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Beautiful People e seus micos amestrados
Rodrigo Constantino
Considero João Pereira Coutinho, ao lado de Luiz Felipe Pondé, o melhor colunista da Folha, quiçá de todos os jornais. É sempre um prazer abrir a Ilustrada às segundas e terças-feiras e mergulhar na sabedoria desses dois. Hoje não foi diferente.
Em sua coluna "Amestrando proletários", Coutinho detona com precisão cirúrgica o movimento politicamente correto. O português desconstrói tijolo por tijolo a fachada do prédio oco, restando apenas a visão da arrogância hipócrita que jaz por trás dela. Vejamos os principais trechos:
O problema do pensamento politicamente correto é que ele nada tem de correto. Pior: na ânsia de impedir qualquer ofensa a grupos ou minorias, ele converte-se na mais grotesca ofensa que existe para esses grupos ou minorias.
[...]
Para os autores do guia, os alunos proletários são como certas espécies zoológicas que é necessário proteger em "habitat" adequado. E isso implica não os assustar e, logicamente, não os alimentar com doses arcaicas de conhecimento "burguês" e "reacionário".
Como é evidente, o pensamento politicamente correto das patrulhas parte de duas ideias profundamente ofensivas.
A primeira ideia é a defesa explícita de que alunos de famílias proletárias estranham e definham em ambientes eruditos. Sim, seria possível fazer uma lista de intelectuais gerados pelo proletariado --de Jack London a D.H. Lawrence-- que marcaram a história da cultura ocidental.
[...]
Mas é a segunda recomendação que impressiona pela sua evidente discriminação. Para as patrulhas, sempre que um aluno proletário abre a boca, é preciso ser condescendente para escutar as alarvidades que ele diz.
[...]
O que o pensamento politicamente correto produz não é difícil de imaginar: a perpetuação do estigma de alunos proletários e a impossibilidade de eles aprenderem alguma coisa (na universidade) para ascenderem social e economicamente (na vida profissional).
Quando se sai da universidade exatamente como se entrou, é preciso perguntar que mecanismo de atraso explica o resultado. Ironia: o atraso é promovido por aqueles que imaginam lutar contra ele.
[...]
O proletariado não existe. Os negros não existem. Os gays, as mulheres, os anões não existem.
O que existe são indivíduos diversos, com histórias ou interesses diversos. Haverá proletários que não gostam de livros. Haverá proletários que não vivem sem eles.
E haverá burgueses, genuínos burgueses, para quem ler, escrever e pensar são formas medievais de tortura. Conheço vários.
A caricatura do "proletário" como um jumento apedeuta diz mais sobre as patrulhas politicamente corretas do que sobre o proletariado que elas julgam defender.
[...]
O conhecimento verdadeiro não tem cor, sexo ou classe. E, quando tem, então não é conhecimento verdadeiro.
Um guia decente para uma universidade decente só precisava de duas mensagens: "bem-vindo" e "mostra o que vales". Nada mais.
O artigo, por si só, já foi um deleite enorme. Mas o grau de satisfação apenas aumentou devido ao fato de que, especialmente hoje, a coluna de Mônica Bergamo, pouquíssimas páginas antes, trazia um hilário "Cala a boca, Danny Glover" estampado.
É que o ator de "Máquina Mortífera", conhecido por seu ativismo comunista (ele é fã do ditador Fidel Castro), esteve no Brasil à convite da United Auto Workers (UAW), entidade sindical das mais esquerdistas. E ele foi homenageado com um jantar, oferecido pelos empresários Wilson e Tatiana Quintela. O ator Zé de Abreu, aquele amigão do outro Zé, o Dirceu, marcou presença também.
Ah, nada como a doce vida da esquerda caviar! Tom Wolfe já retratou isso com maestria em seu livro Radical Chic, onde essa "Beautiful People" é desmascarada sem dó nem piedade, e com muita ironia. Nada pior do que uma elite culpada. Ela deveria ler Coutinho, e refletir...
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