O mais interessante de “Cloverfield – Monstro” foi ver o filme-catástrofe da vez logo depois de passear por Nova York, mas desconfio que não é todo mundo que pode ter esse prazer. Lá estava eu (e o maridão) no meio de Times Square, procurando o bueiro de onde a Amy Adams saiu em “Encantada”, e vejo um imenso cartaz da Estátua da Liberdade sem cabeça. É fascinante como americano adora destruir “the city so nice it was named twice” (ouvi isso recentemente: “a cidade tão legal que recebeu dois nomes”, porque é New York cidade, em New York estado). Até entendo que terroristas muçulmanos adorem acabar com a cidade, mas americano?! E tudo bem que desde os primórdios do “King Kong” de 1933 dessem trela pra essa fantasia coletiva, mas continuar depois de 11 de setembro parece estranho. Voltando à Estátua da Liberdade, ela não é apenas símbolo de NY, e sim de toda a América, quiçá do mundo. Se você mora em SC sabe que a loja de departamentos Havan, “a Casa Branca brasileira”, fez uma réplica (menor) da Estátua. Já contei que uma vez eu estava no ônibus em Floripa, e passamos em frente à estátua da Havan, e uma mulher fez o sinal da cruz? Tá vendo como é simbólico?
O maridão tirou algumas fotos da estátua legítima, a que fica em NY (ver fotos tremidas). Espero que dê pra reconhecê-la. Não sei se você sacou a semelhança, mas é como se o maridão tivesse filmado “Cloverfield”. Se dessem pra ele uma câmera hiper duper, dessas de “Cloverfield”, com bateria inesgotável e que não quebra nem que um monstrengo a mastigue, o maridão sem dúvida faria um filme-catástrofe. Ele e o cara que segura a câmera no filme têm esse mesmo talento pra coisa. Tanto que, durante a sessão, eu só podia pensar: matem o cameraman, por favor!
Mas quando chega no ponto de ter um monstro por perto pra usar o cameraman pra palitar os dentes, aleluia! Acho que há pelo menos meia hora de enrolação, ou seja, de apresentar personagens que não têm a menor importância (ou alguém na platéia pagou ingresso pra ver atores desconhecidos, e não o monstro ou NY em ruínas? Quer dizer, tirando as mães dos atores desconhecidos?). Virei pro maridão e disse: “Pô, o filme demora pra começar, hein?”. Ele não respondeu porque tava dormindo. Perdi a paciência quando o cameraman espalha pros convidados da festa que dois adultos heteros, independentes e solteiros transaram, e todo mundo diz “Ohhh! Não posso acreditar! Sério mesmo? Puxa! Você tem certeza?”. Nessa hora tive que me controlar pra não gritar “Monstro! Monstro! Monstro!” (se bem que a surpresa toda por um casal transar talvez dê um novo sentido à “city that never sleeps”. E eu que não tava sabendo que NY vive uma escassez de sexo...).
O que mais posso falar sobre este que deve ser o filme com câmera tremida mais caro da História? Ele é um tipo de Bruxa de Blair encontra Godzilla. Tem até close de uma moça chorando com melequinha saindo do nariz. Ah sim, pra você não deixar esta crônica achando que não leu nada de útil, apresento um número real, que vi na minha recente viagem a NY: passear de helicóptero pela cidade custa 115 dólares por doze minutos. Em “Cloverfield” sai mais em conta.
Ah, não fique pros créditos, que são intermináveis. Não acontece nada. Só tô tentando poupar o seu tempo, porque eu fiquei até o finzinho, na vã esperança que no final da lista eles pelo menos explicassem por que diabos o negócio se chama “Cloverfield”. Sei lá, vai que aparece uma pasta confidencial do governo com manchas de café em cima? Uh, aí seria “Coffeefield”? E o que o “field” tem a ver com isso? Coffee Fields Forever? Viajei. Não, é só que “field” tem pinta de arquivo. “Clover” é uma leguminosa da família das ervilhas. Ahá! Sei o que você tá pensando: por que eu não falei antes, pra você decifrar o mistério?! E também é “trevo”. Será que a razão de ser do título seja porque o monstro é uma espécie de amuleto da sorte (trevo de quatro patas) pra alguém? Ok, talvez não pros habitantes de Nova York, mas pros parasitas que moram no Cloverfieldzinho? Melhor parar com esse devaneio, que você já deve estar quase tão enjoado quanto um espectador vendo uma hora e meia de câmera tremida.