|
Obra de Fernando Botero |
Por Emir Sader, na Rede Brasil Atual:Os personagens de García Márquez estão imersos num mundo de guerras civis intermináveis. Eles cruzam toda a história do último século e meio na Colômbia. O ciclo mais recente dessa história data do assassinato do candidato do Partido Liberal à presidência, Jorge Gaitán, em 1948. Sua morte desatou um processo chamado de “Violência”, um brutal movimento de represálias mútuas entre as famílias conservadoras e liberais, com requintes de crueldade poucas vezes vistos no continente.
Foi no seu desdobramento que surgiram as guerrilhas que se denominariam Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (Farc) e protagonizariam, junto com o Exército de Libertação Nacional (ELN), o mais longo processo de guerra de guerrilhas que a América Latina conheceu.
Passando por distintos momentos, em que surgiram os cartéis de drogas de Medellín e de Cali, assim como grupos paramilitares, e várias tentativas de negociações de paz, os conflitos desembocaram no momento atual, em que seu destino está em jogo.
O bipartidarismo político entre conservadores e liberais foi rompido com o surgimento de Álvaro Uribe que, embora originário de um dos partidos, se erigiu em liderança independente, que se propunha a resolver os conflitos pela guerra implacável contra os movimentos guerrilheiros. Entre uma implacável ofensiva militar, erros da guerrilha e isolamento político desta em relação à opinião publica, o governo colombiano assestou golpes muito duros às Farc.
No bojo desse movimento, Uribe chegou a níveis insuperáveis de apoio na opinião pública, passando como o presidente que livrara o país da violência – que ele conseguiu situar como originária da guerrilha. Porém, o Judiciário não o autorizou a concorrer a um novo mandato e ele foi obrigado a propor a candidatura do seu segundo em todo o governo – Juan Manuel Santos.
Considerando que o processo interno estava sob controle, que a Colômbia necessitava, a partir desse momento, de pacificação e de normalizar sua relação com os países vizinhos, Santos deu uma virada inesperada ao seu governo. Propôs negociações de paz com as Farc, ao mesmo tempo em que passava a colocar o acento nas políticas sociais do governo e normalizava as relações com os governos da Venezuela e do Equador.
Parecia que a Colômbia tinha virado essa página tão dura da sua história. As negociações de paz começaram a se dar em Havana, a população aparentemente concordava. Mas Álvaro Uribe não deu trégua. Denunciou Juan Manuel Santos como um traidor, que se rendia às vontades das Farc, que se tornava conivente com tudo o que passava na Venezuela, retomando seu discurso clássico da Guerra Fria.
Nas eleições parlamentares já era possível ver que Uribe não estava morto politicamente, ainda que isolado pelas iniciativas de pacificação de Santos. Mas ele se elegeu para o Senado com alta votação e elegeu também uma bancada de um partido que ele fundou.
No primeiro turno das eleições presidenciais, para surpresa geral, o candidato de Uribe, seu ex-ministro Oscar Zuluaga, chegou em primeiro lugar, na frente de Santos, revelando como o discurso de Uribe ainda tinha eco na população. E como Santos não tinha conseguido convencer suficientemente como a paz é essencial aos colombianos.
As pesquisas prévias ao primeiro turno, que projetavam a virada a favor de Zuluaga, davam também uma vitória sua no segundo turno. A primeira pesquisa depois do primeiro turno dá empate técnico, com um ponto a favor de Santos. As incertezas são grandes porque houve 60% de abstenção. Há uma tradição longa de abstenção na Colômbia, advinda do pacto que fizeram os partidos Liberal e Conservador depois do período de violência. Mas não se esperava que, quando o tema da paz e da guerra está no centro das decisões, tanta gente deixasse de votar.
Os alinhamentos dos outros candidatos vão se dando, favorecendo em princípio Santos, mas nada que garanta seu favoritismo. Zuluaga, que na noite do primeiro turno disse que “não era possível que as Farc, desde Havana, dirigissem o país”, agora já modera suas palavras, aceitando negociações em certos termos, para agradar o Partido Conservador, que chegou em segundo lugar. Não fosse assim, no caso de uma vitória de Zuluaga no dia 15 de junho, as negociações de paz seriam suspensas no próprio dia da sua posse, 7 de agosto, podendo-se esperar uma retomada imediata da espiral de violência entre o Exército e a guerrilha.
No dia 15 de junho, a Colômbia volta às urnas, para decidir entre a guerra e a paz.
GAZETA DO POVO - PR - 19/06 Colombianos reelegeram o presidente que iniciou conversações com as Farc, mas ele precisa considerar que quase metade do país preferiu o candidato defensor da via militar contra a guerrilha O segundo turno da eleição...
CORREIO BRAZILIENSE - 25/05A eleição presidencial de hoje na Colômbia é dessas ocasiões um tanto raras, nas quais cabe aos vizinhos observar com atenção o desfecho da disputa para além das fronteiras do próprio país que vai às urnas. Embora...
FOLHA DE SP - 21/11 Nas últimas semanas, os colombianos receberam sinais opostos sobre as negociações entre o governo de Juan Manuel Santos e a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para encerrar o conflito armado que já...
http://areitoimagen.blogspot.com.br/Editorial do site Vermelho: O presidente colombiano Juan Manuel Santos, reeleito neste domingo (15) para mais um mandato de quatro anos como chefe de Estado e governo, não é um político de esquerda. Foi ministro...
Por Altamiro Borges A Justiça Eleitoral da Colômbia anunciou na noite deste domingo (15) a reeleição do presidente Juan Manuel Santos. Com 99% das urnas apuradas, ele somava 50,8% dos votos (7.605.424) contra 45,9% (6.757.628) de Óscar Zuluaga. Este...