CRÍTICA: BABEL / Galinha, a vítima da globalização
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CRÍTICA: BABEL / Galinha, a vítima da globalização


O maior atrativo de “Babel” é saber quantas estatuetas vai ganhar, dentre as sete indicações que recebeu ao Oscar. É imprevisível, mas no meu bolão eu aposto que “Babel” não leva nadinha. Posso estar enganada, e aí, babau. A verdade é que o drama me decepcionou. Esperava mais do Iñárritu, que já fez o excelente “Amores Brutos” e o bom “21 Gramas”. Lógico que “Babel” tá longe de ser ruim, mas falta-lhe contundência, uma amarração melhor. Todas aquelas cenas estabelecendo locação me irritaram um pouco, por serem desnecessárias. Eu já tinha entendido que a ação se passa em quatro lugares diferentes. Não preciso ver montanhas e ovelhinhas toda santa vez pra saber que estou no Marrocos.

A história é mais ou menos assim: o Brad Pitt e a Cate Blanchett passeiam por uma terra exótica quando seu ônibus é atingido por uma bala perdida. Os EUA declaram de cara que só pode ter sido um atentado terrorista. Ao mesmo tempo, uma adolescente surda-muda sofre no Japão, e uma imigrante mexicana nos EUA faz de tudo pra ir ao casamento do seu filho. Pois é, pra ser sincera, não sei o que me escandalizou mais: o atentado contra a turista americana ou contra a galinha mexicana.

Não entendi aonde o filme quer chegar. O trailer sugeria algo sobre as pessoas não compreenderem umas às outras num mundo em que se falam tantas línguas. Tá, mas cadê o problema de comunicação na trama? No Marrocos o guia do Brad fala inglês muito bem. A japonesa tem um pouco de dificuldade por ser surda-muda, mas ela consegue se expressar. Ah, pode ser a falta de comunicação entre pessoas que falam a mesma língua? Tipo a japonesa que não fala com seu pai, ou o Brad que não dá nem “oi” pra Cate antes d’ela ser baleada? Ah, tá... O Brad também não fala comigo, e nem por isso eu me revolto contra a humanidade e sou tão mal-humorada quanto a Cate. Ou talvez a mensagem seja que estamos todos conectados neste mundo globalizado, e o que fazemos afeta os outros, numa espécie de “Borbolate Effect”, como diz o maridão. Ou seja, uma besteira de um japonês vai repercutir no Marrocos e nos EUA, apesar de eu não compreender como tudo isso tá relacionado com a galinha mexicana. Sei lá, eu gostaria de me sentir mais conectada com o Brad, de preferência sem barba.

Ele está bem, assim como todo o elenco, mas nada de especial. Será que a japonesa (Rinko Kikuchi) foi indicada ao Oscar de coadjuvante só porque topou ficar nua? Posar sem calcinha depois da Sharon Stone exige coragem mesmo, porque a cena já foi pra lá de parodiada. Não, tô sendo injusta, claro que a Rinko tá ótima (a imagem mais bonita do filme é ela num balanço), mas me cansou ver a garota fazer besteira atrás de besteira, levantando a saia pra toda a população masculina do Japão, enquanto fatos mais importantes acontecem no terceiro mundo - uma galinha perde a cabeça, só pra citar um exemplo. Bom, o grande mistério é por que o Gael García Bernal aceitou um papel tão inútil e sem atrativos, desses que poderiam ser feitos por qualquer um. Só pode ser por gratidão ao Iñárritu. E a imigrante mexicana (Adriana Barraza) tá comovente, mas sua explicação ao menino de que ela não é má, só fez uma coisa estúpida, pode ser usada pelo Bush no Iraque.

O roteiro é esquisito e exagera demais nas tragédias e coincidências. Tô pra ver família americana passar por tamanho inferno astral: bebê morre, pais de mal, filhos correm risco de vida, e o pior de tudo, a família perde a babá. A zica não é só deles, mas da família japonesa também (mãe se mata, pai é procurado pela polícia, filha na maior confusão). E o que dizer dos marroquinos? (filhos atiram numa americana, irmã se exibe nua, família se envolve em tiroteio com polícia). É muita desgraça pra tão pouco tempo. Pense só, se os garotos atirassem na galinha, ninguém ia fazer um filme sobre isso. Sei o que você tá pensando: que se eu mencionar a galinha mais uma vez, pára de ler o texto.

Então vou dizer que acho horrível que armas existam e odeio o estrago que elas causam. Quero que elas morram. Mas na realidade dá pra causar o mal com menos. Quando os garotos atiram no ônibus, só de brincadeira, só pra ver se a bala atinge os prometidos três quilômetros, pensei em guris que jogam pedrinhas num carro em movimento. Lembrei de “Não Matarás”, em que um demente, em cima de uma ponte, solta uma pedra num carro que passa. O que dói é a inevitabilidade disso tudo. Se o ônibus passasse um segundo mais tarde, não seria a Cate a atingida.

Enfim, falta algo à “Babel”. Não creio que a gente tem que ter tudo mastigadinho, mas a menina japonesa escreve um tratado pro policial, e a gente não sabe qual foi o recado. Nesse caso, sim, seria fundamental saber o que ela disse. Talvez eu não agüente mais ver filme passado no Japão em que a mensagem da moça continue secreta. Deve ser Síndrome de “Encontros e Desencontros”. De todo modo, como observa uma crítica, “Babel” sugere que os americanos devem ficar em casa e tratar melhor suas babás. Tá legal, mas isso não salvaria a galinha, salvaria?





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