BISPO É CONTRA MULHERES NA UNIVERSIDADE
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BISPO É CONTRA MULHERES NA UNIVERSIDADE


Até a santa fez facepalm

Não é novidade nenhuma que as religiões monoteístas são patriarcais, veem os homens como autoridades e as mulheres como submissas, acreditam que Deus é uma figura masculina, e detestam os “novos tempos” porque hoje as mulheres não se comportam mais como mulheres, nem os homens como homens. Muito antes do Padre Paulo Ricardo, ídolo dos machistas brasileiros, outros católicos em altos cargos já apontavam que sua missão na Terra era mesmo ser antifeminista.
Outro dia, sem querer, encontrei uma longa tradução num blog reaça de uma mulher. É de um artigo de 2001 escrito pelo bispo Richard Williamson. Nunca tinha ouvido falar na figura, então fui procurar. É um bispo tradicionalista inglês que foi excomungado por João Paulo II. Depois essa excomunhão foi revogada por Ratzinger, mas declarações “polêmicas” do bispo (como negar a existência de câmaras de gás no holocausto) fizeram que ele fosse expulso de uma fraternidade. Interessante é que o que ele fala sobre o papel das mulheres na sociedade não é visto como controverso. Porque, né? Tudo bem ter essas ideias retrógradas num ambiente tão conservador.
No artigo de 2001, Williamson diz que mulheres não devem frequentar universidades, porque não é o que Deus quer, não é o lugar delas. Segundo ele, uma mulher com cérebro pode usá-lo para tentar entender o seu papel no mundo. Pode até ler em casa, ou tornar-se freira. Porém, “as universidades verdadeiras são para as ideias, as ideias não são para as verdadeiras garotas, então universidades verdadeiras não são para as garotas verdadeiras”. Lógica irretocável!
O bispo demonstra estar frequentando universidades bem legais: “Observe o desperdício em qualquer campus de 'universidade' atual: desmasculinizados irresponsáveis e desfeminilizadas vulgares cuja nobre atividade é jogar frisbees uns nos outros!” Não sei, eu devo estar desfamiliarizada com os avanços do ensino, mas não permito que meus alunos joguem frisbees dentro da sala de aula. 
Williamson cita São Tomás de Aquino para justificar que “o ensino é para os superiores, e a mulher não deve ser superior, mas sujeita ao seu homem. [...] As mulheres saindo para ensinar em público podem facilmente inflamar a luxúria dos homens.” Pois é, este é um motivo importante para que mulheres não façam universidade (curso a distância pode?) e nem trabalhem -- elas provocam os homens. Diz Williamson:
“Se ela é inteligente o suficiente para estudar, ela não será inteligente o suficiente para saber que mesmo que ela não queira distrair os meninos, ela ainda vai ser uma distração? Por esta razão não há exceção. Então, se ela é assim decente, ela não prefere deixar de distrair os futuros líderes que ela e toda a sociedade de amanhã vão precisar? […] Garotas na universidade são uma dupla fonte de confusão, tanto fazendo o que as garotas não foram feitas para fazer, quanto distraindo os meninos de fazer o que os meninos foram feitos para fazer.” Frisbees, portanto, estão fora de cogitação.
Não que Williamson seja contra as meninas irem pra escola. Elas devem aprender, nas escolas secundárias (obviamente não em turmas mistas), uma “lista atemporal” de matérias: “economia doméstica, cuidados com a casa, administração de uma casa, o cuidado e a educação das crianças, a preparação espiritual e social para o casamento”. Aprendendo o básico, pra quê mais? Pra quê educação superior? Vamos deixar educação superior pra quem é superior, ora!
Como prova irrefutável, Williamson menciona novamente São Tomás de Aquino, que fala de Eva (a primeira vadia, segundo os mascus): Eva “existia para ajudar, não para qualquer outro trabalho que o de reprodução, porque para qualquer outro trabalho o homem poderia ser mais adequadamente ajudado por outro homem. Segue-se que a natureza da mulher é intrinsecamente orientada para a maternidade, então para todas as coisas relativas à maternidade ela é superior ao homem, em tudo o mais ela é seu inferior, e em nenhuma de todas as coisas em que os dois sexos são complementares eles são iguais.”
E claro que o bispo e Aquino sabem muito mais que eu sobre todas as coisas bíblicas, mas deus fez Adão e Eva pra se reproduzirem? Esses troços horríveis de sexo e parto como punição não vieram depois que o casal desobedeceu a deus? Eles só tiveram filhos depois de serem expulsos do paraíso, certo? Taí algo que não dá pra entender direito: Adão e Eva são mencionados como exemplo supremo de como é natural o que deus quer (por exemplo: Adam and Eve, não Adam and Steve), mas a gente não poderia ter modelos melhores de seres humanos? Sei lá: Lilith?
Para Williamson, mulheres não foram feitas nem dotadas para serem líderes; logo, por que gastar tempo, esforço e o dinheiro dos pais pra fazer um curso universitário? E apresenta o argumento definitivo, quase um fatality: Joana D'Arc nunca fez faculdade (se bem que pode ser dito que ela fez coisas pouco femininas, como pegar em armas e matar? Ou isso pode?). Justifica o bispo: “Nem mesmo a Virgem Maria participou da Última Ceia”. E olha que Maria seria tipo uma doutora em Maternidade, com pós-doutorado em Obediência Cega! 
É que mulheres não têm capacidade pra abstrair o pensamento racional das universidades. De acordo com Williamson: “O pensamento da mulher é subjetivo, interior, intuitivo, concreto, de pequena escala, com um dom para detalhes amáveis. […] Apenas por um esforço ela vai conseguir ouvir as palavras, porque seu coração está em outro lugar –- geralmente nos meninos. Naturalmente dóceis e, possivelmente, possuidoras de cérebros mais do que suficientes, elas podem sempre fazer uma boa imitação de um bom aluno, especialmente se elas desejam agradar a um professor do sexo masculino em particular. 
"[...] Raramente, porém, a estudante impressionante pode ser uma aluna muito boa, porque o Senhor Deus simplesmente projetou seu coração e mente para uma tarefa completamente diferente. Garotas, vocês realmente querem gastar muito de seu tempo e do dinheiro dos seus pais fazendo algo que Deus quase com certeza não quis que vocês estivessem fazendo?”
Como assim, “Deus quase com certeza não quis”?! Quase? Você não tem certeza do desejo de Deus, bispo? E quer que as mulheres deixem de estudar baseado numa quase certeza?
Williamson capricha nos exemplos. Sobre como a mulher não pode fugir da sua natureza, ele pergunta: “Essa advogada checou seu penteado pouco antes de entrar na corte? Se ela fez isso, ela é uma advogada distraída. Se ela não fez, ela é uma mulher distorcida.” (eu acho que estaria no time das distorcidas). 
Se uma mulher tem um título universitário, ela não conseguirá respeitar seu marido. Se ela tiver mestrado, então, nem se fala. O bispo deixa um questionamento enigmático: “Se ela é uma pós-graduada, como é que ela não vai manter-se superior a ser um 'vegetal na pia da cozinha'?” Ahn, precisa de pós-graduação pra se sentir superior a um vegetal na pia?
Depois de ler esse artigo, eu, mais uma vez, me senti livre e feliz por não seguir nenhuma religião (eu fui muito católica quando tinha 13 anos, depois passou). Também fui perguntar pro maridão se eu passei a desrespeitá-lo ainda mais depois que virei doutora. Ele respondeu: “Sim, sua vegetal”. Se eu tivesse um frisbee, tacaria na cabeça dele.




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