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CRÍTICA: BRUXA DE BLAIR 2 / A bruxa está solta
Vencendo todos os meus medos, fui assistir à "Bruxa de Blair 2". Culpa da Framboesa de Ouro, que indicou o filme para uma penca de estatuetas. Estou numa fase ingrata da minha vida: ando vendo apenas bombas. São aquelas películas tenebrosas das quais fugi como o diabo foge da cruz e que, de repente, por causa das Framboesas (Razzies), estou sendo forçada a decidir se elas são tão, mas tão péssimas assim.
"A Bruxa 2" não é. Antes de mais nada, devo lembrar que os Razzies detestaram "A Bruxa" original. Não estou entre aqueles que apelidaram o filme de "A Bruxa de Blargh". Gostei do primeiro, apesar de não haver entendido o final e ter tido de passar pela suprema humilhação de meus alunos teens o explicarem pra mim. Obviamente, o número um não entrará para a história como um marco cinematográfico, e sim como um filminho barato que faturou milhões e provou que a Internet é um terreno fértil em nerds seduzidos por propaganda.
Este segundo exemplar satiriza bastante o sucesso do anterior. Tanto que mostra um grupelho de cinco jovens que voltam ao desolado local para tentar descobrir o que teria acontecido com aqueles três pioneiros da babaquice, que desapareceram misteriosamente. O bosque agora atrai até turista estrangeiro. Sempre há espaço para o turismo mórbido, do tipo "foi aqui que não-sei-quem foi decapitado". Aí fica a pergunta: você se juntaria a uma excursão com essas figurinhas? Parece até o "Clube dos Cinco" do horror: tem o intelectual (é uma obra de ficção, lembre-se), sua namorada tão certinha quanto grávida, o delinqüente tecnológico, a bonitinha que se acha bruxa, e a gótica (isso existe ainda? Pensei que tinha sido um pesadelo dos anos 80). Cinco perdidos numa noite suja.
E basta jogar jovens sozinhos no mato para se fazer um filme de terror? Depende. O problema de "Bruxa 2" – que carrega o enigmático subtítulo de "Livro das Sombras" (livro? O que é isso, perguntariam alguns adolescentes) – é que ele não assusta. Quando assisti, o cinema estava lotado de almas juvenis apáticas. Não ouvi gritos, nem uivos, nem risinhos. Só teve um que berrou "aborrecente!". Então ficamos assim: teen dá medo, o filme não.
E por que não? Porque ele usa recursos meio antigos e ingênuos, como focalizar um sujeito de costas que não se mexe. Qualquer pedro-bó sabe que, quando o cara ficar de frente, algo de terrível terá acontecido a ele. A galeria do previsível prossegue com truques como intercalar imagens "verdadeiras" com as imaginadas pelos personagens. Depois de um tempo, você começa a bocejar, crente de que a quase-vítima sairá do transe são e salva. O sangue aparece de vez em quando, sem nenhum sentido, pra nos recordar que esta é uma produção de terror.
Aberração mesmo, só o xerife. Seguindo a linha do "cinema-verité", este personagem leva a cara de seu ator. O elemento está tão natural no papel e despeja suas falas de maneira tão despretensiosa que dá a impressão de ele ser um xerife de carne e osso e barriga e narigão. Inclusive, minha cena preferida é com ele. O homem da lei usa seu celular para dialogar com um suspeito. Pede pra que ele ligue a TV para assistir à cobertura do crime. O xerife aparece na tela em segundo plano, dá um alôzinho pra câmera e pergunta: "você está me vendo? Eu estou na TV".
Certo, foi mais risível que necessariamente aterrorizante, mas isso é entretenimento. Horror de fato eu só constatei nas legendas. A tradutora provou não ter mais que noções básicas de inglês. Numa parte que alguém diz "they were scared out of their minds" (algo como "eles estavam morrendo de medo"), a moça tacou um "eles estavam com medo das próprias mentes". Entre outras assombrações.
Mas não concordo com as indicações dos Razzies. Outros exemplares do ano 2000 são mais significativos para representar o pior do pior. Sobre "A Bruxa de Blair 2", tirando a história raquítica, as interpretações amadoras e os diálogos ridículos, o filme não é ruim. Só que eu o trocaria por um inocente piquenique no bosque sem pestanejar.
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