Colômbia: ainda as Farc - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
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Colômbia: ainda as Farc - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE


CORREIO BRAZILIENSE - 25/05
A eleição presidencial de hoje na Colômbia é dessas ocasiões um tanto raras, nas quais cabe aos vizinhos observar com atenção o desfecho da disputa para além das fronteiras do próprio país que vai às urnas. Embora não caiba a terceiros opinar sobre a escolha, ela determinará o rumo de um processo cujo alcance diz respeito à segurança dos países fronteiriços - caso do Brasil, separado do território colombiano por limites praticamente imaginários, traçados em meio à floresta amazônica.
Não é segredo que a campanha teve como tema dominante as negociações de paz desenvolvidas em Havana, desde o fim de 2012, entre o governo do presidente Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Santos, eleito há quatro anos na esteira do sucesso obtido até então contra a principal guerrilha de inspiração esquerdista no país, luta pelo segundo mandato sob o compromisso de pôr fim a um conflito armado que, coincidentemente, está completando meio século na próxima semana.

A julgar pelas pesquisas de opinião, o presidente deverá enfrentar segundo turno contra o direitista Óscar Iván Zuluaga, que se lançou candidato defendendo o retorno à política de guerra total do antecessor imediato de Santos, Álvaro Uribe. Foi como ministro da Defesa de Uribe que o atual mandatário se credenciou para ocupar a Casa de Nariño, mas a abertura do diálogo com as Farc colocou-o em rota de colisão com o antigo "padrinho". O ex-presidente, eleito em março para o Senado com votação consagradora, tornou-se o grande troféu de Zuluaga, que cresceu na reta final e pode até mesmo sair do primeiro turno à frente de Santos.

Como é recorrente nas eleições colombianas, a campanha foi marcada por incidentes capazes de radicalizar posições e desafiar a maturidade das instituições. Ambos os favoritos para o segundo turno perderam assessores de alto escalão envolvidos em escândalos. No caso do atual presidente, o pivô foram contribuições supostamente recebidas de doadores ligados ao narcotráfico - acusação desmentida, porém fatal para o envolvido. Do lado oposto, a crise teve como epicentro um vídeo no qual o candidato conversa com o suspeito de traficar com informações sigilosas sobre as conversações de Havana, obtidas por escuta clandestina.

Do ponto de vista do Brasil e dos demais vizinhos, o interesse maior é a preservação da legalidade e da estabilidade institucional, valorizadas nos anos recentes pelo notável incremento da segurança pública - fruto dos êxitos obtidos contra as Farc. Ao longo de cinco décadas, o conflito armado colombiano entrelaçou-se a tal ponto com o fenômeno do tráfico de drogas e armas que chegou a produzir "contágio" extraterritorial. Basta lembrar, no caso brasileiro, que foi o Exército colombiano, numa ofensiva contra as Farc, quem capturou na selva o "capo" Fernandinho Beira-Mar.

Os colombianos vão às urnas com as negociações a meio caminho na capital cubana. O governo de Santos e os emissários da guerrilha já fecharam acordo sobre reforma agrária, inserção dos rebeldes na política institucional e combate às drogas. Desde terça-feira até a 0h da próxima quarta, está em vigor um cessar-fogo unilateral das Farc, para facilitar a votação e a apuração. Seja qual for a decisão soberana dos eleitores, é legítimo que os governos sul-americanos convidem o vitorioso a não colocar a perder os resultados já obtidos à mesa, em Havana.




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