Geral
Coisa de beiço - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 20/02
Um velho jeito de não lidar com um problema é tentar desclassificar quem o traz à discussão.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, por exemplo, em vez de tentar entender por quais motivos o empresário está descontente com o governo e não se anima a investir, preferiu dizer que "ele faz beicinho".
Não foi muito diferente do que tem feito a presidente Dilma quando afirma que as críticas a seu governo são veiculadas pelos pessimistas de sempre, como se este fosse um problema de mau funcionamento do fígado - ou dos melancólicos, os que produzem bílis negra, como se pensava há alguns séculos.
A falta de confiança dos empresários na política econômica do governo é inegável. Ela não só se manifesta nas pesquisas divulgadas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ou pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Está aí todos os dias nos jornais. Há 11 dias, o empresário Pedro Passos, que falou não em seu nome, mas no do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), advertiu em entrevista ao Estadão que "o empresário perdeu a confiança no governo". O ex-ministro Delfim Netto, interlocutor tanto dos empresários como do governo, repete a mesma coisa. Essa percepção é hoje a principal causa da falta de respostas do investimento privado.
Não é apenas o empresário nacional que está fazendo o beicinho identificado pelo ministro. Os analistas do mercado financeiro internacional todos os dias vêm editando análises de prospectos negativos sobre o comportamento da economia. As projeções de mais de cem instituições e consultorias captadas pela Pesquisa Focus do Banco Central apontam para novas decepções sobre o desempenho da economia.
E já não é apenas gente descolada e leviana que aproveita a má fase para descarregos sobre o governo, "perchè piove, perchè no piove", como diz o italiano reclamão. Há meses, as agências de classificação de risco vêm alertando para a ameaça de rebaixamento da qualidade da dívida brasileira, o que implica percepção de deterioração. Na semana passada, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), em documento oficial encaminhado ao Congresso dos Estados Unidos, advertiu que a economia brasileira é a segunda mais vulnerável às crises internacionais entre os países emergentes. Certa ou errada, é a percepção do Fed, com suas consequências. E, ainda ontem, o Fundo Monetário Internacional, sem excluir o Brasil, avisou que os países emergentes estão vulneráveis.
Mas o povão está feliz da vida, como comprovam as pesquisas de intenção de voto... Será? Afinal, o que desde junho estão dizendo as manifestações, os protestos e os rolezinhos? Estão dizendo que, em vez de reduzir o IPI dos automóveis e subsidiar a gasolina, o governo deveria ter cuidado mais do transporte coletivo, que é ruim e caro. Estão dizendo que tem dinheiro para garantir o padrão Fifa para a Copa do Mundo, mas não tem para a Saúde, para a Educação e para a Segurança.
Não é apenas o empresário. É o Brasil fazendo beicinho.
-
Economia Vulnerável - Celso Ming
O ESTADÃO - 31/07 O governo Dilma passou todos esses meses argumentando que a crise externa é quase a única responsável pelo baixíssimo desempenho da economia; Mas quando o FMI acentua a vulnerabilidade do Brasil à crise externa, o governo não...
-
Cartas De Intenção - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 26/03 Depois de ter sido surpreendido pelo rebaixamento da qualidade da dívida brasileira pela agência de classificação de risco, Standard & Poor's (S&P), o governo Dilma tentou desclassificar a decisão: "É inconsistente...
-
Modelo Esgotado - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 11/02 O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, desqualificou as críticas que o presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Passos, fez à política econômica. Afirmou que estão "contaminadas...
-
Emocional Cambiante - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 23/01 O governo Dilma tem se esforçado por encorajar empresários e formadores de opinião, porque entende que o pessimismo é corrosivo para o crescimento econômico. Mas não tem sido bem-sucedido. Nos dois últimos dias, quatro...
-
Confiança Abalada - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 31/07 Em dois dias, três índices diferentes, medidos por institutos diferentes, apontaram para uma forte redução da confiança no governo por parte do consumidor, da indústria e do comércio. Há duas semanas, a presidente Dilma...
Geral