CRÍTICA: 21 GRAMAS / O peso da alma sobre as minhas costas
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CRÍTICA: 21 GRAMAS / O peso da alma sobre as minhas costas


Recomendo que você veja “21 Gramas”, mas também recomendo que você não se locomova a outra cidade pra fazer isso, como eu fiz. Tive de ir até Blumenau pra assistir e, sinceramente, dirigir à noite, com chuva, após ver um filme sobre acidente de carro, não é exatamente um programão. Bom, o título não se refere às drogas, apesar de uma das personagens consumi-las em doses homéricas. Parece que esses gramas (que horror, grama é masculino!) são o que a gente perde no momento exato da morte. Na realidade, fiquei feliz em saber disso, já que significa que algum dia na vida eu vou conseguir emagrecer. Mas é tão pouquinho... Será que a alma pesa só isso? Tomara que a minha alma, que é modelo extra G, represente no mínimo 20% do meu peso.

Tem muito crítico por aí dizendo que “21 Gramas” é o melhor filme de 2003, e é certeza absoluta que o dramalhão será lembrado em algumas categorias do Oscar. Eu gostei, embora estivesse mais preocupada em descobrir se grama é masculino ou feminino, e se a gente diz vinte e um ou vinte e uma. É o segundo filme do mexicano Alejandro Iñárritu, responsável pelo maravilhoso “Amores Brutos” – é óbvio que o sujeito sabe o que faz. Mas convenhamos que “21” não é nenhum “Amores”, não tem a mesma força. Não dá pra contar a história sem revelar alguma surpresa, então direi apenas que a trama em si me lembrou muito o “Dívida de Sangue”, do Clint Eastwood. São três personagens auto-destrutivos unidos por um acidente de carro, só isso. O filme mais parece um quebra-cabeças, onde a gente deve colocar as partes no lugar. No início os cortes irritam, eu logicamente senti o peso da alma sobre as minhas costas, pois detesto filme que demora pra começar. Mas depois a edição melhora, fica menos picotada, e a gente pode sacar o que está acontecendo. O próprio Iñárritu admitiu que fez o filme assim porque, de forma linear, a história seria banal demais. Mas não precisava embaralhar tanto na partida, né?

A melhor cena, pra mim, acontece quando um jardineiro não enxerga, mas OUVE o terrível acidente. Como o desastre automobilístico de “Amores” é um dos piores da história do cinema, a gente fica imaginando como o Iñárritu irá superá-lo em “21”. Mas tudo bem, isso não é tão importante. No fundo, talvez eu tivesse gostado ainda mais do filme se ele fosse mais emotivo, tipo “Fale com Ela”, do Almodóvar. “Faça um 21” é estranho porque, mesmo contendo inúmeros elementos melodramáticos – transplantes cardíacos, morte de crianças, inseminação artificial etc –, ele não é feito pra provocar lágrimas. Eu, que sou o maior trapinho humano da paróquia, não chorei nadinha. E olha que o elenco espetacular chora bastante, deveria haver aí uma empatia. O trio de atores é de sonho: Sean Penn, cotadíssimo pro Oscar, só não sabemos ainda se por sua atuação aqui ou por “Sobre Meninos e Lobos” (provavelmente a última); Benicio Del Toro, só não tão cotadíssimo pro Oscar porque acabou de ganhar um por “Traffic”; e Naomi Watts, a loirinha que despontou em “Cidade dos Sonhos”, do David Lynch, mas que aposto que o grande público só conhece por “O Chamado”. Todos perfeitos. Então fica a dica: veja “21 Gramas”, mas não dirija depois. Não diga que eu não avisei.





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