O filme mostra o Bill Murray como um astro de cinema contratado pra anunciar whisky no Japão, e ganhando dois milhões de dólares na brincadeira. E uma tal de Scarlett Johansson (de “Encantador de Cavalos”, mas ganha um prêmio quem se lembrar dela lá), imitando todas as caretas da Sofia, como uma mocinha recém-saída da faculdade acompanhando seu marido fotógrafo, um completo imbecil, e coçando em Tóquio. Bom, a vida é dura pra todo mundo, eu sei, mas a gente tem que se identificar com esses personagens? Se bem que eu tinha tudo pra me identificar. Afinal, acabei de passar uma semana incomunicável na Rússia. Mas não senti vontade de gastar meio minuto com esse pessoal. Morro de peninha desses endinheirados entediados. O maior problema deles é ter crises matrimoniais e não conseguir dormir? Tadinhos. O filme, que não é necessariamente chato, mas é lerdo, exibe o tédio dos dois. A moça sentada na janela exalando alienação. Bill jogando golfe. Eu não bocejando ainda, mas esperando que algo aconteça. E aí acontece. Moça vai a um templo. Moça faz arranjo de flores. Bill fala com sua esposa por telefone. Mais nada. No final ele diz algo pra ela que a gente não ouve. Agora, muitos acham isso um toque magistral, pois respeita a intimidade dos personagens (respeitar a intimidade?! Tão de sacanagem comigo! Pô, o filme começa com um close no bumbum de um desses personagens cuja intimidade é respeitada!). Há outra alternativa. Talvez a Sofia não soubesse qual frase colocar no roteiro, já que todas soariam banais demais – como, aliás, todo o resto do diálogo. Aí ela faz com que o espectador, aquele que é antes de tudo um forte, que teve que agüentar até karaoquê, não ouça a frase. Mas, como ela é filha do homem, os críticos gritam em coro: “Uau, que gênio!”.
Dá licença. Mas minha mãe gostou do filme, que definiu como um “Desencanto” (clássico do David Lean sobre gente casada que se apaixona mas não chega às vias de fato) do século 21. Eu não bati nela porque, sabe, mãe é mãe. O maridão decidiu usar seu critério sobre o que é ou não um filme bom e perguntou pra ela: “Você veria isso de novo? Ainda este século?”. Ao que minha mãe teve de admitir que não.
E por que não? Primeiro porque “Lost” se baseia em estereótipos pra fazer com que a gente ria dos japoneses. Um clichê repetido até cansar é o negócio d’eles trocarem o r pelo l. Sim, é hilário, eu sei. Quando eu era criança eu também morria de rir quando o Cebolinha, mesmo sendo ocidental, fazia isso. Mas o motivo principal pra “Lost” definitivamente não ser um “vale a pena ver de novo” é mesmo que nada acontece. Claro, existem muitos filmes ótimos em que absolutamente nada acontece, como, por exemplo, ahn, quer dizer, certo, como eu tava dizendo, existem inúmeros filmes bons em que nada acontece. Só que eu não podia parar de pensar em “Kill Bill”, também passado no Japão (uma boa parte), mas infinitamente mais animado. E com revelações muito mais interessantes sobre os japoneses do que dizer que eles são baixinhos.
Quais outros argumentos posso usar pra destilar meu veneno a “Lost”? Bom, eu nunca noto erros de continuidade. Mas aqui eu notei. Sei lá, não dá pra admirar um filme só porque ele não tem efeitos especiais. Ah, mas o argumento definitivo contra “Lost” vem agora: qualquer filme que inclua quatro números de karaoquê não pode ser tratado como obra-prima. Nem aqui nem na China.