (de verdade mesmo). Foi uma longa e dura jornada de deconstrução e reconstrução. Não vou fazer isso, prefiro comentar outras coisas. Faz muito tempo que eu entendo, ou tento entender, como se sente uma mulher, talvez por ter convivido muito com muitas delas. Não sou cabeleireiro nem maquiador nem gay; sou homem, professor e heterossexual, mas as circunstâncias me levaram a viver rodeado de mulheres. Todas as mulheres têm medo dos homens. É normal. A maioria delas tem pais violentos, irmãos violentos, namorados violentos, primos, avôs, tios etc, violentos. Todas as mulheres são inferiorizadas e sofrem por isso, é natural, são tão capazes mas nunca recebem reconhecimento. Toda mulher já sofreu algum tipo de abuso por parte de um homem, familiar, amigo ou desconhecido, e a maioria ficou calada, ou, se falou, foi culpada pelo próprio abuso. Homens batem, estupram, humilham e vivem como se fosse normal isso tudo. Quando em um dos comentários alguém falou que se sentia ofendido por ser tido como um suspeito potencial de estuprador, digo que não deveria ficar ofendido, mas envergonhado, porque para todas as mulheres, qualquer homem pode ser um violentador (até seus mais próximos são de alguma forma). Não está escrito “estuprador” em nenhuma testa, da mesma forma que não há marca que identifique um assaltante. Assim como muitos homens devem achar que qualquer rapaz vestido de "mano" é um assaltante em potencial, as mulheres olham para um homem sozinho numa rua escura e temem que ele seja um estuprador - a sensação é a mesma. Essa comparação é apenas para aproximar como se sente uma mulher em relação a isso. Pena que, no caso da mulher, não é puro preconceito. Mulheres são sempre vítimas, raramente são algozes, e quando são, têm seus motivos. Ora, por favor, nada do que é dito aqui é mentira! O mundo é assim mesmo! Homens batem e mulheres apanham. A discussão não é se todos os homens são violentos, se todos batem, se todos estupram, o que é fato é que a instituição homem/macho/machista é violenta, da mesma forma que todo rico é explorador. O problema não é pessoal, é geral. Ficar dizendo “eu não sou assim” ou “eu não faço isso” não vai mudar nada. Ser homem é ser privilegiado e ponto. Romper com isso é o mais sensato a se fazer, não tirar o corpo fora e ficar achando que só os outros têm problemas. É preciso subir o nível da discussão.

Obrigada, Antônio. Eu concordo principalmente com a parte de subir o nível da discussão. A Má cantou a lebre: quando se diz “não são todos os homens, eu não sou assim” mata-se a discussão. Porque o foco não é esse. Se dizemos que “homens estupram mulheres”, há três coisas nessa frase - homens, estupro, mulheres. No momento em que se diz “eu não faço isso”, o sujeito está jogando pra escanteio duas das coisas da frase (estupro, mulheres), e falando só de si, que é homem. Fica uma discussão falocêntrica.
A julgar pelo silêncio, parece que o consenso entre os homens é que está tudo bem. O mundo está equilibrado, não há mais desigualdade entre os sexos ou raças, e essas feministas só sabem criar uma guerra entre os sexos, porque odeiam os homens, não porque há alguma coisa errada no mundo, porque não há. Com essa atitude de recusa em enxergar a realidade, muitos homens parecem uma criança que, para não ver ou ouvir, fecha os olhos, tampa as orelhas, e começa a gritar “la la la la”.
Vamos ver se concordamos em algumas coisas, pelo menos. Primeiro ponto: mulheres são estupradas. De acordo? Precisamos discutir esse dado também? O estupro de mulheres (e crianças) acontece muito, demais, em todo o mundo. A cada dois ou três minutos (dependendo das estatísticas), uma mulher é estuprada. Segundo ponto: as mulheres não são estupradas por outras mulheres, ou por Genghis Khan, ou por golfinhos, mas por homens. Ok? Terceiro ponto: os homens que estupram não são os psicopatas sem rosto que arrastam uma mulher prum beco à noite. Não são os monstros que povoam nossa imaginação que estupram. Esses bodes expiatórios representam apenas entre 10% e 20% dos estupradores. A maior parte dos estupradores é conhecida da vítima. São homens normais, que têm namorada, esposa, mãe, irmã, filha, amiga, mas que vivem numa sociedade que prega que um homem tem direito sobre uma mulher. Uma sociedade que diz que o homem, por oferecer sua tão-valiosa companhia, merece transar com a mulher, quer ela queira, quer não. Que um homem, depois de excitado, não tem como se controlar e refletir que “talvez ela não esteja a fim”. Vivemos numa sociedade em que os homens tantas vezes nem consideram “transar à força” um estupro. Mas é. São sinônimos.
Então, o que fazer? Como mudar essa sociedade? Gostaria de saber se é um consenso, pelo menos, que queremos mudar a sociedade. Todos de acordo que uma situação dessas é péssima para as mulheres, que vivem com medo e/ou trauma do estupro, e para os homens, que são vistos como possíveis estupradores pelas mulheres? De nada adianta dizer que as mulheres são injustas por pensarem assim. Ao invés de querer modificar as vítimas, que tal mudar a mente dos agressores?
Pensem: como seria um mundo sem estupro? Como seria o relacionamento entre homens e mulheres se a ameaça do estupro desaparecesse? Num mundo com igualdade entre os sexos, o estupro teria como existir?




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