CRÍTICA: MILK, A VOZ DA IGUALDADE / Quando Hollywood faz algo útil
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CRÍTICA: MILK, A VOZ DA IGUALDADE / Quando Hollywood faz algo útil


- Bom, a luta com o Mickey Rourke foi dura, mas agora é rumo ao terceiro Oscar.

É tão raro fazer uma biopic (uma espécie de cinebiografia) boa que Milk - A Voz da Igualdade merece ser destacado só por isso. Em geral as biopics são um porre - eu dormi em Ray -, porque elas tentam condensar a vida inteirinha da celebridade em duas horas e canonizá-la. Felizmente, Milk não é assim: tem um ritmo sensacional, que só deixa a peteca cair no fim, e mostra um sujeito legal, mas com seus defeitos, não muitos. Gostei mais do drama agora que o vi pela segunda vez. Ele entra na categoria de Filmes Importantes, com maiúsculas, desses que precisam ser vistos pra gente aprender alguma coisa. No caso, o início dos movimentos pelos direitos gays nos anos 70.
Há muitos contextos aí. Em primeiro lugar, o contexto da homossexualidade nos EUA. Nessa época, que não tem nem quarenta anos, a psiquiatria ainda considerava uma orientação sexual que não fosse a hétero um distúrbio, e a polícia tinha por hábito bater e prender quem se envolvesse nessas práticas criminosas. Stonewall foi um marco. Em 69, em Nova York, um grupo GLBT enfrentou a polícia, que queria fazer uma batida num bar gay. Muitos homossexuais, moradores de cidadezinhas americanas retrógradas, começaram a se mudar para Nova York e Califórnia, onde poderiam tentar levar um estilo de vida sem tanta repressão. Em São Francisco, o Castro tornou-se logo o principal ponto de encontro (continua até hoje). E, claro, era o começo dos anos 70, com a revolução sexual, os hippies, e todos os movimentos pelos direitos das minorias (negros, mulheres, gays). O outro contexto é o do cinema. Um excelente documentário, The Celluloid Closet, mostra como Hollywood sempre discriminou os gays. Durante um século de cinema, eles foram ou motivo de piadas ou vilões (e em muitos filmes atuais seguem sendo tratados dessa forma). Até um drama relevante como Filadélfia não ousou incluir um só beijo entre Tom Hanks e Antonio Banderas pra não chocar seu público mainstream. Mas é um marco, assim como Brokeback Mountain. Portanto, é louvável que Milk não tenha receio em exibir tanta afeição entre os gays. Quase todos os personagens retratados são gays, inclusive, o que tá longe de ser comum.
Harvey Milk, vivido aqui com maestria por Sean Penn, foi um homem que, até seus 40 anos, viveu no armário. O filme começa quando ele, em NY, conhece um belo rapaz (James Franco - eu quero um pra mim!). Eles se mudam pra São Francisco, abrem uma lojinha de material fotográfico, e viram ativistas. Harvey logo se autoentitula “o prefeito da Rua Castro” e concorre a supervisor de São Francisco (algo como vereador). Na quarta vez que disputa, é eleito e torna-se o primeiro político abertamente gay da Califórnia. E bem na hora certa, quando a reação conservadora contra os movimentos sociais toma o país. Uma lei, a Proposition 6, ameaça despedir todos os professores gays e simpatizantes das escolas públicas, sabe, pra “salvar as crianças”. Qualquer relação com a Proposition 8, que passou em novembro último proibindo o casamento gay, não é mera coincidência. É lastimável que, num país dito democrático, sejam aprovadas leis para abertamente discriminar um grupo de pessoas. Lutar contra essas sandices é um dever não só dos gays, mas de todos os héteros de bem.
Não quero falar demais pra não entregar a trama pra quem não a conhece, mas já escrevi sobre ela aqui, após assistir ao documentário The Times of Harvey Milk (foto do Harvey verdadeiro ao lado). Aliás, não quero nem ver o filme no cinema, porque isso significa aturar um bando de homofóbicos que acha que trocas de afeto são privilégio dos héteros. Mas vou falar das interpretações. O Sean é um grande ator, e este ser o melhor papel de sua carreira. Ele, o Mickey Rourke, o Richard Jenkins e o Heath Ledger tiveram as quatro melhores atuações em produções americanas no ano passado. Mas pra mim quem rouba as cenas é o James Franco. Tá, talvez pela beleza. Só sei que fiquei completamente caída por ele. Outro que gostei é o Diego Luna (de E Tua Mãe Também; foto) que faz um namorado do Harvey. Quanto ao Emile Hirsh, não acreditei muito nele como ativista. Porém, pra mim, a atuação mais fraca é a do Josh Brolin, que faz o vilão Dan White. Eu devo ser a única a não ter gostado do Josh, já que ele foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante e tal. Mas o achei incrivelmente falso na cena em que ele aparece embriagado na festa do Harvey. Aquilo lá é uma caricatura de um bêbado. Fico feliz que tentaram dar nuances ao Dan, pra não fazê-lo simplesmente um homofóbico desequilibrado, mas o Josh me desapontou.
Outra coisa que me perturbou bastante é que o movimento gay, a julgar pelo filme, foi um movimento predominantemente masculino. Há uma só lésbica em Milk, que assume a campanha de Harvey. E o jeito como ela é recebida pelo comitê me faz compreender por que uma militante lésbica e feminista amiga minha diz ter um pé atrás com os gays, pois eles são antes de tudo homens, e sua orientação sexual não anula seus privilégios masculinos. Digamos apenas que no filme existe uma ampla galeria de personagens homens e somente uma mulher. Ou melhor, duas. A outra é uma cantora repulsiva que luta pra salvar a América da ameaça gay. Uma cena que me pareceu emblemática é uma em que Harvey trava um debate contra um conservador num cenário hostil, no bairro rico de Orange County, onde gay e pervertido são sinônimos. A câmera focaliza um assessor de Harvey e, atrás dele, duas mulheres na platéia, indignadas com o que Harvey diz. Perdão, sei que pode ser marcação minha, mas num filme em que a ausência de mulheres é tão gritante, o Gus van Sant (diretor abertamente gay) precisa mesmo colocar duas senhoras como exemplos de intolerância? Quando chega um dos discursos finais do Harvey, em que ele convoca outras minorias pra participar da luta pela liberdade e deixa de lado as mulheres, eu pensei em jogar a minha cópia de O Eunuco Feminino na tela.
Bom, certamente os negros vão se sentir tão excluídos por Milk quanto as mulheres. É como opina a Whoopi Goldberg em Celluloid Closet: “Me diga uma minoria que seja representada positivamente por Hollywood”. Mas ainda assim, minha fé na humanidade aumenta quando noto que se fazem filmes como Milk. Agora só falta as minorias lutarem juntas. Porque já basta o preconceito que recebemos da Patrulha da Normalidade. Não precisamos nos discriminar mutuamente.




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