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CRÍTICA: MULHER INFERNAL / Vida de crítico é infernal
Deixo meus queridos alunos adolescentes verem um filme completo por semestre durante as aulas. Já que eles são vidrados em terror, ano passado consegui convencê-los a ver um clássico, "Carrie, A Estranha". Eles detestaram. Este semestre, portanto, não teve jeito. Insisti pra que eles assistissem a produções recentes marcantes, como "Pulp Fiction" ou até mesmo "Seven", mas eles já estavam convencidos. Queriam porque queriam ver "American Pie 2" – de novo! Expliquei pra eles que minha religião proibia esse tipo de aberração, mas eles fincaram o pé e lá fui euzinha, fã de comédias como "Cantando na Chuva", agüentar uma hora e meia de piadas juvenis. Eu, que tinha pulado "American Pie 1"! O filme é insuportável. Mas o que mais me chamou a atenção foi que eles não riam. Perguntei pra eles – "gente, se isso aí é tão engraçado, por que vocês não caem na gargalhada?". Eles argumentaram que estavam vendo a comédia pela segunda vez. Ataquei dizendo que, quando algo é realmente divertido, a gente ri sempre, e citei o exemplo de "Corra que a Polícia Vem Aí", que ainda me mata de rir na quinta vez. Eles balbuciaram algo como "você tem problemas mentais", e encerraram a discussão.
Essa longa introdução foi pra justificar minha ida ao cinema pra ver "Mulher Infernal". Pensei cá com os meus botões que quem enfrentou "American Pie 2" tá pronto pra qualquer batalha. E quer saber? "MI" é infinitamente melhor que "AP2". Claro que minha sugestão continua sendo: entre esta comédia teen bobona e "Triplo X", vá ver "Cidade de Deus", por favor.
"Mulher Infernal" é do início do ano passado e a gente podia fazer uma lista dos filmes importantes que não chegaram nem perto de Joinville, mas não é que qualquer produção tolinha vem pra cá? Parece que, originalmente, o filme iria se chamar "Bons Amigos, Idéias Debilóides", e aí sim que não o veria de maneira alguma, porque humilhação de crítico tem limites. Arrastei o maridão pro cinema, pois não queria pagar esse mico sozinha. Éramos os únicos na sala de exibição. Deu uns quinze minutos e o maridão começou a gemer e implorar: "Vamos embora". Não lhe dei ouvidos e ainda fiz "shhhhh". Ele disse que iria consultar um advogado pra dar entrada nos papéis do divórcio.
Vou contar a história pra te poupar o trabalho de arruinar seu casamento, caro leitor. É assim: três amigos de infância meio nerds, eternos adolescentes, se divertem muito até que um deles se apaixona por uma bela moça. Difícil entender porque uma psicóloga inteligente vai se deixar levar pelo Jason Biggs, o mesmo ator de "American Pie" (estão me perseguindo!). Mas ela gosta de dominá-lo. Logo logo, ela o obriga a fazer seis horas de terapia de casal por semana, com ela como conselheira, claro. Achei que a comédia estava transmitindo lições valiosas de "Como Tratar os Homens", mas de repente os amigos resolvem seqüestrar a mulher pra salvar a amizade. Seguem-se chistes com freiras, choques elétricos nos genitais, e um timing pra lá de ruim. Mas o elenco segura as pontas – tem o Jack Black (de "Alta Fidelidade") e o ótimo Steve Zahn, de "Irresistível Paixão". No fim, aparece o Neil Diamond. Não se preocupe – eu também não consigo me lembrar de nenhuma música dele.
Ao sair dessa baboseira que pelo menos é superior a "Tudo para Ficar com Ele", vi dois cartazes no hall do cinema: o último Woody Allen e o último Almodóvar. Tive a impressão que eles piscaram pra mim, como se dissessem: "nós nunca vamos passar aqui, mas o pôster é bonito, né?". Fazer o quê? Meus adolescentes nunca ouviram falar de nenhum dos dois mesmo...
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