CRÍTICA: ÁGUA NEGRA / Não chove nem molha
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CRÍTICA: ÁGUA NEGRA / Não chove nem molha


Eu esperava mais de “Água Negra”, primeira encomenda do Walter Salles em Hollywood. Sou fãzona do diretor, adorei “Central do Brasil” e “Diários de Motocicleta”, e, bem, gostei de “Abril Despedaçado”. O problema é que, tirando comédia romântica (na minha modesta opinião, o gênero mais desgastado do cinema atual), o gênero que menos possibilita invenções é o terror. A gente encara um filme de terror querendo sentir medo. E, se a gente encontra um melodrama de suspense, caso de “Água”, se decepciona. A menos que alguém veja um filme de terror pra chorar. Outro problema é que você pega um diretor conceituado, uma atriz conceituada (Jennifer Connelly, Oscar por “Mente Brilhante”), e inclusive um elenco coadjuvante conceituado, e você sabe que essa equipe não vai brindar o público com sustinhos trash. Vai ser algo mais artístico. Aí, o que acontece? Nada. Chega nas platéias-teste, que mostram que o filme não vai vender, os produtores americanos resgatam o produto, colocam um final arrepiante, no pior sentido, deturpam seja lá o quê o Walter queria fazer, lançam o troço, o terror vai mal na bilheteria, e o pessoal faz coro: “Terror não é a praia do Waltinho”.

Talvez eu que não agüente mais refilmagens de terror japonês onde perigosas menininhas cabeludas optam entre mães boazinhas e mães hediondas. Aqui a Jennifer, que já tem um péssimo histórico com a mãe, procura ser carinhosa com a filhinha. Mas é difícil, porque a Jennifer é uma moça tão bonita quanto complicada. E sua filhinha não fica atrás. Basta ver um vazamento no teto pra ela imediatamente concluir: “Natasha, minha melhor amiga!”. Por que as crianças insistem em ter amiguinhos imaginários, geralmente mortos, que querem levá-las pra brincar pra sempre numa outra vida? Essas coisas me fazem ficar feliz por não ter filhos. Também deixei a sessão radiante por não morar em Nova York, onde um aluguel não sai por menos de 900 dólares.

No início “Água” traz um clima bem opressivo e misterioso que lembra “Repulsa ao Sexo”, uma das obras-primas do Polanski. Eu tava quase na beiradinha da cadeira até a metade do filme. Mas aí a situação desanda quando entram em cena os tais fantasminhas cabeludos. Se fosse só psicológico, se fosse tudo imaginação da Jennifer, o negócio andaria melhor. E se houvesse a sugestão de que a Jennifer pudesse machucar a filha, também. Mas do jeito que vai, só não se desaponta com o filme quem estiver aguardando a água negra do título. Isso tem de monte. Chove tanto nesta Nova York quanto na Los Angeles de “Blade Runner”. Há vezes que um diretor não consegue filmar porque o tempo tá ruim. Aqui a chuva é tanta que a gente supõe que, quando não chovia, o Walter tenha dito: “Droga! Olha o sol! Não vai dar pra filmar hoje!”.

Mas gostei das tomadas em que as personagens são observadas pelo buraco no teto. E gostei principalmente dos coadjuvantes: tem o John C. Reilly (“Chicago”, “Boogie Nights”), o Pete Postlethwaite (“Os Suspeitos”), e o Tim Roth (“Cães de Aluguel”, eu nem reconheci), como um advogado que parece morar no carro. No fundo, quando “Água” deixa claro que não é terror, eu fiquei torcendo pra que a Jennifer se unisse a algum deles. Porque, sinceramente, se existe uma mulher que precisa de um homem, é ela. Afinal, combater plufts cabeludos é bico – quero ver é quem vai consertar o vazamento no teto.





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