89 pessoas votaram na enquete, e e disputa esteve acirrada desde o início. Na lanterna ficaram Spike Lee (do brilhante Faça a Coisa Certa, sua única obra-prima até agora), e Sidney Lumet. Sidney está velhinho – ontem fez 84 anos -, mas continua na ativa. Acabou de quase ser indicado ao Oscar por Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto. Seus grandes filmes incluem Doze Homens e Uma Sentença (o de 1957, com Henry Fonda; um dos melhores filmes de júri já feitos), Um Dia de Cão, O Veredito, Rede de Intrigas e, na minha modesta opinião, O Peso de um Passado (de 88, e que tem a melhor atuação do River Phoenix). Mas este último não sei se mais alguém além de mim considera um grande filme. Só sei que eu choro baldes todas as vezes que assisto.
3% votaram no David Lynch. Eu gosto dele, mas jamais a ponto de considerá-lo um dos grandes, porque ele é muito irregular. Tem quem veja Veludo Azul como o grande filme dos anos 80 (eu não). Prefiro O Homem Elefante (foto). Gosto de Cidade dos Sonhos (apesar de não ter entendido muita coisa), de História Real, de Coração Selvagem, e do Twin Peaks feito pra TV. Mas todos esses filmes juntos não têm o peso de um Taxi Driver, por exemplo.
Com 4% cada um vêm Brian de Palma e Francis Ford Coppola. Olha, o De Palma ter tão poucos votos eu até entendo. Quais suas obras-primas? Carrie (talvez), Os Intocáveis, e Um Tiro na Noite? É pouco. Mas o Coppola merecia votação mais expressiva, gente. Ele fez A Conversação, O Poderoso Chefão 1 e 2, Apocalypse Now, e O Selvagem da Motocicleta (foto) que eu adoro. Três desses filmes geralmente recebem destaque nas listas dos melhores filmes de todos os tempos. E coitado, ele tá em atividade (ano passado dirigiu Youth Without Youth), mas tem caído tanto que todo mundo prefere fingir que ele se aposentou. Ele foi talvez o maior diretor americano logo no ano que muitos consideram a maior década do cinema americano, a de 70. É hiper importante.
5% votaram nos irmãos Coen. É cedo ainda. Apesar da alta qualidade de O Homem que Não Estava Lá, Barton Fink, Ajuste Final, Arizona Nunca Mais (foto) e Onde os Fracos Não Têm Vez (não faço parte da legião de fãs do seu primeiro filme, Gosto de Sangue, e nem do cultuado O Grande Lebowski), pra mim eles só têm uma obra-prima até agora, Fargo. Eles são jovens (54 anos) e talvez, daqui a vinte anos, numa outra enquete, eles possam ficar no topo.
Aí chega o Tarantino, com 7%, que saiu na frente mas empacou no meio. O cara é excelente, e só pode negar quem não gosta do seu estilo (que não é pra todo mundo, e que tem mais a ver com diálogos longos e às vezes desconexos que com violência). Senão, vejamos: qualquer um que dirigiu um dos melhores filmes dos anos 90 (Pulp Fiction) merece ser considerado. Mas Taranta fez mais. Cães de Aluguel é uma estréia pra ninguém botar defeito. Eu amo Jackie Brown (foto), embora saiba que não está no mesmo patamar. Tanto o Volume I quanto o II de Kill Bill são incríveis. As besteirinhas que ele fez pra Grande Hotel e Sin City não contam (e mesmo o maridão, que adora CSI, achou fraco o episódio dirigido pelo Taranta). E À Prova de Morte nem dá pra considerar um longa, se bem que eu acho a melhor parte de Grindhouse, disparado. Gente, é muito filme bom, ainda mais pra quem só tem 45 anos.
Com 8%, é a vez do Clint Eastwood, que já dirigiu quase trinta filmes. Mas aí é que tá o problema: alguém consegue citar de cabeça mais de três ou cinco? Pra cada Pontes de Madison (que gosto muito; foto) ele entrega um Cowboys do Espaço. Tem quem babe por Bird, Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal, e Cartas de Iwo Jima. Eu não. Eu só babo mesmo por Imperdoáveis.
Surpreendentemente, pra mim, Paul Thomas Anderson ficou com 10%, em quarto lugar. Hoje é seu aniversário, tá fazendo 38 anos. E tem cinco longas até agora: Jogada de Risco, Boogie Nights, Magnólia (foto), Embriagado de Amor, e Sangue Negro. Todos filmes respeitáveis, talvez com exceção do veículo pro Adam Sandler, Embriagado. Mas gente, não dá pra compará-lo a um Coppola. Nem a um Taranta, né? Não ainda.
Martin Scorsese ficou em terceiro, com 12%. É um desses monstros sagrados do cinema. Eu não sou tão fã de Touro Indomável ou de Os Bons Companheiros, mas adoro Taxi Driver, e outros que parece que só eu adoro, como A Cor do Dinheiro e O Rei da Comédia (foto). E Infiltrados? Pra mim é um senhor filme (não posso dizer o mesmo de Cabo do Medo ou A Era da Inocência, pelos quais não nutro nenhum carinho).
O segundo lugar na enquete, com 16%, ficou com o Spielberg. Por mim tá muito bem merecido. Já falei dele aqui e aqui.
E em primeirão, com apenas dois votos na frente do Spielberg: Woody Allen. Ele é um fênomeno mesmo. 73 anos, mais de quarenta filmes, dos quais pelo menos oito são obras-primas. Recentemente vi em DVD Scoop-O Grande Furo e O Sonho de Cassandra (foto), e gostei muito dos dois. