Pra mim, Homem se beneficia demais por ter um excelente ator no papel principal. É o Robert Downey Jr. que eleva a aventura. Talvez ele seja quem se saiu melhor na pele de herói. Ele e o Christian Bale (Batman Begins) e o Christopher Reeve (Superman), lógico. O que não significa, na minha opinião, que Homem como um todo seja superior a Batman ou Homem-Aranha (1 e 2, talvez) ou Superman (o de 78, e eu adoro o segundo também, o de 80). Iron tem um ritmo que não deixa a peteca cair, mas a história é de lascar. Ou pode ser que eu que odeie super-heróis militares porque, se eu sou pacifista e sinto que exércitos não deveriam existir, não vou ficar torcendo por um super que é uma máquina mortífera de guerra.
O roteiro de Homem mostra alguma inteligência por se antecipar às críticas. Por exemplo, alguém diz que Tony Spark (o inventor e mercador da morte) foi capaz de montar um hiper sofisticado modelo bélico numa caverna, com sobras de material. Por que uma equipe imensa não conseguiria fazer o mesmo? Ou se não cheira à ironia que, pra buscar a paz, Tony tenha construído a melhor arma de destruição? Bem, ironia não é bem a palavra. Prefiro cara de pau. E nem entendo o que acontece pro Tony se desiludir com o seu negócio. Puxa, ele vê que seus brinquedinhos de guerra vão parar nas mãos dos inimigos?! O cara é um gênio e não sabia disso? E que moralismo dúbio é esse que máquinas mortíferas são maravilhosas se estiverem do lado certo (U.S.A.! U.S.A!), mas hediondas se usadas por homens mais escuros e de outra religião? (Ontem vi um excelente esquete do comediante George Carlin explicando como um grupo religioso decide aniquilar outro: “My God has a bigger dick than your God”, ou “Meu Deus tem um pênis maior que o seu Deus”. É um resumo brilhante, porque a figura divina é sempre tão patriarcal).
Uma máquina de guerra pra trazer a paz... tá, conta outra. O Homem de Ferro gosta da paz tanto quanto eu gosto de peixe (eca!). O momento emblemático do filme passa a ser quando o soldado tira uma foto com o Tony e faz o sinal da paz (que ultimamente tem sido mais usado pra fazer chifrinho). Muitos militares americanos são contra a “intervenção” (adoro essas palavras suaves) no Iraque como ela vem ocorrendo. Não que eles estejam preocupados com os iraquianos, óbvio. É que no confronto corpo a corpo ocorrem muitas baixas americanas. Sabe o que eles defendem? Que se jogue uma bomba nuclear pra liquidar com o Iraque. Bom, talvez uma dessas bombas mais sofisticadas, que mata toda a população mas deixa os poços de petróleo intactos. Ok, Homem não se passa no Iraque, e sim no Afeganistão, mas é a mesma coisa. A história em quadrinhos se passava no Vietnã. É só adaptar a trama pra guerra da vez, desde que não seja uma chatinha como a do Iraque, que é veneno de bilheteria. Mas vemos perfeitamente que os inimigos da liberdade – no caso, os afegãos - são maus. Eles é que torturam e matam. Americano não faz isso de jeito maneira! Outro dia li sobre como a direita cristã nos EUA recebeu a criação da bomba atômica (citada bastante no filme), nos anos 50. Muita gente declarou que a bomba era um presente do sábio Deus pra América. E continua acreditando nisso! A bomba nuclear russa e aquela iraniana que a direita jura que existe devem ser presentes satânicos contra a América. Como disse um leitor, às vezes tudo se resume a uma competição pra ver quem mija mais longe.
