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Brasileiro sem dinheiro - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 08/07
Poupança em aplicações financeiras mais "populares" cai muito em relação a 2013
NA PRIMEIRA METADE deste ano, entrou muito menos dinheiro na caderneta de poupança, um terço do que entrou no primeiro semestre do ano passado. Praticamente não entrou dinheiro novo nos fundos de investimento, menos de 2% da "captação líquida" até junho de 2013 (R$ 1,98 bilhão em 2014 ante R$ 103,6 bilhão do ano passado), o pior resultado pelo menos desde o tumultuado 2002.
Trata-se das duas aplicações financeiras mais "populares", no sentido de mais acessíveis e numerosas. De resto, guardam quase R$ 3,2 trilhões, o equivalente a uns 63% do PIB, da produção anual da economia brasileira.
Obviamente, não se trata de todas as reservas financeiras da população.
Nem mesmo se trata de um termômetro preciso das variações da capacidade de poupar do grosso dos brasileiros, que não tem acesso a outras formas de formar capital, pois gente rica e mesmo fundos de pensão entram e saem de fundos de investimento, assim como investidores "estrangeiros" (não residentes do país).
Fundos de pensão, por exemplo, aproveitaram a alta da taxa de juros para comprar títulos públicos para suas carteiras próprias (emprestar dinheiro para o governo federal).
No entanto, os resultados minúsculos ou reduzidos de fundos de investimento e das cadernetas de poupança são obviamente um indício complementar de que o dinheiro anda mais escasso.
A poupança financeira mais acessível anda captando pouco, o ritmo de crescimento do consumo é de baixa, de desaceleração, a massa de rendimentos de salário nas grandes metrópoles está parando de crescer (em relação ao ano passado).
Há, claro, motivos específicos para o movimento fraquíssimo dos fundos de investimento neste ano.
O tumulto nos mercados financeiros internacionais desde junho de 2013 até o primeiro bimestre deste ano elevaram taxas de juros e derrubaram, pois, o valor das aplicações e o valor de ações, o que deixou muita gente assustada, afora o fato de a turbulência por si só causar temor difuso.
Algumas aplicações com vantagens tributárias, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI) ou Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), além das Letras Financeiras, registraram aumentos em seus estoques, quase certamente, pois, tirando dinheiro dos fundos de investimento.
Não há, decerto, sangria em fundos, poupanças e outras aplicações, mas também o mercado como um todo anda de lado.
No setor "real", para onde quer que se olhe, os sinais são de estagnação, lerdeza ou desaceleração: emprego, renda do trabalho, consumo, crédito de mercado (que parou de crescer).
Os resultados deste meio de ano serão especialmente horríveis, talvez exagerados, pelo acúmulo de mau humor também social e político do início do ano, que prejudicou ainda mais as vendas e a produção, além do efeito Copa, que prejudicou partes do comércio e da produção.
No entanto, mesmo sem estes bodes extras na sala, todos os indícios são de um ano de estagnação, de crescimento de 1% do PIB, equivalente ao da população. Isto é, crescimento zero ou quase isso da renda nacional por cabeça.
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