A maior culpada pela comédia é a roteirista Diablo Cody. Não dá pra acreditar no agito em torno dessa mulher, favorita pra levar o Oscar de roteiro original (é uma piada?). Ela é como se fosse a nossa Bruna Surfistinha. A Diablo foi uma stripper, vendeu sexo por telefone, fez um blog, alguém a descobriu e pediu que ela redigisse um roteiro, e ela escreveu “Juno” na mesma velocidade que o Stallone escreveu “Rocky”. Agora está super badalada, colunista de várias publicações, ganhando um dinheirão por mil e um roteiros. Fico feliz que uma mulher consiga tanto sucesso nesse mundo masculino que é Hollywood, mas torço, de coração, pra que seus próximos roteiros sejam melhores e venham a justificar a fama que ela conquistou. Porque, cedo ou tarde, tenho a impressão que a mídia vai descobrir a farsa que é “Juno”.
E olha que eu adoro a Ellen Page. Ela está ótima em “Hard Candy” (thriller interessante que levou o nome de “Menina.má.com”). Mas sua personagem junística é bastante insuportável: antipática, chata, dona da verdade. E fala como se estivesse discursando. Não é por nada não, mas se alguém na vida real falasse como ela (ou como o Hugh Laurie em “House”), não haveria ninguém escutando. E essas gracinhas d'ela usar um telefone em forma de hamburger não são suficientes pra que eu a perdoe.
Não é preciso uma longa análise pra entender porque os conservadores gostam de “Juno” (que já faturou 100 milhões de dólares nas bilheterias, e ainda falta um mês pro Oscar!). É verdade que no filme há sexo antes do casamento, o que a direita cristão condena, mas é só uma vez, e é tão puro e cheio de amor! E olha o resultado desastroso, uma gravidez! Assim os adolescentes aprendem que devem esperar! A menina contempla a possibilidade de um aborto (dentro da lei) durante mais ou menos dois minutos, até se convencer que vai dar o bebê pra adoção. Ok, pelo menos ela considera abortar! É mais do que se pode dizer de “Ligeiramente Grávidos” e “A Garçonete”, outras duas comédias do ano passado que deixam claro que, se você é mulher e engravidar sem querer, tem várias opções: ter o bebê, ter o bebê, ou ter o bebê. A escolha é sua.
Toda a cena em que a protagonista vai a uma clínica de aborto é um golpe aos movimentos feministas das últimas três décadas, que possibilitaram que uma mulher tivesse esse direito em alguns estados americanos. Juno chega lá e encontra uma coleguinha protestando na porta. Perdão, uma só? Com um pôster feito à mão clamando que fetos têm unhas? Em que país essa gente vive? Não deve ser nos EUA, onde organizações ligadas à direita cristã explodem bombas dentro de clínicas de aborto. E sorry, não adianta tentar vilanizar a técnica em ultrassom que respira aliviada que a adolescente vai dar o bebê pra adoção, e leva a maior bronca. Estou com ela. É um desserviço “Juno” glamorizar a gravidez precoce.