Por Altamiro BorgesO deputado estadual Roque Barbiere (PTB), da base de apoio do governador Geraldo Alckmin, reafirmou ontem (18) que possui provas concretas sobre o esquema de corrupção com emendas na Assembléia Legislativa de São Paulo. Segundo a sua assessoria, na próxima quinta-feira (27) ele irá depor no Conselho de Ética da Alesp. Roquinho, como é conhecido, ameaça dar nome aos bois.
Há cerca de três meses, o parlamentar revelou em entrevista num jornal do interior que “de 25% a 30%” dos deputados paulistas negociavam emendas com empreiteiras, prefeituras e o governo estadual. O esquema de propinas sugaria bilhões dos cofres do Estado. Isolado e atacado pelos partidos governistas, Roquinho chegou a dizer que o parlamento paulista é um “camelódromo”.
Lapso de sinceridade de Bruno CovasNum lapso de sinceridade, Bruno Covas, deputado licenciado do PSDB e secretário de Meio Ambiente de Alckmin, até endossou a denúncia do petebista. Disse que ele mesmo foi sondado por um prefeito, que lhe ofereceu propina de 10% para a liberação de uma emenda de R$ 50 mil. Pré-candidato à prefeitura da capital, ele depois tentou desmentir a sua confissão, mas ela está gravada.
Já o deputado Major Olímpio (PDT) confirma as acusações de Roquinho. “Todo mundo sabe que isso faz parte do cotidiano da Casa... O governo fica de braços cruzados porque é confortável para ele, porque mantém todo mundo refém, dependente dessas emendas”. É um típico "mensalão". Ele informa que já colheu depoimentos sobre “pacotes de dinheiro nos gabinetes, tudo fruto da venda de emendas”.
A cumplicidade da mídia demotucanaAté agora a grave denúncia não mereceu capa da revista Veja. O Jornal Nacional da TV Globo também não acionou sua artilharia pesada contra os acusados – os deputados do PSDB, DEM e de outros partidos da base aliada. O governador Geraldo Alckmin tem sido poupado das críticas. Nem é procurado para tratar do delicado assunto. Será que a mídia encara Roquinho como um mentiroso, um bandido?
Bem diferente tem sido o tratamento dado às acusações do policial João Dias Ferreira contra o ministro do Esporte, Orlando Silva. Ele foi capa da Veja e fonte de venenosa matéria. Também virou astro do Jornal Nacional, que tem amplificado os seus ataques e requentado velhas denúncias. Suas acusações são manchetes diárias dos jornalões e motivo de ácidos comentários nas rádios.
Imparcialidade da mídia do esgoto?Diferente do deputado Roque Barbieri, que até hoje não foi processado por corrupção, o ex-policial é investigado por desviar R$ 3 milhões de recursos de convênios com o Ministério do Esporte. Em abril passado, ele foi preso em Brasília, acusado de liderar uma quadrilha de bandidos, segundo conclusão da Operação Shaolin da Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco).
O rápido enriquecimento do policial militar – que, segundo o jornal Correio Braziliense, comprou uma mansão num condomínio de luxo em Sobradinho, “já arrestada pela Justiça”, adquiriu duas academias de ginástica (Thisway Fitness e Wellness) e transita em carros importados – também gerou suspeita sobre as maracutaias de João Dias.
Mesmo assim, a mídia demotucana dá todo apoio as suas acusações do policial – “um bandido”, segundo o ministro Orlando Silva. Os dois casos são bem emblemáticos sobre a seletividade da chamada grande imprensa. Só mesmo os ingênuos e os oportunistas ainda acreditam na imparcialidade da mídia de esgoto do Brasil!
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