Mesmo depois que chamei Hancock de Manifesto Capitalista, ainda pode ter um ou outro ingênuo querendo saber: “Tá, entendi, mas você gostou?”. Não, né? A mensagem é de doer, mas não é só isso. Hancock parece três filmes em um. Muda muito de tom e, como o longa é curto (uma hora e meia), não dá pra desenvolver o clima de cada uma das partes. Eu tinha criticado o trailer por contar demais da trama, não tinha? Errei! O trailer só conta o primeiro ato. Tem muito mais. Quando chega a segunda parte, a platéia onde eu estava perguntou: “What the f***?”. Fica estranho pacas.
Nenhum dos três atos é satisfatório, mas ao menos a primeira parte, que “discute” (modo de dizer) a responsabilidade de um herói, é interessante. Alguma cidade realmente iria querer um herói mal-educado, beberrão, que a cada “missão” causa um preju imenso? Hancock vive em Los Angeles, e lá pelas tantas alguém lhe implora: “Vá pra Nova York!”. Faltou tocar a musiquinha da Tina Turner, “We don't need another hero” (não precisamos de outro herói). Ou seja, Hancock, por favor, vá embora. Não queremos ser salvos por você. Olha, não gostei de Team America, e é até um clichê o que eles mostram, mas é o que vemos nos filmes de Hollywood: pra parar um grupinho de terroristas que vai explodir uma bomba em Paris, o serviço americano entra em ação, e mata os terroristas. No processo, derruba a Torre Eiffel, detona o Louvre... Hancock não é diferente. No fim ele vira bonzinho, mas a que custo? Metade da lua ocupada por um logotipo?
O Will Smith tá lindão, e ele quase sempre é o melhor (único?) motivo pra se ver os arrasa-quarteirões que estrela. Ele é carismático, divertido, e tá ficando mais bonito com a idade. A Charlize Theron só aparece em closes, o que dá nos nervos. Quem tá mais simpático no filme é, disparado, o Jason Bateman, ídolo teen nos anos 80, astrinho da TV, que viu sua carreira no cinema ressuscitar com Juno. Há muito mais química entre ele e Will que entre ele e Charlize ou entre Will e Charlize. Só que, quando o filme se perde, essa química que prende a atenção se perde também.
Sinceramente, sabe o que eu acho que aconteceu? Os homens que fizeram Hancock devem ter filmado muito mais (tem um monte de cena no trailer que não tá no filme), mas viram que o resultado final não agradou, e pensaram: “Vamos cortar tudo e fazer um filme curto. Assim pelo menos os cinemas podem realizar várias sessões, e vendemos mais ingressos no final de semana. Quando o boca a boca condenar o filme, será tarde demais”. Tomara que a estratégia dê certo. Seria a única chance de salvação de Hancock.Vamos disfarçar a cara de nojo e fingir que o filme é bom.