CRÍTICA: A DONA DA HISTÓRIA / A bomba da história
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CRÍTICA: A DONA DA HISTÓRIA / A bomba da história


Não sei se me atrevo a afirmar que “A Dona da História” é a bomba da história em termos de cinema nacional. Quando saí da sessão o gerente me perguntou: “Pior que ‘Deus é Brasileiro’?” Realmente, tá pau a pau. Mas deixando de lado essas honrarias de ser O Pior Filme em maiúsculas, “Dona” é fraquérrimo. E eles querem que esse troço seja uma das maiores bilheterias do ano! Olha, Deus queira que eu esteja errada, mas esse longa é ruim demais pra levantar vôo. Tomara que faça um dinheirão, eu quero mais é que a Globo fique rica. Mas como vai ser, propaganda boca a boca? Não consigo imaginar uma só alma em sã consciência recomendando essa coisa pra alguém.

Bom, justiça seja feita, a peça de João Falcão que inspirou “Dona” fez 150 mil espectadores. Eu não fui uma dessas. E teatro é teatro, cinema é cinema, mas a trama parece assim tão batida... Afinal, essa historinha de uma pessoa filosofar como poderia ter sido sua vida se não tivesse se casado, ou se virasse atriz, já foi vista muitas vezes antes. Aqui a Marieta Severo faz a personagem aos 50, e a Débora Falabella aos 18 (com ecos do ótimo “Lisbela e o Prisioneiro”, sem o charme do sotaque nordestino, sem o Selton Mello), tendo o Antonio Fagundes e o Rodrigo Santoro como par romântico, respectivamente. Todas as versões da vida dessa pobre mulher são um lixo. Aliás, é puro machismo achar que não dá pra virar atriz E se casar com o gostosão, que tem que ser um ou outro. E será que “Dona” gera suspense pra descobrir qual história vai vingar? Pensa só, tendo o Fagundes como galã, a protagonista vai terminar sozinha ou com outro? Acho que não, né?

Todos os personagens são insuportáveis e a gente não se identifica com nenhum, o que prova que não basta ser lugar-comum pra gente se colocar no papel. Mas digamos que ficamos com pena do Fagundes, que tem que agüentar uma senhora tão chata como a Marieta, que desde a sua época de Débora já era fútil. O Fagundes, quando era interpretado pelo Rodrigo, queria ser comunista. Como que a gente sabe? Ué, porque ele canta “Guantanamera” e sonha em ir pra Cuba, mais clichê impossível. Débora e Rodrigo se conhecem numa passeata contra a ditadura em 68, mas o filme é tão alienado que eles podiam ter se encontrado num shopping. Acho que a idéia dos pombinhos se apaixonarem durante um movimento social é pra criar identificação. Porque o amor é lindo e é lindo isso dos jovens serem idealistas. E idealista é sempre de esquerda. Não existe idealista de direita. Ou melhor, talvez exista – é aquele um que acredita que se “vencer na vida” (ou seja, ficar rico) tá tudo bem, e dane-se o resto. Mas o que o filme transmite é que todo e qualquer idealista vai virar um conformado tipo o Fagundes, que o tempo passa, e agora não dá mais pra mudar o mundo. É dureza. E se eu fosse algum herdeiro do Teatro de Arena eu processava o diretor Daniel Filho pela total banalização de um marco histórico.

Não entendi se “Rainha da Sucata” é comédia, drama, filme-cabeça, negócio filosófico... É pra quem acha um programão ir ao cinema ver briga conjugal. Ou praquela tribo que acha o máximo cinema brasileiro exibir conflitos de classe média, na linha “Pobres? Eca! Isso denigre a imagem do Brasil no exterior”. Ai meu Senhor... Chega uma hora em que a Marieta diz pra Débora: “Bobinha... A vida não é como um filme. Num filme eles cortam as partes chatas e só mostram as legais”. Bem, nem sempre, nem sempre.





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