“Exorcismo” trata de uma moça que morre durante um exorcismo frustrado, e do padre responsável que vai a julgamento. O padre é um santo homem, a possuída é uma santa mulher em seus raros momentos de não-possessão, e só os advogados são, bem, advogados. Logo logo a Laura Linney (de “Truman Show”), que defende o padre, enfrentará ocorrências terríveis, como acordar todo dia às três da madruga. Meus gatos me acordam lá pelas cinco e nem por isso desconfio que o demo tá por trás dessa maldade. Se bem que tem uma cena ridícula em “Xô Satanás”, quando os gatos da família atacam o padre. Fiquei pensando nos meus felinos. Imagina só, tem alguma histérica gritando e levitando, um monte de gente meio que batendo na histérica, e os gatinhos vão ficar lá perto? Jamais! Os meus já teriam se mudado de casa desde que a primeira cruz na parede vira de cabeça pra baixo. E mal posso esperar a advertência num remédio pra epilepsia: “Contra-indicado em casos de possessão demoníaca”. Pelo jeito só as mulheres sofrem disso, porque parece que Satã é muito macho. O demo é macho, os exorcistas são machos, as vítimas possuídas são sempre mulheres. Ahn, soa típico pra você também?
Possessão é fichinha perto da ameaça de “E Se Fosse Verdade”: topar com o fantasma da Reese Witherspoon (“Legalmente Loira”) no seu apartamento. A Reese, cujo sobrenome significa algo como Secar Colher numa tradução livre, até agora só fez um filme decente, “Eleição”. Com sua cara de virgem aos trinta anos, ela forma o par ideal com o Mark Ruffalo e sua cara de meia dupla sertaneja. O filme não é tão lamentável como estou deixando transparecer. É até bonitinho, e quem adora “Ghost” vai gostar. Mas torço pra que uma comédia dessas não faça sucesso, porque as doações de órgãos cairiam pela metade. Se a moda pega, vão seqüestrar mulheres em coma com propósitos necrófilos (coisa que o Taranta já fantasiou em “Kill Bill”). Aliás, ainda bem que “E Se Fosse” foi feito depois que o marido conseguiu ganhar na justiça o direito de desligar os aparelhos da esposa que tava em coma há décadas. Senão, lá viria a direita cristã afirmar: “Tão vendo? A Terry Schiavo pode estar imóvel sorrindo naquela cama, mas o espírito dela continua vivíssimo”.
Há uma cena ótima na comédia, quando Mark e Reese vão a um restaurante onde tem um homem morrendo. A Reese passa pro Mark as instruções de como salvar a vida do cara. Ele tem que furá-lo. Não sei o que me assustou mais nessa cena, se foi o Mark com uma faca ou a Reese atuando como médica. Mas o que gosto mesmo é como um paisagista desempregado consegue montar um jardim do Éden super caro em dez minutos. Em seu favor, o filme não condena uma gostosona que quer transar com o herói. Já é menos moralista que a maioria, né? Se fosse outra produção, a moça sofreria uma morte horrível por tentar uma pobre alma, ou no mínimo teria que ser exorcizada.
Chega uma hora em “Exorcismo” que o padre transmite um recado pra mim: diabos existem, quer a gente acredite neles ou não. Bom, diabos são um pouco como a Reese Colher. Pode ser que existam, mas eles não chegam muito perto pra incomodar uma incrédula como eu. Graças a Deus.