CRÍTICA: O ARTISTA / Quando Hollywood era muda
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CRÍTICA: O ARTISTA / Quando Hollywood era muda


E dançava um pouquinho

Até agora, de todos os filmes concorrendo ao Oscar, nenhum parece que vai deixar saudades. Ouso dizer que a comédia de Woody Allen, embora longe de ser uma grande obra, é a mais encantadora. Os outros filmes são meigos, fofinhos, e principalmente saudosos de um tempo que já ficou pra trás, mas duvido que muita gente se lembrará deles em alguns meses. Os Descendentes e O Homem que Mudou o Jogo são bonitinhos. Histórias Cruzadas pelo menos é polêmico. Ainda não vi A Invenção de Hugo Cabret (esse quero ver em 3D), não vou ver Cavalo de Guerra (ordens médicas; posso ter uma convulsão), e estou criando coragem pra ver Árvore da Vida. O Artista, provável futuro vencedor do Oscar 2012, certamente entra nesse patamar de nostálgico e doce. Mas não vai me marcar de jeito nenhum. Sequer me fez chorar, o que, convenhamos, não é difícil.
No começo deu preguiça. Fotografia em preto e branco eu tiro de letra, mas não é simples se adaptar a algo tão datado como gente falando, falando, falando, sem sair nenhum som dos lábios. E as caras e bocas que o francês Jean Dujardin faz no primeiro terço do filme também são limitadas (expressão de bravo, franzindo os olhos, e aí abrindo um sorriso), meio caricato demais. Ou talvez eu que não seja tão nostálgica quanto o filme em si. Sinto muita falta de musicais como Cantando na Chuva, de algumas cenas (mais do que filmes inteiros) de Chaplin; continuo amando obras-primas como Encouraçado Potemkin e Nascimento de uma Nação (apesar de entender que hoje é impossível exibir algo tão abertamente racista, que vangloriza a Ku Klux Klan)... mas adoro um cineminha falado, com narração em off, cheio de palavras.
Muita gente anda comparando Artista com Cantando na Chuva, e de fato há muitas semelhanças (a dura transição do cinema mudo pro cinema falado; a fã que vira estrela), mas Cantando é um clássico inesquecível, algo que Artista não será. Cantando é um musical, um feel good movie que eleva o espírito ou, no mínimo, o bom humor. Não é o caso de Artista, que possui várias cenas sombrias.
Tem um monte de coisa que apreciei. Por exemplo, o cachorrinho. Ele rouba todas as cenas (mas ele desaparece no final ou eu é que perdi alguma coisa?). Ganhou prêmio em Cannes pra melhor animal. Se tivesse um Oscar de Melhor Bicho, quem ganharia este ano, o cavalo de Cavalo de Guerra (confio na sua avaliação) ou o cãozinho de Artista?
Outros pontos positivos são a cena do pesadelo, em que Dujardin imagina tudo fazendo barulho. E o mordomo e chofer fiel feito por James Cromwell (Babe, o Porquinho Atrapalhado, meu recorde de lágrimas de toda a história do cinema) tem ecos de Crepúsculo dos Deuses. Por que é sempre assim? Por que todo mordomo adora seu patrão?
Também é interessante como o filme mostra a passagem do tempo, o que é sempre complicado, ainda mais sem falas ou legendas. Isso eu achava engenhoso como faziam antes, com cenas rápidas e sobrepostas (no caso, a atriz com seu nome cada vez mais alto nos posters). É criativo quando ela tenta se acariciar usando o casaco do astro. Aliás, a personagem dela é forte e decidida, mais que a dele. Adoro a legenda “Brinquedos”, quando ele lhe pergunta quem são os dois rapazes que andam com ela.
Mas uma coisa que me incomodou bastante foi justamente a atriz que faz a atriz. Não me entendam mal: a argentina Bérénice Bejo é linda (na maior parte dos ângulos) e simpática e talentosa e dança bem. Porém, enquanto Dujardin parece um astro daquela época, bem Erroll Flynn, com bigodinho e cabelo engomado, ela não. Ela parece uma atriz do século 21. Do tempo em que as atrizes nunca estiveram tão magras. E magreza estava longe de ser o padrão de beleza nos anos 20/30. Agora acabamos de ter Michelle Williams e seu manequim 36 interpretando a deusa Monroe em Sete Dias com Marilyn (que se passa na década de 50). Michelle afirmou em entrevistas que tentou engordar pro papel, mas só conseguiu ficar com o rosto inchado, daí desistiu e recorreu a roupas com enchimentos. E agora temos Bérénice. Enfim, é chato ver gente tão magrinha em papéis dessas décadas. Nem creio que seja um revisionismo histórico proposital (fingir que o padrão não é construído, e sim natural, já que sempre foi assim). É mais a dificuldade em encontrar hoje em dia atrizes que não sejam magérrimas.
E pensar que pro padrão atual Marilyn Monroe e Debbie Reynolds seriam consideradas acima do peso...




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