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Brasil não deve tentar remar contra a maré do câmbio - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 21/08
O real foi a moeda que mais se depreciou este ano, também devido à baixa credibilidade da política econômica. O BC tem de agir sem rédeas contra a inflação
As reações nos mercados financeiros brasileiros têm sido mais extremas do que a média internacional. Não por acaso, depois de liderar, anos atrás, a apreciação frente ao dólar, o real é, em 2013, a moeda que mais se depreciou, superando nos últimos dias até mesmo a rúpia indiana. Além de alguns indicadores apontarem para possíveis tempestades ao longe, há também a perda de credibilidade da política econômica. O Banco Central tenta atenuar o que considera uma volatilidade excessiva no câmbio e nas taxas de juros, não só preocupado com o impacto dessa flutuação sobre os custos e preços domésticos, mas porque essa agitação no mercado torna a economia ainda mais imprevisível, o que pode levar os agentes econômicos, investidores em especial, a dar marcha a ré em projetos essenciais ao futuro do país.
Apesar dessa tendência ao excesso dos mercados, o Brasil conta com o mais adequado mecanismo para se defender dessa turbulência que atinge diferentes moedas. É o câmbio flutuante. Em determinados momentos, o ajuste é inexorável, e remar contra a maré significaria queimar rapidamente bilhões de dólares em reservas, e provavelmente sem resultado. Como as demais moedas também estão se movendo, se o real ficasse paralisado o Brasil certamente perderia mercados conquistados a duras penas, e isso em um momento que a balança comercial tem registrado déficits, aumentando as necessidades de financiamento para que o país feche suas contas externas.
O câmbio flutuante embute o antídoto contra crises externas que no passado provocaram graves turbulências na economia brasileira. O ajuste no câmbio fortalece as exportações e torna o Brasil mais atrativo para visitantes estrangeiros. Em contrapartida, algumas importações devem diminuir e os brasileiros terão de ser mais comedidos em suas viagens internacionais.
Mas, como em economia há sempre os dois lados da ?moeda?, o câmbio depreciado força uma parte das empresas a buscar redução de custos e eficiência, mas também abre espaço para elevação de preços domésticos no caso dos bens e serviços que ficarem menos expostos à concorrência externa.
O Brasil estaria em uma situação mais confortável se não tivesse se afastado dos fundamentos que possibilitaram ao país sair da crise do fim dos anos 1990, e minado a credibilidade da política econômica. Não há hoje margem para absorver choques de oferta ou demanda, pois a inflação tem oscilado sempre junto ao teto da meta oficial. O superávit primário das contas públicas minguou e a política fiscal entrou em descrédito, até mesmo quando se propõe a alcançar um saldo mais reduzido e suficiente para permitir a estabilização da dívida líquida. Restou, então, o câmbio flutuante, que, felizmente, não foi abandonado. O Banco Central deve ter, mais do que nunca, autonomia para agir no que for necessário para acomodar todos esses ajustes, minimizando seus efeitos na inflação.
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