Nunca li o clássico da literatura infanto-juvenil. Primeiro, porque o tema não me atrai. Duendes, elfos, anões, hobbits, smurfs, tô fora! Segundo, porque o título me remetia imediatamente a um outro clássico da minha adolescência, “O Senhor das Moscas”, que adoro. Mas entendo que os tais dos anéis tenham uma legião de seguidores. E é possível que, para eles, a versão cinematográfica seja mágica, fantástica, mítica, entre outros adjetivos que críticos jabazentos distribuem sem sentimento de culpa. No entanto, para mim, mera mortal, o filme não disse nada. Quer dizer, pareceu que a tela sussurrava “duuurma...”. E eu obedeci.
“Senhor” tem quatro categorias de seqüências: closes de anel, cenários deslumbrantes da Nova Zelândia, closes de nariz de ator, e lutas. Só. Minto. Às vezes, a câmera focaliza espadas também. Estas cenas vão se intercalando, formando um efeito hipnótico que leva o espectador menos iniciado no mundo de Tolkien ao sono profundo. Vi muita gente dormindo e se mexendo sem parar nas cadeiras. Ouvi inúmeros bocejos. Fiquei contente em perceber que estas não foram somente as três horas mais longas da minha vida. E pensar que o slogan da superprodução é “A lenda ganha vida”. Esses publicitários têm senso de humor, não se pode negar.
Ahn, a história? É o básico. Aquela ladainha do bem contra o mal. Em algum lugar na terra, em alguma época que lembra Idade Média, mas não é, foi cunhado um anel que dará forças sobrenaturais de domínio. Mais ou menos os poderes absolutos que o ministro Cavallo tinha pra afundar a Argentina. É como se o Bush, ou o Bin Laden, usasse um anel. Um hobbit (que é um ser menor que um anão, com pés peludos e orelhas pontudas, sem ser verde) precisa destruir o anel, levando-o a um vale amaldiçoado. Oito criaturas vão com ele, a confraria dos espadas, imagino. Eles enfrentam mostrengos diversos no caminho. Não se engane com o que estou escrevendo – a trama não é tão excitante assim, como parece no papel. A menos que você se entusiasme com enredos do tipo “Passolargo e Frodo Bolseiro encontram-se no Pônei Saltitante”.
E tudo no filme é tenebroso? Não, claro que não. Pra não dizer que não falei das flores, a paisagem neozelandesa é belíssima. Deve existir um vídeo da National Geographic mostrando as mesmas cenas, sem durar uma eternidade. Tem também os incríveis efeitos especiais. Pena que não dê pra vê-los, pois tudo está envolto num breu danado. Tudo bem que a trama se passe na Idade das Trevas, mas isso é ridículo. Agora, com 450 milhões de dólares, até eu crio efeitos de ponta! Aliás, os vilões meio símios que têm lá me lembraram as máscaras de “O Planeta dos Macacos”, só que com a maquiagem borrada. O que mais “Senhor dos Pastéis” traz de bom? Ah, a música. 95% do filme tem trilha sonora de fundo. Ela é horrenda, daquelas exageradamente melodramáticas, mas serviu pra embalar meu sono e cobrir meus roncos.
O hobbit interpretado pelo Elijah Wood é a cara da mediocridade. É hoje que serei linchada, mas convenhamos: o Frodo é froda. Aqui em Joinville tem Fritz e Frida, e ninguém faz um filme sobre eles. Há outros seres esquisitões no filme, nenhum com o qual possamos nos identificar. A vantagem é que ninguém fala muito, a não ser quando tem três flechas cravadas no peito. Aí, o sujeito desanda a tagarelar.
A trilogia custou US$ 450 mi e já está prontinha. A próxima parte, que se não me engano chama-se “As Duas Torres (Gêmeas?)”, virá no final do ano. Estou louca pra vê-la, lógico, mas infelizmente estarei ocupada. O maridão crê que boa parte da grana foi usada pra pagar os críticos. Como ele é injusto! Eu garanto que não recebi um centavo. Olha, depois de ver este tédio monumental, este trekkie medieval, vou precisar de um medicamento élfico. “Xuxa e os Duendes”, depois dessa, não tenho mais medo de ti!
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