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CRÍTICA: SIDEWAYS / A vida é uma jujuba
“Sideways – Entre Umas e Outras” tirou o Oscar de melhor roteiro adaptado de outro road movie, “Diários de Motocicleta”, e todos os críticos americanos ficaram contentes. Esses profissionais montaram um altar de adulação pra este filme que, pra eles, é disparado o bam-bam-bam do ano passado. Não sei exatamente quais são os fatores de identificação, mas deve ter a ver com um dos personagens ser um escritor frustrado. Ou isso ou os críticos adoram vinho, ou adoram a Califórnia, ou têm uma fixação pelas ex-esposas. Quero dizer, eu gostei de “Sideways”, mas jamais diria que é uma obra-prima. E claro que o respeitável público da terra do Tio Sam não recebeu a produção com tanto ardor. Enquanto a crítica baba com as metáforas do tipo “vinho é vida” e vice-versa, os espectadores representantes da direita cristã dizem, com indignação: “Há pessoas nuas fazendo sexo neste filme!”.
Pois é. “Sideways” é meio que a história definitiva sobre vinhos, o que pra mim não diz nada. Se fizessem uma trama em que os personagens proferem “jujuba amarela é vida”, eu ficaria tão emocionada quanto. Não sei, talvez um filme sobre o valor terapêutico do chocolate me tocasse mais fundo. Por exemplo, a personalidade de quem gosta de chocolate amargo difere muito da de quem gosta de chocolate branco, que nem chocolate é, mas mesmo o intelecto de quem gosta de chocolate branco deve ser superior ao de quem prefere jujubas amarelas. Na verdade, a minha fala favorita em “Sideways” vem quando o Paul Giamatti adverte o amigo: “Se alguém pedir um Merlot (ou sei lá a marca do vinho), eu vou-me embora”. Paul faz um amante dos vinhos, o que não é um enólogo, mas um enófilo. Aprendi na Internet que enólogo é quem produz vinhos. Ele leva seu amigo, Thomas Harden Church, prestes a se casar, para uma viagem de degustação. Os dois estão em plena crise de meia-idade. Paul é um depressivo, Thomas um mulherengo narcisista. O começo é um pouco chato – o maridão dormiu, minha mãe queria ir embora –, mas o filme toma seu rumo quando os homens conhecem Virginia Madsen e Sandra Oh, e torna-se francamente hilário, farsesco até, no seu terço final. Todo o elenco está ótimo, mas pra mim a imagem que fica é a do sorriso sem-vergonha do Thomas. Ele, e não o Paul, é a alma da história, por misturar melhor elementos cômicos e dramáticos.
Nisso, diga-se de passagem, o diretor e roteirista Alexander Payne é especialista. Sou grande fã dele. Adorei “Eleição”, gostei bastante de “As Confissões de Schmidt”, e menos de “Ruth em Questão”. Não tem muito diretor hoje em dia que faz quatro filmes acima da média, e por isso o carinha merece todos os louros. Mesmo que os personagens masculinos de “Sideways” não sejam modelos de caráter, Alexander tem carinho por eles. Assim: Paul guarda um Cheval Blanc de uma safra aí pra uma ocasião especial, e a gente aguarda essa ocasião. Quando ela surge o sabor é bem agridoce. Eu diria até que é um sabor próximo ao de algum vinho, se eu soubesse distinguir vinho branco de tinto. A cor é diferente, né?
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