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CRÍTICA: CENTRAL DO BRASIL / Central emociona em todas as línguas
Central do Brasil é um grande drama. Conta a história de uma "escrevedora de cartas" - uma mulher que fica na estação anotando mensagens para analfabetos - e seu relacionamento com um menino que deseja encontrar o pai. Não é um filme-arte, não é nem um pouco pesado, não tem saídas fáceis como os hollywoodianos. Existe nele um quê de Chaplin, principalmente de O Garoto. Graças aos céus, o roteiro não tenta mostrar a criança como um ser inocente e idealizado. O menino Josué, belamente interpretado por Vinícius de Oliveira (que o diretor descobriu engraxando sapatos no aeroporto do Rio), está cheio de defeitos e virtudes, como são as crianças reais. Há horas em que ele inspira pena, como também existem momentos em que ele é chato mesmo e nossa vontade é deixá-lo no meio do caminho. Tal qual tenta fazer Dora, a personagem de Fernanda Montenegro. É um prazer ver esta mulher trabalhar. Não há nada de óbvio em sua interpretação, que é repleta de nuances. O prêmio para ela seria mais do que justo. Ninguém em sã consciência discute que Fernanda e Marília Pêra são as duas maiores atrizes brasileiras. Em Central, elas têm poucas cenas em comum, mas no momento em que estão juntas, a tela brilha. Porém, todo o elenco é fabuloso. Preste atenção na atuação de Othon Bastos. Ele conseguiu transformar seu personagem, um simples caminhoneiro, em alguém absurdamente verdadeiro, frágil, enternecedor.
Não que a história não tenha falhas. Tem, mas são poucas, e não são aquelas que vários profissionais vêm apontando. Por exemplo, a cena da execução de um trombadinha nos trilhos do trem (tida como descartável pelos críticos em geral) é totalmente relevante. Mostra o abandono de Josué, o menino protagonista, a sua fragilidade, e também do que é capaz o personagem de Otávio Augusto. Os defeitos do filme são meros detalhes, como quebra de ritmo em algumas rápidas partes. Nada que comprometa.
Central do Brasil tampouco glamouriza a miséria. Ela existe, apesar do neoliberalismo vigente enfaticamente negar, e como tal é mostrada, mas sem cair naquela armadilha do "é pobre, logo é lindo e feliz". Há pouquíssimas cenas de felicidade no filme. Apesar disso, Central é como uma fábula, onde se sai extasiado e aliviado da sala de exibição, contendo algumas lágrimas, enxugando outras. Não se emocionar é tarefa árdua.
Ao assisti-lo, esqueça que é uma produção brasileira, assim como os americanos tentaram fazer, eliminando o país de origem do título. Em inglês é só Central Station. Concentre-se apenas no fato de ser um belo filme, daqueles que você precisa ver para crer. Central seria comovente em qualquer língua.
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