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CRÍTICA: MUNIQUE / As polêmicas de um filme
É ótimo o novo filme do Spielberg, “Munique”, mas um de seus maiores méritos é provocar reflexões sobre o conflito no Oriente Médio e suas influências no Ocidente. Entrou pra história das Olimpíadas o que aconteceu na Alemanha em 72: terroristas palestinos fizeram atletas israelenses de reféns, a polícia alemã fez tudo errado, e onze atletas morreram. Isso é bem conhecido, mas eu nem desconfiava do que ocorreu a seguir – o Mossad, serviço de espionagem israelense, coordenou uma ação secreta pra matar todas as lideranças palestinas envolvidas no massacre de Munique. Essa ação, apelidada de Operação Ira de Deus, que assassinava usando bombas, tal qual os terroristas, durou mais de vinte anos. O diretor mais famoso do mundo só fala de um primeiro momento e, mesmo assim, é fácil entender porque os judeus andam tiriricas com ele. Afinal, qual a diferença entre o terrorismo individual e o patrocinado pelo Estado? Qual a diferença entre um solitário homem-bomba se explodindo em alguma embaixada e as ações da CIA, depondo presidentes legitimamente eleitos e ensinando os ditadores locais a torturar? (nem tava pensando no Iraque, mas no Chile e no nosso golpe de 64). Acho que a distinção é só na escala de valores. E não importa que o Spielberg transforme um agente do Mossad (interpretado pelo Eric Bana de “Hulk” e “Tróia”) num protagonista atormentado pela culpa. O negócio ainda fica bem feio pra Israel. Não sou judia, mas nasci em junho de 67, bem no dia em que começou a Guerra dos Seis Dias, quando Israel expandiu seu território tirando terras do Egito, Jordânia e Síria. Ahn, terras que não foram devolvidas até hoje. E sabe, nessas terras havia pessoas, mais especificamente um milhão de árabes. Vou partir pruma alusão meio tolinha, mas é como se a Argentina promovesse uma guerra e confiscasse os três Estados brasileiros daqui do Sul. A gente não viraria homem-bomba tentando provar que não é argentina? Olha, conhecendo a história de Israel, e sua sanha imperialista, apoiada pelos EUA, é muito difícil não ser pró-palestina. E mais difícil ainda, pra mim, que não sou religiosa, é compreender que o pessoal fique se matando por diferenças religiosas que nem soam tão diferentes assim. As três maiores religiões monoteístas calharam de escolher o mesmo pedacinho de terra, batizá-lo de sagrado, e cismar que só a religião deles é a escolhida por Deus. Francamente, se é isso que as religiões fazem – matar em nome de Deus pela propriedade – não dá pra fingir que elas pregam a paz. Por mim, eu fecho com o novo radical iraniano, que disse que o Ocidente, consumido pela culpa do holocausto, deveria ceder um território na Europa pra que Israel se instale por lá. Imagina que luxo viver na Europa! Mas não, o pessoal prefere permanecer naquele lugarzinho árido no meio do deserto. Há uma cena em “Munique” em que a mãe judia fala pro filho que até que enfim Israel tem um lar, e que eles tiveram de pegar o lugar à força porque ninguém iria dá-lo pra eles. Mas não é tão simples assim. Quer dizer que se a gente oferecesse outro lar pros israelenses (ou pros palestinos), longe de Jerusalém, Mecas e afins, eles iriam aceitar? É só ver como os colonos judeus se recusaram a deixar os territórios ocupados, e isso que cada família recebeu uma indenização de meio milhão de dólares. Sei lá, eu penso que Israel tem todo o direito de ter seu país, a Palestina idem, mas no fundo eu preferiria viver num mundo sem fronteiras, onde um povo não se achasse melhor que o outro.
Enfim, “Munique” mostra uma história de vingança, em que um banho de sangue gera outro, e mais outro. Pra gente não pensar que só os homens fazem a guerra e matam, aparece no filme a Golda Meir, então primeira-ministra de Israel, assumindo total responsabilidade, e uma assassina profissional. Essa parte envolve uma nova utilidade pra bombas de bicicleta (não tente fazer em casa). E o único loiro do thriller é o Daniel Craig, o novo James Bond. Mas um dos pontos mais importantes é a cena final, cheia de suspense. A gente vê os personagens caminharem em Nova York, com a famosa linha de prédios ao fundo, e fica procurando as Torres Gêmeas. Quando elas finalmente dão o ar de sua graça não é lá muito sutil, mas é poderoso.
Um tanto estranho a gente aprender que matar meia dúzia de homens custou dois milhões de dólares, e comparar com o preço do filme, setenta milhões. Mas lógico que “Munique” pode influenciar mais gente que a Operação Ira de Deus. Só os flashbacks do protagonista parecem exóticos, porque são memórias de um carinha que não estava lá. A recapitulação na cena de sexo no fim, então, é polêmica e hors concours em bizarrice. Eu só fiquei imaginando, no que o maridão pensa quando a gente transa, normalmente no Natal? Mesmo arriscando uma infidelidade conjugal imaginária, é mais saudável pra nossa vida sexual que ele se concentre nas coelhinhas da Playboy do que em massacres terroristas. Ou será que o Spielberg quis ressuscitar o slogan dos anos 60, faça amor, não faça guerra?
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