E pra mijar longe só sendo homem, certo? Fui assitir Homem pronta pra implicar com o machismo da trama, mas não fiquei tão revoltada. Tudo bem, a Gwyneth Paltrow (sério que sua personagem se chama Pepper, Pimentão ou Pimenta?) infere que uma das parceiras sexuais do Tony é lixo. E ele não se recorda de ter dormido com outra. E seu ídolo parece ser o criador da Playboy, Hugh Heffner (feito pelo Stan Lee), que surge numa pontinha, apoiado em várias coelhinhas pra não cair. Mas o Tony só é bon vivant no comecinho da história. Depois vira um monge ou um padre, sabe, um bicho muito casto (quer dizer, eu não botaria a mão no fogo pelos padres americanos). Após sua experiência na caverna, em que ele nota que não tem família, ele passa a olhar a Pimentona de um jeito diferente, e nunca mais sai com mulher alguma. Sério, ele muda completamente de comportamento após seu trauma cavernístico. Pô, a gente podia mandar o Bush e o dono da Playboy (juntos) pra uma caverna afegã pra eles terem uma epifania lá também! Viu? Quem disse que o Afeganistão não serve pra nada?
O primeiro Homem de Ferro que o Tony cria é a cara e carcaça do Robocop. O segundo, muito mais modernoso, lembra o esqueleto do Exterminador do Futuro (do primeiro, quando empregam modelos mais atrasados tecnologicamente). E o terceiro me remeteu ao Vingador do Futuro. Quando o vilão abre sua armadura ferruda e ele tá lá dentro, não parece o mártir de Vingador, aquele bem pequenininho no corpão que o hospeda? E eu entendo que o Tony seja visto como gênio por criar aquilo, mas, depois de criado, qualquer um pode entrar naquela armadura e virar super-herói, né? Até eu. Opa, talvez este seja o fascínio? Inclusive o vilão pode virar super-vilão. As únicas risadas que o filme gera vêm por conta das dificuldades que Tony enfrenta pra se adaptar à armadura (é jogado longe, não consegue aterrisar). Mas pro vilão basta se vestir pra conseguir manejar tudo. Já o maridão não entendeu por que eles constroem essas geringonças milionárias, se é pra sair dando chutão nas coisas? De acordo com ele, o segundo dava chute e ainda pulava em cima da vítima. Eu não reparei.
Mas gostei dos efeitos especiais. Pelo menos do computador virtual e da cesta de lixo verde pro Tony jogar fora o que não gosta. Claro que não acredito na inteligência dos programas nem a pau. Lá não tem um só aviso de “este programa realizou uma operação ilegal e será fechado”. Eu não confiaria num super computador pra me colocar dentro de um ferro velho. Pô, o blogger fica mudando o tamanho e a letra de todos os meus posts, por mais que eu mande parar. Depois do filme, enquanto eu ainda estava com o computador na cabeça, fui ao banheiro. A torneira, que devia ser acionada esfregando as mãos embaixo, não funcionou. O trocinho com sabonete tampouco. A máquina pra papel, com sensor automático, idem. Aí eu pensei na alta tecnologia do filme e comecei a rir. Acho que vai demorar um pouco pra América poder substituir todo seu exército por meia dúzia de Homens de Ferro pra controlar o mundo. Até então, terá que seguir torrando um trilhão de dólares no Iraque.
P.S.: Conseguiram deixar o Jeff Bridges feio! Não só careca, mas com barba. O maridão até achou que o Cecil Thiré havia conquistado seu primeiro papel hollywoodiano. Pensando bem, o único careca que não é vilão é o professor Xavier do X-Men. Tô esquecendo alguém?
P.S.2: O melhor amigo do herói é um militar, interpretado pelo Terrence Howard (bastante desperdiçado, aliás). Parece que na sequência seu personagem vai vestir uma armadura e virar o War Machine (Máquina de Guerra). Outro herói em busca da paz, suponho.
P.S.3: Aguente os dez minutos de créditos que no final tem a chave da sequência. Sem dúvida, este Homem de Ferro é o início de uma franquia muito lucrativa.
Tony pro seu amigo militar: “Não se preocupe, que no próximo filme você também será um super-herói da paz”.