Não. O drama não se cansa de mostrar tudo aquilo que a gente já conhece. E reduz o passado de dois revolucionários, Olga e Prestes, à uma mera história de amor que podia ser sobre qualquer casal. Até a minha história de amor com o maridão daria uma trama singela. Qual a vantagem de contar a trajetória de um casal de guerreiros e deixar de lado a política? O belo "Diários de Motocicleta" não nos fazia pegar em armas, mas causava uma certa nostalgia. Embora a gente não saísse do cinema querendo fazer uma revolução, a gente no mínimo saía com saudade do Che, e com tesão de ver a América Latina unida. A gente sai de "Olga" achando o quê? Ah, que o amor é lindo. E que o nazismo é mau. Eu sabia disso desde "Caçadores da Arca Perdida".
O filme comete todos os clichês pequeno-burgueses (se é que esse termo ainda vale) pra falar de uma revolucionária. Mostra um pedacinho do treinamento militar da durona Olga, antes que ela conheça Prestes, caia de amores por ele, e decida que o valor mais importante do mundo é, no fundo, a maternidade. O Vaticano ia aprovar. E tirando o sacrifício físico da Camila Morgado (perder alguns quilos, raspar a cabeça), a atriz não tá grande coisa. Ela mantém o mesmo tom de voz de discurso, ora se dirigindo a um amigo ou a um auditório lotado. Claro que, comparada à atuação da Fernanda Montenegro, a Camila merece um Oscar. Nunca pensei que algum dia eu ia desmerecer a Fernanda, mas eis a única novidade que o filme nos proporciona. Nossa grande atriz tá perdidaça na história. Dá pra notar que o roteiro aumentou o papel da mãe de Prestes pra que a Fernanda tivesse algo que fazer. Mas isso ao custo d'ela ter que ler cartas melosas pra uma menininha, ó santo Deus. Quem se sai melhor é Caco Ciocler, que faz Prestes. Fora um ou outro olhar babão que ele lança a Olga, ele ao menos cria um personagem interessante. Não sei se ele se parece com o Prestes, mas tá a cara do Ralph Fiennes.
Alguns espectadores que amaram "Olga" andam dizendo que ele é tão maravilhoso em termos de fotografia, som e cenários que... nem parece filme brasileiro. Eu não posso compartilhar de um argumento preconceituoso desses porque, afinal, acho que o cinema nacional tá indo muito bem, obrigado, inclusive na técnica. E "Olga" é o filme mais caro já produzido por aqui (8 milhões de reais, assim, uma porcentagem do que recebe o empresário do Tom Cruise), a gente espera que ele esteja no mínimo bem-feito. Mas a gente também espera mais. Pô, eu que choro em documentário sobre vida de tigrinho nem me emocionei com o filme. Houve um só momento em que verti duas ou três discretas lágrimas. Mas também, nessa hora surge uma mulher em close gritando em câmera lenta, enquanto a música enche a sala e os malditos nazistas lhe tiram o bebê. Só chorando mesmo.
Espero sinceramente que uma multidão lote os cinemas pra ver "Olga", ainda mais agora em que se discute o meio século da morte de Getúlio. Nem que seja pra essa multidão sair falando "Olha só! Os comunistas também amam!" e "Uau! Filme brasileiro pode ter padrão americano!". E como pode... Aliás, é só reparar na confusão de línguas ouvidas no filme. A Olga passa pela Rússia e Alemanha, mas todo mundo fala português. Isso é ou não é tipicamente americano, onde até os marcianos falam inglês fluente?