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Câmbio, risco e confiança - HENRIQUE MEIRELLES
FOLHA DE SP - 25/08
Os fatos mais relevantes hoje na economia e nos mercados são a volatilidade cambial e a valorização do dólar diante de várias moedas, incluindo o real. Isso causa a elevação da expectativa de inflação, o que impacta as taxas de juros.
O Banco Central brasileiro vem tomando medidas para conter os exageros possíveis numa crise de liquidez nos mercados cambiais, mas elas não visam controlar o câmbio.
Todo esse processo em curso têm razões externas e internas. Seu catalisador foi o sinal do BC dos EUA de que reduzirá as medidas de estímulo monetário contra a crise. Elas elevaram muito a oferta de dólares, e sua reversão fortalece a moeda americana e redireciona capitais aos EUA.
É importante notar, e isso tem sido pouco enfatizado, que o fluxo em direção ao dólar é consequência da retomada do crescimento americano. Outra mudança relevante nesse rearranjo global é a percepção do risco em várias economias, inclusive a brasileira.
O Brasil vem apresentando deficits crescentes nas contas externas. Caso a tendência dos últimos meses fosse mantida, o deficit poderia ir a 4% do PIB, quase o dobro do que prevaleceu nos últimos anos. Ao mesmo tempo, a confiança de empresários e consumidores no crescimento da economia recua. Tudo isso contribui para a alta do risco Brasil.
Como confiança e risco têm grande peso na decisão de investir, o quadro atual pode reduzir o investimento estrangeiro de longo prazo no país, fundamental ao equilíbrio das contas externas.
É preciso ter em mente que o Brasil não caminha para um cenário de crise como as dos anos 1980 a 2002. Hoje, a dívida pública externa é muito baixa, uma fração das reservas internacionais, e os fundamentos econômicos são superiores.
Há, porém, um ajuste cambial em curso no Brasil, com raízes no crescimento maior dos custos de trabalho, transporte e fiscal em relação aos de nossos competidores. O ritmo do ajuste, contudo, é incerto. Dependerá do ritmo da recuperação americana.
Anteontem, o anúncio do índice mais fraco de venda de casas nos EUA, por exemplo, provocou alta moderada das moedas recém-depreciadas, o que ajudou a amplificar no mercado o anúncio de leilões do BC brasileiro.
Mas a mudança da política monetária americana certamente ocorrerá em algum momento. É um processo que levará o dólar a um patamar mais elevado que o dos últimos anos e que provocará um necessário ajuste das contas brasileiras para padrões de deficit consistentes com nossa capacidade de atração de investimentos de longo prazo.
O que temos, então, não é uma crise à moda antiga, mas um processo de ajuste com consequências importantes para toda a economia.
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