Pra quem é ligado em números, minha nota seria próxima de zero. “Dália” é um desastre. O troço demora pra começar, tem uma narração em off preguiçosa, uma trilha sonora que inunda todas as cenas, na vã tentativa de criar um clima, e um roteiro pra lá de confuso. Não posso dizer se não entendi nada por causa das pirotecnias da história ou porque eu não tava prestando atenção. Mas claro que me lembrei do outro livro do James Ellroy trazido pras telas, e que resultou no grande “Los Angeles, Cidade Proibida”. Na realidade, “Dália” se parece tanto com uma paródia de film noir que a gente fica pensando se a intenção do De Palma não era mesmo essa. A trama mais ou menos mostra dois detetives investigando o brutal assassinato de uma aspirante a atriz, tudo nos anos 40. Um dos policiais passa seu tempo vendo pedacinhos de testes da atriz morta. Quando ele chega a um pornô, a gente saca que tudo isso é só uma desculpa pro De Palma filmar sexo entre mulheres. Ninguém fetichiza tanto as lésbicas quanto ele.
Um dos vários pontos baixos de “Dália” envolve as interpretações. A Scarlett Johansson, tadinha, tão bem em “Ponto Final”, aqui volta ao seu modo de atuação preferido: boca aberta e cara de sonsa. Faz um belo par com o protagonista, o 100% insosso Josh Hartnett (de “Pearl Harbor”). O melhor papel do Josh em sua carreira, quiçá a única vez em que iluminou as telas, foi em “As Virgens Suicidas”. Lembra dele focalizado como símbolo sexual pela Sofia Coppola? Tirando isso, o rapaz é muito ruim. Fisicamente falando, o Aaron Eckhart (de “Erin Brockovich”) até tem o perfil de um detetive noir, queixo quadrado, um chapéu que lhe cai bem, bonitão, essas coisas. Mas seu papel é boçal. E colocarem a Hillary Swank (“Menina de Ouro”) de femme fatale parece meio piada. O sex appeal não é um dos fortes dessa boa atriz. Bom, quem sabe até eu, vestida de negro, com o cabelo cobrindo meus olhos, e segurando uma piteira, pudesse passar por fatal. Se houver justiça, alguns desses astros será condecorado com as Framboesas de Ouro.
A culpa não é só deles, é da direção de atores. Em duas ocasiões a Fiona Shaw, que faz a mãe da Hillary, dá uma interpretação tão exagerada, tão camp, que eu tive certeza que era pastiche mesmo. Em outras cenas o De Palma parodia seus próprios melhores momentos, tirados diretamente de “Intocáveis” e “Um Tiro na Noite”. Nesse contexto de catástrofe total em que “Dália” mergulha, quem sabe uma pitada de sexo aqui, outra ali, anima a galera. Só que o De Palma só se anima com o pornô lésbico. A ação heterossexual não mostra nada além do antes e do depois. E o antes é tão uniformizado que chega a ser risível. Na primeira vez em que o Josh derruba tudo em cima de uma mesa pra transar nela, tudo bem, é a chama da paixão. Mas na segunda e na terceira, eu já comecei a pensar, ô sexo monótono, hein? Não dá pra variar um pouquinho? O depois é aquele de sempre: casal na cama, com o lençol estrategicamente cobrindo a parte de cima da mulher e a parte de baixo do homem. Imagino que os lençóis dos filmes já vêm nesse formato.