CRÍTICA: O SENHOR DAS ARMAS / Um senhor filme
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CRÍTICA: O SENHOR DAS ARMAS / Um senhor filme


Digo com todas as letras: “O Senhor das Armas” é um senhor filme. Um filmaço. Definitivamente um dos melhores do ano. Eu amei. É um excelente acompanhamento pra “Tiros em Columbine” e “O Jardineiro Fiel”. Dá pra fazer uma sessão tripla com essas três películas bem de esquerda e sair de lá uma pessoa mais inteligente, ou ao menos mais pacifista. É constrangedor que “Senhor” tenha sido antecipado aqui no Brasil pra coincidir com o referendo e que ele não tenha influenciado ninguém a votar “sim, vamos proibir logo o comércio dessas drogas de armas”. Desde o início a produção já deixa clara sua posição: nos créditos seguimos a trajetória de uma bala, da linha de montagem até a testa de um garoto. Essa é a única missão que uma bala tem na vida, explodir os miolos de alguém. Já nessa seqüência vemos que armas são fabricadas e usadas exclusivamente por homens. As raras mulheres que aparecem no filme são modelos, esposas dos chefões ou, claro, vítimas. Ou seja, automaticamente, metade da população mundial deveria ser contra as armas. Então por que parece que eu sou a única pateta no planeta que acha que a vida seria melhor sem rifles e afins?

“Senhor” mostra a força de um ótimo roteiro, escrito (e dirigido) pelo Andrew Niccol, que fez “Gattaca” e roteirizou “Truman Show”. A narração em off avisa que uma em cada doze almas possui arma de fogo. E conta, em primeira pessoa, com incansável cinismo, o destino de um contrabandista de armas, que vende equipamento mortífero pra vários países, principalmente pros africanos, pra que eles possam se liquidar mutuamente. O traficante diz que vendeu pra todo mundo, menos pro Bin Laden, e não por motivos morais, lógico, mas porque na década de 80 os cheques dele voltavam. Quem faz essa figura trágica que é o traficante é o Nicolas Cage, no seu melhor papel desde “Despedida em Las Vegas” (e isso tem dez anos!).

Bom, o filme oferece tantas tiradas maravilhosas que eu preciso contar algumas. Por exemplo, ao explicar o desmantelamento da União Soviética e louvar uma metralhadora disputadíssima, Nicolas diz “uma coisa é certa: ninguém tava comprando os carros deles”. E Hollywood tem uma ponta como catálogo de armas. Assim: um sujeito encomenda a bazuca do “Rambo”. E o Nicolas: “Qual? A do I, II ou III?” Porque em cada um o Stalla exibe um modelo diferente. Tem também os caminhões da ONU que trazem mantimentos pras vítimas africanas. Quando os alimentos são descarregados, os caminhões podem transportar as metralhadoras tranquilamente. Mas o traficante cínico explica pra um agente que o persegue que preferia que o pessoal usasse suas armas e munições sem acertar os alvos. Daí ele venderia ainda mais. Mais tarde, devido à pressão conjugal, Nicolas tenta ser honesto e mudar de ramo. Ele decide fazer algo perfeitamente legal: explorar países em desenvolvimento (ói nós aqui outra vez!). Só que infelizmente o lucro não é grande coisa, já que muita gente faz isso, sabe como é.

Há também uma reflexão interessante sobre a AIDS. Como, na Libéria, 25% da população está infectada, o Nicolas acaba recusando os favores sexuais de duas modelos. Uma delas lhe diz que isso é besteira – por que, afinal, se preocupar com uma doença que leva dez anos pra matar quando tantas outras coisas podem matar tão mais rápido na África? Depois a gente ouve que o maior contrabandista de armas do universo é o Bush. E qualquer filme que expõe um ditador sanguinário comemorando a fraude das eleições americanas de 2000, porque agora ele também pode afirmar que seu país é uma democracia, merece ser visto. Minha única crítica é quanto à trilha sonora, um tanto óbvia demais. Acho que é óbvia de propósito, mas enfim, não dá pra usar a música do “Aleluia” ironicamente quando “Edukators” fez isso agora a pouco (aliás, tem como usar essa canção a não ser ironicamente?).

A mantra que o traficante repete pra se justificar, de que armas são apenas um meio de defesa, é o argumento dos 65% de brasileiros que votaram “não”. Se você foi um deles, vai por mim: veja o filme pra se arrepender.





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