Coligação democrática - MERVAL PEREIRA
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Coligação democrática - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 06/10

O acordo firmado entre o PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, antecipado no meu blog ontem pela manhã, tem um objetivo claro: oferecer aos eleitores, com o que chamam de coligação democrática , uma opção ao que Marina definiu como oposição pela oposição e situação pela situação , que é nada mais do que a polarização entre PT e PSDB que prevalece nas eleições presidenciais desde 1994.

Como, ao ficar no PSDB, desistindo do sonho de disputar mais uma eleição presidencial, o ex-governador José Serra disse que seu objetivo era ajudar a derrotar o PT, temos uma corrida presidencial em que o partido do governo estará desafiado tanto pela oposição à esquerda , de dentro da base governista, quanto pela oposição oficial.

Os analistas políticos do governo sempre consideraram que a oposição mais perigosa era a de dentro da base governista, o que confere à nova coligação democrática um caráter de principal obstáculo à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

O clima do acordo entre Marina e Eduardo Campos é de rejeição à maneira de fazer política do PT. A ex-senadora saiu do embate pela formação do seu partido, o Rede, com o ânimo de denunciar as manobras governamentais para barrar sua pretensão no TSE, e esse estado de espírito coincide com o de Eduardo Campos, que acusa o PT de ter tentado com golpes baixos tirá-lo da corrida presidencial.

Na madrugada de sexta para sábado, a ex-senadora Marina chegou a fazer um discurso mais contundente para seus aliados, se referindo ao perigo de métodos chavistas de fazer política prevalecerem no Brasil, mas, na entrevista coletiva, não repetiu a classificação, embora não a negasse. Tudo indica que o aviltamento da política a que se refere tenha sido traduzido, no auge da emoção, pela adjetivação mais contundente.

Os dois usaram palavras duras ontem para criticar as tentativas do governo para tirá-los do páreo, embora tenham evitado fazer menção direta à presidente Dilma ou ao governo. Mas as entrelinhas do que não foi dito falam por si, como diria Marina.

Para fazer o que fez, apoiar a candidatura do governador Eduardo Campos à presidência da República, Marina não precisaria se filiar ao PSB. Ela fez isso com dois objetivos: criar um fato político de impacto e estar preparada para assumir a candidatura a vice se as negociações programáticas entre a Rede Sustentabilidade e o PSB chegarem a bom termo.

Com isso afastou também seu maior receio, que era o de ser apontada como uma política tradicional que estava apenas atrás de uma legenda para se candidatar. Colocando o programa adiante dos interesses pessoais, ela julga ter dado uma resposta aos que se preparavam para apontar incoerência em seu comportamento político.

O governador Eduardo Campos teve um ganho político grande com a jogada de mestre deste fim de semana, mas pode vir a ter, mais adiante, muitos problemas para administrar. A começar pelo relacionamento entre os militantes do PSB com os da Rede na organização do programa comum.

Outro problema que pode surgir é a ex-senadora Marina continuar aparecendo nas pesquisas de opinião como potencial candidata, obtendo mais apoio do eleitorado do que ele. Como ele controla a máquina partidária, dificilmente sua postulação será colocada em xeque, mas haverá constrangimento político.

De qualquer maneira, foi uma jogada de mestre de ambos, cada qual reforçando seus interesses imediatos e, sobretudo, reforçando uma imagem de renovação da política que essa aliança heterodoxa simboliza.




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