HOMENS E MULHERES, FEITOS UM PARA O OUTRO
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HOMENS E MULHERES, FEITOS UM PARA O OUTRO


Homens e mulheres podem ser só amigos? Esta é uma das perguntas centrais da minha comédia romântica preferida de todos os tempos, Harry e Sally – Feitos Um para o Outro. Eu, e praticamente todas as mulheres que conheço, acham a pergunta um tanto estúpida. Nossa resposta é dããã, claro que sim! Mas não sei porquê, muitos homens têm dúvidas. Eles acham que a atração sexual interfere. Lembro de uma vez que comentei isso com alguns alunos adultos meus, dizendo que eu tinha um monte de amigos por quem eu não me sentia atraída, nem eles por mim, e esses aluninhos disseram que eu era ingênua.
Mas esses dias, conversando com um novo casal na praça, um casal fofo e jovem composto por dois pombinhos que sempre foram amigos, e de repente arriscaram namorar, percebi respostas diferentes. Ela disse que, até aquele momento, nunca tinha pensado nele “daquela forma”, digamos, mais sexual. Já ele disse que sempre a achou atraente, mas que, como amigo, suprimia essa atração. E isso foi na mesma semana em que, na minha turma de Literatura Americana, discutíamos a grande Kate Chopin e as agruras do casamento. Uma aluna decidiu levantar e dizer: “Não importa o que vocês falarem contra o sagrado matrimônio, eu acabei de ficar noiva!”. Depois, ela veio me contar que iria se casar com seu melhor amigo. Há montes de casos desse tipo. E não tenho estatísticas, mas algo me diz que casamentos entre amigos costumam dar certo.
Opa, mas ao pular uma etapa e descambar no casamento eu estou me sabotando! Assim estou dando munição pro outro lado e atestando que não, homens e mulheres não podem ser apenas bons amigos, e definitivamente não é nisso que acredito. Sempre tive ótimos amigos homens e héteros (e gays também, claro, mas nessa amizade as pessoas acreditam), inclusive amigos de infância. Acho que, em algum ponto da nossa convivência, esses amiguinhos se apaixonaram por mim, já que sou, claro, esta pessoa irresistível que vos fala. Mas logo passou, eles amadureceram, envolveram-se com outras pessoas, e nunca mais isso interferiu na nossa amizade de tantas décadas (é, gente mais velha tem décadas de amizades).
Mas me incomoda que as pessoas de fora automaticamente assumam que se eu, mulher, estou conversando com um homem, é porque aí tem. Francamente, é ridículo, vai! Estou junto com o mesmo bonitão simpático há quase vinte anos. Nos conhecemos num torneio de xadrez. Ele é do meio, e eu era. Durante essas duas décadas, obviamente, conversei com outros jogadores do xadrez. E aí, volta e meia, pro meu espanto, descubro que há rumores que eu tive casos com esses amigos. Eu tive casos, e nem notei! Um deles foi com um finlandês que eu e o maridão, então namoradão, conhecemos juntos num campeonato em SP. Lembro que o levamos para visitar os reptéis do Butantã. Mais tarde, por algum motivo desconhecido, o maridão não quis participar de uma passeata pró-impeachment do Collor na Av. Paulista. Eu e o Risto, esse era o nome dele, fomos sozinhos, e aí, ohhh, lógico que só podíamos ser amantes – imagina só, eu e um homem hétero, loiro, bonitinho, sós no meio de 500 mil pessoas?! Só não vê quem não quer!
O outro amigo enxadrístico com quem eu aparentemente tive um caso caliente foi um grande mestre iugoslavo que teve a sorte de participar do mesmo torneio que eu em algum lugar do Paraná. Como eu era uma das poucas pessoas que falava inglês fluentemente, e como ele não falava português, conversamos bastante. Ele era muito boa gente, e eu já era essa mulher deslumbrante, mas não rolou nada além de saliva. Ahn, quero dizer perdigotos, um bom papo! Até porque eu já tinha namorado. E não estou muito certa porque faz tempo, mas desconfio que não houve nenhuma atração física de ambas as partes. Agora, vai falar isso pra galera do xadrez! Não sei como não uso a letra A de “Adúltera” do romance do Hawthorne.
Agora que estou num emprego novo, conheço gente nova todos os dias, e muitos são homens, e muitos são até homens héteros. De cara eu já adorei alguns, e sinto que fui correspondida. Mas achar que, só porque tenho afinidade com alguns eu vou pular na cama com eles equivale a pensar que, por eu também adorar algumas de minhas novas colegas mulheres, vou virar lésbica. Sei lá, mas adoro meus gatinhos, e minha relação com eles é puramente platônica. Atração sexual dá pra ficar fora de qualquer relacionamento. Só complica se ficar fora do casamento.




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