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CRÍTICA: O CORONEL E O LOBISOMEM / Eu torço pelo lobisomem
Não dá pra falar com conhecimento de causa porque a maior parte dos filmes brasileiros nem chega aqui, mas, julgando pelos que chegam, dá pra entender porque “Dois Filhos de Francisco” foi escolhido pra representar o país no Oscar (se bem que duvido que os americanos incluam a produção na lista dos cinco estrangeiros). Parece que o cinema nacional este ano tá repetindo o ano passado, quando não houve nenhuma película maravilhosa. Agora estreou, em grande circuito, “O Coronel e o Lobisomem”, que fala de dois bichos que eu não gosto. Melhor nem mencionar os milicos, mas tô quase concluindo que a gente já viu tudo em matéria de vampiros e lobis. Pensa bem, filme com zumbi sobrevive porque, no fundo, trata do fim do mundo. Esse gênero zumbi, que eu particularmente adoro, é de um consumismo mordaz: mostra gente comum invadindo supermercados e shoppings após o apocalipse. O planeta vira uma grande feira livre, e os sobreviventes podem servir-se à vontade, como se fosse um buffet grátis. O fim do mundo vira nosso sonho de consumo. A gente é tão tolinha, né? Acha que numa catástrofe o capitalismo abre as portas... É só ver Nova Orleans, onde os policiais não socorriam ninguém mas prendiam saqueadores, onde as coisas estragavam nas prateleiras enquanto o pessoal passava fome, pra constatar como o gênero zumbi também é só ficção. Ok, ok, viajei. Isso não tem absolutamente nada a ver com “O Milico e o Cachorrão”, que não é terror, e que não mostra lobisomens pra assustar, mas dentro do contexto do regionalismo mágico. Sem magia alguma, claro. Esta comédia de Maurício Farias, com produção do Guel Arraes, tenta pegar onda no sucesso do fofinho “Lisbela e o Prisioneiro”, que, inclusive, tem quase o mesmo número de sílabas. No trailer de “Coronel” que vi 3.542 vezes, numa estimativa conservadora, a Globo vende o filme como repleto de graça e poesia – que só vem no final – e afirma ser baseado no livro de José Cândido de Carvalho, “um clássico da literatura brasileira”. Ahn, clássico? Cai no vestibular? Pensei que o livro fosse de 1800 e lá vai bolinha, mas descobri que é de 1964. O filme não me fez exatamente ter vontade de correr às livrarias. A história é de um coronel, Diogo Vilela, que está pra perder suas terras pra seu irmão de criação, o Selton Mello, e que, pra evitar essa desgraça (é pra gente sentir peninha de coronel latifundiário? Sério?), precisa provar que o Selton fica peludão e sai uivando nas noites de lua cheia. Não entendi bem a relação. Se for comprovado que donos de empresa são vampiros sugadores de sangue, eles perdem o negócio? Tem também a Ana Paula Arósio como decoração.
Eu poderia achar que minha bronca com o filme vem do fato d’ele ser absurdamente anti-ecológico. Qualquer trama que mate uma onça pintada (duas vezes!) merece o meu desprezo. E há uma rinha de galo interminável, que não acrescenta nada à história, tentando tirar humor de um assunto tão medonho. Imagina se eu vou ao cinema pra ver rinha de galo! Sei lá, o mexicano “Amores Brutos” continha cenas hediondas de brigas caninas, mas elas tavam integradas à narrativa. Aqui a exploração dos animais pretende fazer rir. Com isso eles conseguiram que eu torcesse pela morte de todos os personagens, tirando os galos, as onças, e a parte lobo do lobisomem. Mas não é só a ideologia de “Coronel” que tá errada. O filme não entretém nem empolga. O texto é declamado, os atores estão teatrais demais, com voz impostada, a narração em off me cansou legal, e é preciso ser vidente pra entender o que o Pedro Paulo Rangel diz. Tudo bem, a comédia traz belas paisagens, música do Caetano e Milton, e toda uma recriação suntuosa. Deu pra ver que eles gastaram dinheiro. Isso não impediu que eu fizesse uma lista mental, comparando as cenas que apareciam na tela com as que vi no trailer. Eu checava assim: ah, essa cena já foi, essa também, agora só falta essa, tá quase no fim. Até que acabou sem deixar saudade, ufa. Prefiro zumbis.
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