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AS FEMINISTAS CONTRA HUGH HEFNER
A mídia vende Hugh Hefner, criador da Playboy, como um rebelde que lançou a revolução sexual contra uma América conservadora. Beatriz Preciado diz que Hefner se vê mais como arquiteto que como pornógrafo. A história real, segundo Gail Dines num excelente artigo do ano passado, é que Hefner se baseou nas ideias machistas dos anos 1940 e 50. Um dos bestsellers da época era Philip Wylie, que dizia que as mulheres eram egoístas, gananciosas, dinheiristas e burras, e que as mães e esposas americanas já tinham poder demais, e era hora dos homens recuperarem território (parece familiar?). O principal artigo do primeiro número da Playboy chamava-se “Miss Gold-Digger of 1953” (Miss Interesseira) e reclamava que, num divórcio, era sempre o homem que perdia e tinha que pagar. Ou seja, nada muito diferente do que mascus e demais machistas se queixam hoje. Puxa, já vivíamos numa sociedade b*cetista na década de 50?Dines conta que, com o advento do feminismo, a Playboy precisava se reinventar, se não quisesse ser vista como uma relíquia macabra de tempos passados (que é a experiência que passa qualquer pessoa sensata ao ler qualquer coisa escrita por mascus de qualquer nacionalidade). Infelizmente, em 1970 vazou um comunicado de Hefner a uma secretária: “O que me interessa é a tendência altamente irracional, emocional, demente que o feminismo tomou... essas garotas são nossas inimigas naturais. Está na hora de combatê-las”. Só depois, com a grande ajuda da mídia mainstream, é que Hefner construiu uma imagem de alguém a favor da liberdade sexual e econômica das mulheres. Esta é a imagem que aparentemente a série de TV The Playboy Club tenta transmitir. Eu só vi o piloto e não tive vontade de ver outro episódio. O que dizer de uma série em que Hefner comenta em narração em off: “As coelhinhas eram das poucas mulheres no mundo que podiam ser o que quisessem”? Parece que estamos vivendo um modismo de Sexismo Vintage, ou Machismo Retrô. Séries como Pan Am e Playboy Club são nostálgicas de um tempo –- primeira metade dos anos 60, pré-Revolução Sexual -- em que mulheres conheciam seu lugar (ha ha). Não incluo Mad Men nessa safra porque não é possível ver a série e pensar “Uau! Nessa época sim que as mulheres eram felizes!”
Um bom relato de uma moça que trabalhou no Playboy Club de verdade em 1978, quando ela tinha 17 anos, diz que a série de TV terá que fabricar muitas histórias picantes para proporcionar uma temática sexual: “Trabalhar num restaurante renderia histórias de trabalho mais saborosas”. Mas claro que o relato da ídola Gloria Steinem, feminista que se infiltrou no Playboy Club em 1963 e registrou sua experiências em Memórias da Transgressão, continua imbatível.
Steinem, aliás, pediu que as mulheres boicotassem a série de TV. Nora Ephron, na sua ironia habitual, respondeu: “Estou boicotando tantos programas de TV atualmente que talvez não tenha tempo de boicotar mais um”.
A grande roteirista e cineasta Ephron, que zeus a tenha, faleceu agora em junho, de leucemia. Ano passado ela escreveu um artigo chamado “Por que a Playboy não morre?” Ela questiona por que alguém ainda fala do Hugh Hefner ou o cita como se ele fosse um visionário importante: “Tudo que Hugh Hefner fez -– a revista, os clubes, a filosofia, as camisetas, as chaves, os adesivos, a marca –- foi depositado na loja de lixo da vida do século 20, onde pertence. As ações despencaram. A circulação da revista caiu. Os clubes foram fechados, um a um”.
É verdade, mas não dá pra negar a popularidade da revista no seu auge. Nos anos 70, um quarto de todos os alunos de universidades americanas lia a Playboy. Ainda hoje, o símbolo da empresa continua popular, um dos logotipos mais famosos do mundo. Ele é usado em inocentes estojos e cadernos escolares para meninas, como se fosse só um... coelhinho de gravata. Para protestar contra esse condicionamento de garotas de dez anos, existem divertidos protestos feministas como o Bin the Bunny (Jogue Fora o Coelhinho), que também faz vídeos de coelhos gigantes perseguindo Hefner.
Talvez isso nem seja mais necessário nos dias atuais, já que, por causa da disponibilidade da pornografia grátis e muito mais hardcore, os números do império despencaram. Dois anos atrás a revista cortou 25% de sua equipe e anunciou um preju de mais de 10 milhões de dólares só em três meses. A revista foi posta à venda (calcula-se que por 300 milhões de dólares). Segue sendo a maior revista masculina dos EUA, mas a circulação hoje é de apenas 3 milhões de cópias por mês (era 7 milhões em 1972). Até a distribuição gratuita para anunciantes foi cortada, dos 2,6 milhões para 1,5 mi. As edições por ano foram reduzidas de doze para dez (não sei se no Brasil seguem sendo doze).
Aí fica a dúvida do que vai cair antes: a Playboy como um todo ou a imagem do seu criador como grande visionário e aliado da Revolução Sexual?
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