Copa: Missão (quase) impossível
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Copa: Missão (quase) impossível


Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Pela lógica, o Brasil passar pela Alemanha deveria ser quase impossível. Apesar da brilhante vitória contra a Colômbia – que calou a boca de uma legião de críticos cegos ou mal-intencionados –, a equipe de Felipão é inexperiente em Copas do Mundo e não contará com o astro Neymar, que participou de metade das jogadas que resultaram em gols.

Como se fosse pouco, provavelmente a Seleção ainda enfrentará outra arbitragem acovardada que irá prejudicá-la como fez em quatro dos cinco jogos da Copa de 2014. E, para completar o grau de dificuldade dessa missão quase impossível, ainda passará os próximos dias sendo triturada por uma mídia que enfiou na cabeça que Dilma só será reeleita se o Brasil for campeão.

O desfalque de Thiago Silva pode ser um problema menor. Apesar de sua boa atuação contra a Colômbia e da dita liderança que exerce no time – que fez dele capitão –, não se pode esquecer do descontrole emocional que demonstrou no jogo contra o Chile e que, em outro momento de grande tensão, poderia ressurgir.

Ainda assim, Thiago era parte do esquema que Felipão montou. Esquema que terá que ser totalmente redesenhado.

Contudo, esses garotos têm sido brilhantes, na opinião deste blog. Não é pouco o que enfrentaram até aqui, para chegar aonde chegaram. A começar pelos protestos contra a Copa. Ninguém com um mínimo de bom senso pode acreditar que os protestos não afetaram o emocional de uma equipe tão jovem e, até menos de um mês atrás, praticamente virgem em uma competição desse calibre. Muito pelo contrário.

Os protestos contra a Copa intimidaram a torcida. Pela primeira vez, o Brasil entrava numa Copa sem entusiasmo do país, sem ruas e carros enfeitados. Os garotos de Felipão sabiam que corriam o risco de, jogando em casa, serem vaiados nos estádios.

O desequilíbrio emocional da Seleção era tanto que começou o jogo contra a Croácia sofrendo um desastre inédito em sua história: marcou um gol contra.

Nessa situação de adversidade extrema, a Seleção virou o primeiro jogo da Copa. E, apesar das acusações ao juiz por ter marcado um pênalti supostamente inexistente, venceu por dois gols de diferença. Ou seja: mesmo sem esse gol dito ilegítimo, teria vencido.

Chega o jogo contra o México. A Seleção passara dias sendo desqualificada pela mídia, que tecia loas aos adversários. Devido ao lance duvidoso do pênalti contra Fred no jogo anterior, espalha-se a teoria maluca de que o governo Dilma Rousseff “comprara” a Copa, ou seja, de que subornara a Fifa e todos os seus juízes.

Assim, apesar de o Brasil ter pressionado muito o México, o emocional fragilizado da equipe a deixou apática. Neymar começa a ser caçado em campo e a arbitragem não marca mais nada a favor do Brasil.

Isso sem contar a torcida apática que a Seleção teve naquele jogo, apesar de jogar em casa.

Contra Camarões, a equipe voltou renovada. Jogou bem, goleou. A arbitragem melhora. O Brasil cresce na competição, mas a mídia não perdoa. Uma seleção com um histórico tão positivo em Copas do Mundo quanto é Camarões, na mídia virou um time de várzea. A vitória do Brasil sobre esse adversário foi tratada com frieza, apesar de esta estar sendo a Copa do nivelamento das equipes.

Contra o Chile, adversário de valor que quase parou a forte Holanda, o Brasil jogou bem. Criou as maiores oportunidades de gol. Mesmo assim, empatou no jogo e só venceu nos pênaltis por conta da teoria da “Copa comprada”, que fez o juiz inglês Howard Webb não apitar nada a seu favor e ainda anular um gol que muitos entenderam legítimo.

Apesar do choque emocional de ir para os pênaltis por ação da arbitragem, a jovem Seleção brasileira se superou de novo graças a um goleiro que teria tudo para fracassar devido ao estigma que carregava desde a Copa anterior. E, claro, aos cobradores de pênalti brasileiros, que superaram os adversários também nesse quesito.

Do jogo contra o Chile para o último, a Seleção deu uma aula aos críticos. Apesar de a mídia brasileira ter passado a semana desqualificando-a, debochando de seu “descontrole” e enchendo a bola colombiana, jogou muito. Só não ganhou por placar mais elástico devido ao segundo cartão amarelo de Thiago Silva e à agressão criminosa a Neymar, que fragilizou o esquema de jogo de Felipão.

A má vontade e a falta de caráter dos críticos, porém, não conhece limites. A mídia relativiza a brilhante vitória contra a Colômbia destacando que os dois gols brasileiros foram feitos por zagueiros, como que dizendo que quem tem que fazer gols são atacantes.

Muito pelo contrário. O desempenho da Seleção no último jogo foi ainda mais animador e insinua que vencer a Alemanha, apesar de todas as dificuldades, pode não ser tão “impossível”.

Explico: apesar da grande participação de Neymar nas jogadas que resultaram em gols na competição e dos quatro gols que ele marcou, no jogo contra a Colômbia foi anulado pelas pauladas. A equipe se virou sem ele, que teve atuação apagada devido ao técnico colombiano ter engendrado um esquema (violento) para anulá-lo.

No último jogo, a Seleção provou que pode vencer mesmo sem Neymar estar bem em campo. O que se imagina, portanto, é que possa vencer sem que ele sequer esteja em campo.

Lembremo-nos de que, para craques poderem explorar melhor seu potencial, os técnicos colocam as equipes a seu serviço. O craque da equipe recebe mais bolas, tem o meio de campo trabalhando para acioná-lo. A Alemanha, pois, não terá um alvo fixo como Neymar. Isso pode ser uma vantagem.

Mas a grande aposta que se faz na Seleção é nessa garra incrível que tem demonstrado. Com certeza a equipe está mais unida do que nunca e, agora, terá a vantagem de entrar em campo como azarão. As baixas que sofreu tiram boa parte da responsabilidade de seus ombros.

Um colunista da grande mídia, aliás, diz até que “Agora o Brasil terá desculpa para perder da Alemanha”. Essa é a mídia que temos. Não é nem mais vira-lata, é apátrida. Mas pode quebrar a cara ainda mais, após ter se desmoralizado pelas previsões catastrofistas sobre a organização da Copa. A marca dessa equipe é a superação.




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