BLANCHE, MINHA DEUSA (1999-2013)
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BLANCHE, MINHA DEUSA (1999-2013)


Minha gata Blanche morreu hoje, num domingo de abril, igual a meu amado pai, só que ele foi exatos vinte anos atrás. Estou muito triste, mas resignada.
Na realidade, Blunf foi minha segunda gata. Meu primeiro (e esses pronomes possessivos são só pelo hábito, porque a gente sabe quem realmente é "dono" de quem), Freud, Fru para os íntimos, morreu rapidamente quando tinha mais ou menos a mesma idade da Blanche, 14 anos. Eu não estava em casa, na época em Joinville. Estava participando de um congresso de professores de inglês em Recife, e a morte foi repentina. Quando o maridão me contou pelo telefone, eu passei uns dois dias me acabando de chorar. Usava óculos escuros pra disfarçar as lágrimas, que não paravam de cair.
Já quando meu cãozinho Hamlet morreu não foi tão difícil. Foi durante meu doutorado-sanduíche em Detroit. Ao viajarmos, o maridão e eu, já sabíamos que nunca mais o veríamos, porque ele já estava muito velhinho (quase 16 anos) e doente. Foi terrível deixá-lo (minha mãe ficou cuidando dele), mas a morte em si, quase um semestre depois, já era esperada.
Blanche vigia minha mãe secar Hamlet, após o banho
A Blunf eu sabia que estava nas últimas. Ela havia emagrecido um monte nas semanas recentes, estava caminhando com dificuldade, e um de seus olhos, dominado pela catarata, mal abria mais. Ela foi levada pruma clínica veterinária na sexta, ficou lá uma noite, tomando soro e se submetendo a um monte de exames, pobrezinha, e voltou ontem bem no final da tarde com um diagnóstico nada promissor (vários tumores e problemas renais), e inúmeros remédios pra tomar. 
Minha mãe e o maridão ainda tinham esperança que Blanchinha aguentasse mais alguns meses (eu não tinha), e a gente já havia decidido que iria sacrificá-la se ela viesse a sofrer. Mas hoje de manhã, lá pelas 8 horas, ela simplesmente se deitou na porta e, sem espasmos, sem nada, parou de respirar. Foi uma morte suave. E é bem melhor que eutanásia. 
Mas sempre dói, né? É um bichinho que acompanha a nossa vida durante tantos anos... Eu lembro de quando vi a Blanche pela primeira vez. Era feriado, 7 de setembro. Poucas semanas depois da morte do Fru, eu estava levando o Hamlet pra passear quando avistei uma pequena gata preta na frente da casa de uma vizinha. Perguntei se a gata era dela, ela disse que sim -- "Quer levar?". Conheci a mãe e a irmã da Blanche, nenhuma das duas preta, e que não viveram mais de dois anos depois daquele encontro (animais tinham uma expectativa de vida baixa no meu bairro em Joinville). 
Lembro de levar a Blanche pra casa, e aí de ficar mais de uma hora sentada no chão com o maridão, tentando pensar num nome pra ela, e tentando fazer com que ela e Hamlet se adaptassem um ao outro. Achei que Blanche era um bom nome pra homenagear uma das minhas personagens preferidas, a DuBois de Um Bonde Chamado Desejo, e pela ironia de uma gata preta se chamar Blanche.
Ela não teve uma vida fácil, tadinha. Com pouco mais de um ano, ela pegou uma infecção seríssima no útero, devido aos anticoncepcionais (esta linha não se usa mais justamente por causa desses efeitos colaterais). Foi levada correndo pra clínica e, no meio da cirurgia pra remover o útero, teve duas paradas cardíacas. Marcos, nosso veterinário querido lá em Joinville, a ressuscitou e perguntou o que queríamos fazer -- sem a cirurgia ela iria morrer, mas se continuasse com a cirurgia, os riscos também eram altos. De novo, eu estava viajando (um congresso em Goiânia, acho), mas optamos pelo óbvio, pra seguir com a cirurgia. Blanche sobreviveu, mas ficou um pouquinho manca.
Nada que eu não pudesse piorar. Um tempo depois, passei com o carro por cima dela. Ela de vez em quando dormia embaixo do carro, na garagem, e eu não vi ao sair pra trabalhar. Ela fraturou o fêmur, e ficou tortinha e manca pra sempre (aquele foi outro dia que eu chorei dilúvios). Quando nos despedimos dela pra ir pra Detroit, em 2007, ela ainda subia nas mesas, mas precisava da ajuda de um banquinho. Quando voltamos, um ano depois, já não tinha banquinho que desse jeito. 
Blanche adota um Calvin quase bebê
Mas Blanche era muito ativa, corria, destruía caixas, brincava, miava, mordia, atacava o Calvin. Calvin, meu gatinho amarelo, é um ano e pouco mais novo que ela. Por enquanto, segue se comportando como um adolescente. Exceto hoje. Hoje não teve curiosidade felina que o fizesse descer pra ver o cadáver da gata com quem viveu toda sua vida. Ele se recusou a descer, inclusive horas depois. Ele sabe.
Na escala de afeto, eu era a humana número 3 da Blanche. Ela adotou mesmo a minha mãe, e o Silvio, de vez em quando, era um substituto à altura. Tinha muitas vezes que Blunf me ignorava na cara dura. Mas eu a amava mesmo assim. 
Ela está neste vídeo que eu fiz do meu quarto em Joinville (é o quarto vídeo do post; pode ver os dos esquilinhos antes, se quiser). E está em várias crônicas (esta me fez rir). Adeus, minha princesa de ébano!




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