Agora chega “Pés Alegres”, do George Miller, diretor do excelente “Mad Max” e roteirista e produtor do meu recordista em dilúvios no cinema, “Babe, O Porquinho Atrapalhado”, que me fez chorar dos créditos iniciais aos créditos finais, sem parar, e mexeu tanto comigo que fiquei sem comer presunto por uma semana. Neste do pingüim eu também esfreguei bastante os olhos, porque o filme tava me dando um soninho... Quase duas horas de pingüins imperadores cantando. Só que as músicas são ruins e sem unidade. Descontando uma do Queen e “Boogie Wonderland”, o repertório é bem fraquinho. Pra quem tá acostumado com musicais de Fred Astaire e Gene Kelly, pingüins sapateadores não parecem ter muito jeito pro ofício.
Sem falar que é a maior propaganda enganosa. A gente viu centenas de trailers deste filme e nenhum falava do personagem principal. Por quê? Porque ele é chatinho. Acho que não preciso falar mais nada se disser que suas feições foram inspiradas no rosto do Frodo Elijah Wood. Quem rouba todas as cenas e arranca as únicas reações do público além do tradicional “que gracinha!” é o Ramón, o pingüim latino que fala portunhol. Claro que existe um recado à tolerância. O protagonista é discriminado por não ser igual aos seus pares, mas sem profundidade.
Depois de uma parte estranha em que o filme vira “Footloose”, com anciãos condenando o caos social trazido pela dança, vem uma mensagem ecológica. Até aí, banal. Todo desenho animado desde “Bambi” tem mensagem ecológica, tirando, talvez, “O Bicho Vai Pegar”, que não condena a caça, apenas um caçador. Acho que o recado dos pingüins é: humanos, vocês são malvados porque comem peixe. Eu, que não como nada que venha do mar, fiquei tentada a escrever cartazes dizendo “Salvem as baleias pros pingüins” e promover uma manifestação onde todos balançariam os cartazes enquanto sapateássemos. Aí lembrei que o musical custou 85 milhões de dólares. Com essa fortuna, dava pra alimentar um bocado de pingüins.
Até achei interessante que os animais nos vejam como alienígenas. E se eles nos acham maldosos pela caça predatória, esperem até que derrubemos óleo no habitat deles. No fundo o filme do pingüim só serve pra gente voltar a fazer campanha defendendo a abolição do trema. Ou é da trema? Viu como é complicado?