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CRÍTICA: PLANETA DOS MACACOS, A ORIGEM / Viva a (r)evolução
A Terra A.C. (Antes de César, o macaco brincando no parquinho)
Gostei muito de Planeta dos Macacos: A Origem, e fico na expectativa para todo o renascimento da franquia que virá. O filme original de 1968 (terrivelmente refilmado por Tim Burton em 2001) é um clássico totalmente camp (o que é aquela humana ― chamada de “fêmea” ― que passa o filme todo encarando o Charlton Heston sem camisa?) mas com boas intenções: mostrar um mundo em que os humanos são tratados como animais irracionais e, assim, escravizados, expostos em zoológicos, usados para experimentos científicos... Pra tragédia ficar completa, só faltaria sermos usados como alimento de uma espécie superior (se você estivesse aqui do meu lado agora, sentiria o meu cotovelo na sua barriga, de leve). Todo esse mal-estar da civilização se mantém nas quatro sequências posteriores, todas dos anos 70. E volta agora com tudo nesta espécie de prequel (que na realidade é baseado no quarto filme, de 1972, Conquista do Planeta dos Macacos, sem ser oficialmente um remake).
Em Origem, somos completamente (parafraseando Crepúsculo) team monkey. Torcemos pelos símios, que parecem mais humanos (como se isso fosse elogio!) que os originais de fábrica. O protagonista é o James Franco (o bonitão que foi tão mal como apresentador do Oscar, mas que estrelou, como bem descreveu um rapaz, “aquele filme angustiante sobre o sujeito que cai num cânion, fica com o braço preso sob uma rocha e passa 127 horas sem internet”). Ele faz um cientista que tem como pai o John Lithgow (adoro o John desde O Mundo Segundo Garp, em que ele faz uma travesti, e ele tá inesquecível como o passageiro que vê um monstrinho destruindo a asa do seu avião no melhor episódio de Twilight Zone), que por sua vez tem Alzheimer. Essa é a senha pra gente perdoar tudo que James faz de errado ― é tudo em nome do pai. Ele até leva um chimpanzé bebê super fofinho pra casa pra fazer companhia pra ele. Só que não é um chimpanzé de verdade, ou uma pessoa vestida de primata. Incrível que todos os macacos do filme sejam computadorizados, algo aplaudido pelas organizações que são contra explorar animais para o entretenimento humano. Normalmente não sou grande fã de animais computadorizados (eles sempre me parecem artificais, rápidos e perfeitos demais), mas estes estão ótimos quase sempre. Principalmente o Andy Serkis (que interpretou o Gollum em Senhor dos Anéis e o Kong, King Kong em... você sabe), que faz César, o macaco principal. Andy está tão fantástico que podem querer indicá-lo pro Oscar de coadjuvante, e aí vai ser um problemão: um ator cujo rosto nem aparece na tela pode concorrer?
Como em outras espécies próximas, César fica bem chatinho quando chega à adolescência (é brincadeira, tá? Sempre me dei bem com adolescentes). Lembro que em algum filme da série Planeta a cientista símia recomenda que um macaco não adquira um humano teen, fonte certa de complicações. Pra mim o César é bem assustador porque a gente vê sua mãe ficar zangada, e ela é perigosa. A gente espera que a agressividade dela vai aparecer nele, e durante um tempo essa é uma boa fonte de suspense. Quer dizer, pelo que li, todo mundo achou terna aquela cena em que César pega o garfo da mão do John. Menos eu! Eu pensei que aquele macaco teen fosse se rebelar bem naquela hora, e com um garfo na mão!Por falar na mãe de César, há apenas duas fêmeas na história inteira, e ambas aparecem pouco. A primeira é a mamãe, a primata que dá à luz nosso herói, e é morta por protegê-lo. A outra é a veterinária (sua profissão é um detalhe) e namorada do James, a Freida Pinto (Quem Quer Ser um Milionário?), que é linda e tal, mas parece ter quinze anos. Freida está lá pra pegar no pé (moralmente falando) do James. E, sei lá, pra justificar que César, do nada, apareça de calça comprida? Pra que um macaco, que já é peludo, precisaria de roupinha?
A gente não sabe por que diabos César se veste, ou de quem é a ideia de jerico que ele precise cobrir suas partes pudentas. Não sabemos se essa é uma imposição de Freida, James, ou do próprio César. Ou da sociedade, que nem é assim tão vilã. A maior vilã do filme é uma empresa farmacêutica que só pensa nos lucros (como em O Jardineiro Fiel). É a ganância da indústria, e os testes anti-éticos com cobaias, que serão o estopim pro desastre que vem no filme. Bem diferente de Extermínio, em que defensores de animais são os responsáveis pelo apocalipse. Outros vilões em Origem são o exército e a polícia, sempre doidinhos pra reprimir qualquer insurreição dos oprimidos, e um sádico tratador de animais. Não há macacos malvados, apenas macacos não muito inteligentes. Mesmo quando eles brigam por território no abrigo ― que, a julgar pela ausência de fêmeas, deveria se chamar Planeta dos Macacos Machos ―, eles não fazem por mal. César é um líder altruísta, que prefere ficar entre os seus que voltar a ser o bicho de estimação paparicado e protegido de um humano. Ele é Spartacus. É muito comovente quando os primatas decidem enfrentar os humanos, ao invés de fugir apavorados (como acontece no início do filme). E quando uma história tem revoltas e revoluções, meu coraçãozinho vermelho sempre palpita pelos guerreiros de esquerda.
A franquia tem tudo pra ser fascinante. Aguardo ansiosa o próximo filme. Primeiro porque, imagino, haverá mais menções à epidemia (um vírus que mata humanos, não símios), e eu adoro histórias de epidemia. Depois que vai ser interessante mostrar como os humanos perdem sua posição de bambambans do universo. Também espero que novos filmes da série expliquem como primatas que no princípio só querem algum tipo mínimo de igualdade se transformam em bichos autoritários, supersticiosos e militaristas, tão parecidos com um outro bicho aí que conhecemos tão bem.
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