ATRIZES VALEM PELA BELEZA E JUVENTUDE
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ATRIZES VALEM PELA BELEZA E JUVENTUDE


Outro dia eu disse, em resposta ao comentário de uma leitora que não gostou muito do meu post sobre vaidade feminina, que, se eu fosse uma atriz, seria mais importante pra mim ser admirada pela minha aparência física que pela minha produção intelectual. Uma outra leitora que é atriz amadora não gostou dessa minha afirmação, e reclamou que eu estava caindo no clichê de que pra ser atriz basta ser um rostinho bonito. Bom, eu não disse isso. Mas a verdade é que estava pensando na Leila Lopes quando escrevi isso, e na carta que ela deixou ao se suicidar, dizendo que preferia morrer a envelhecer e sofrer. Ela já estava sofrendo por envelhecer, tendo que recorrer a atuar em filmes pornôs para poder pagar suas contas. Por mais inteligente, talentosa ou divertida que fosse, o que se esperava de Leila numa novela de TV era que fosse bonita e atuasse direitinho. E, como o padrão de beleza não contempla mulheres acima de 40 anos (e muito menos de 50, que era sua idade real), pra ela a velhice significava aposentadoria precoce.
Não estou dizendo que concordo com isso. Pelo contrário, acho terrível. Todas nós nos beneficiaríamos se a TV e o cinema exibissem imagens de mulheres mais velhas que aparentassem a sua idade. Seria ótimo se houvesse papéis para mulheres mais velhas. A gente fica horrorizada ao ver o rosto deformado pelas plásticas de uma Meg Ryan ou de uma Cher, mas se esquece de criticar o sistema que faz com que atrizes se desesperem a tal ponto de deformarem seus rostos na vã tentativa de conseguir emprego.
Hollywood é ultra preconceituosa, quer ver só? Algumas estatísticas:
- As atrizes americanas ganham mais entre os 20 e 29 anos. Depois dos 30 o salário despenca permanentemente.
- Apenas 27% dos papéis para pessoas acima de 40 anos vão para atrizes.
- Até o Senado americano é mais progressista que Hollywood. Senadoras mulheres são 13%, diretoras mulheres, 4%.
- Em mais de 80 anos de Academia de Hollywood, nenhuma mulher jamais ganhou um Oscar de direção, fotografia, ou som (será que a Kathryn Bigelow quebrará o jejum este ano? Espero que sim!).
- 94% dos prêmios de roteiros vão para homens.
- Apenas 3% de todos os Oscars de atuação (principais e coadjuvantes) foram ganhos por negros, hispânicos ou asiáticos.
- 71% das empresas que produzem comerciais não contratam mulheres para dirigi-los.
- Apenas 8% dos diretores de comerciais nos EUA são mulheres.
- E a mídia que fala de cinema colabora pro não reconhecimento das mulheres... Por exemplo, quem fez o primeiro filme narrativo? Uma tal de Alice Guy Blanche (1875-1968). Uma mulher! Ela dirigiu mais de 700 filmes e fundou o primeiro estúdio americano. Até eu, que estudo cinema, nunca tinha ouvido falar nela.
Hollywood não parece ser um bom lugar pra uma mulher trabalhar. Se for uma atriz bonita, pode fazer sucesso – até uma certa idade. Em geral, terá uma carreira tão curta quanto a de um jogador de futebol. Mas pelo menos mais longa que a de uma modelo.
No entanto são elas, atrizes e modelos, que são nossos role models, nossos modelos de vida. Crescemos querendo ser como elas. Vemos suas imagens nas telas e nas capas de revistas e nos sentimos péssimas por não sermos iguais. Não está na hora de nos guiarmos por outros modelos? De nos espelharmos em mulheres que não sejam apenas decorativas, mas que façam coisas, como cientistas, políticas competentes, professoras, escritoras, e inclusive atrizes (valorizadas pela técnica, não pela beleza)? Sei que toda vez que uma mulher dessas é entrevistada aparece a inevitável pergunta “Você é vaidosa?”, ou algo explicando como ela é feminina, bonita e jovial na sua aparência. Sabe, esses detalhes que nunca são mencionados quando o entrevistado é um homem. Porque pensa bem, seria ridículo dizer numa entrevista de um prêmio Nobel da Física que o cara tá arrumadinho e que seu cabelo é de tal cor, e que no fundo ele se preocupa demais com suas unhas. Mas nos raros artigos com mulheres de destaque, algumas linhas sempre nos encarregam de mostrar que, acima de tudo, aquela mulher é feminina (seja lá o que isso quer dizer). Porque, sabe, se uma médica não usar maquiagem, todos os pacientes de um hospital podem morrer de uma hora pra outra.




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