CRÍTICA: KING KONG / Konguinho, meu rei
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CRÍTICA: KING KONG / Konguinho, meu rei


Chegou Kong, King Kong, o rei do pedaço, e não é que o filme é ótimo? Não esperava nada dele das 3.217 vezes que vi o trailer, mas devo admitir que é um dos melhores exemplares do cinema de puro entretenimento do ano. Acho que só perde pro “Batman Begins”. Apesar de eu ter odiado “Senhor dos Anéis”, tenho que reconhecer que o Peter Jackson é um cara ousado. Não havia exatamente um movimento internacional pedindo a refilmagem de “King Kong”. O clássico de 1933 é fofinho, se bem que só me lembro da cena no Empire State, mas quando refizeram o troço em 76 foi um fiasco. E lá vem o Peter fazer uma aventura de época. E, por incrível que pareça, tem gente que nunca ouviu falar no Konguinho, então é mais adequado não revelar o final. Pensava que todo mundo tivesse uma relação afetuosa, meio nostálgica, com o gorilão (por exemplo, eu brincava com o Donkey Kong da Nintendo). Mas tem quem diga King Quem?

Neste “KK”, que se passa na década de 30, um pessoal tá rodando um filme e vai parar numa ilha hostil, onde uns nativos nada-a-ver apresentam a atriz principal, a Naomi Watts (de “O Chamado” e “21 Gramas”), prum gorila do tamanho de um prédio. A propósito, o tamanho dele é variável. Tem ocasiões que a Naomi parece uma pulga perto dele; em outras ela já é uma lagartixa. Inclusive, agora é uma boa hora pra se falar nos tão celebrados efeitos especiais. Seguinte: quando o Kong fica em close, paradão, ele tá muito bem feito. Vale os 200 milhões de dólares. Mas em movimento ele aparenta ser o que é: um efeito especial gerado por computador. Como os outros bichos, aliás. Na primeira vez que vemos os brontossauros (as únicas criaturas inofensivas na ilha, a menos que dêem pra sentar em cima da gente), dá pra notar claramente que é uma projeção. Essas coisas geradas por computador, não sei não. Sou uma visionária. Meu chute é que daqui a dez anos, no máximo, o consenso será o que eu tô dizendo agorinha: não convencem. Lembra da cena do “Exterminador do Futuro” de 84 em que o Schwarzza troca de olho na frente do espelho? Ou do carinha cujo rosto escorre pela pia em “Poltergeist”? Na época todo mundo achou bárbaro. Concorreu a Oscar de efeitos especiais e o escambau. Hoje eu passo a cena pros meus adolescentes e não tem um que não grite “Palha!”. Mas o filme não é melhor ou pior porque seus efeitos não são realistas. Como diz a Blanche Dubois, eu não quero realismo, quero magia! Eu convivo bem com o fato que dinossauros e macacões não existem. Desconfio até que eles já não existiam em 33.

Mas sabe, só a seqüência em que a Naomi vai de boca em boca já vale o ingresso. Ela escapa do gorilão pra cair no papo de um T-Rex. Foge dele pra ser presa fácil de um estegossauro. E finalmente surgem lacraias gigantes. Olha, dinossauros de trinta toneladas, macacos com segundas intenções, morcegos cheios de dentes—tudo isso eu tiraria de letra. Mas quando aparecem aqueles insetos bem-alimentados, não tem jeito. Aí eu comecei a tremer feio. Se fosse eu naquela ilha, eu chamaria o gorila de meu rei rapidinho. Ele derrota seus inimigos e bate no peito, como se comportam basicamente todas as espécies do sexo masculino. Deus queira que ele não marque território com xixi.

Durante o filme, fiquei pensando que seria mais ousado se eles fizessem o macacão se pendurar no World Trade Center. Depois o maridão jurou que a refilmagem de 76 usava as torres gêmeas. Pode? Quando o Osama derrubou o prédio, ninguém se lembrou disso. Se bem que o maridão também disse que gorilas são vegetarianos. Acho que ele tava tirando uma da minha cara. Este ponto dos hábitos alimentares do Konguinho, porém, é relevante. Ele quer comer a Naomi? (vocês não prestam). Quando ele pega um galho de uma árvore e põe na boca, pensei que ele tava só palitando os dentes. Mas sem maldade, acho que o relacionamento entre ele e a Naomi não tem conotação sexual. O Konguinho se comporta com ela como meus gatinhos agem com os ratos e lagartixas que caçam. Taí o humor da história. A piadinha do Abominável Homem das Neves é divertida, assim como quando o gorilão vai coletando loiras por Nova York, vendo que não é a Naomi, e jogando-as fora, numa enorme quantidade de loiras descartáveis.

Eu até derramei umas lagriminhas no fim, e quase me auto-esbofeteei por chorar por um efeito especial. Fiquei torcendo pelo impossível: que o gorilão e a Naomi se retirassem pruma ilha deserta e vivessem felizes para sempre. De preferência uma ilha deserta sem baratas gigantes, porque aí não tem amor que resista.





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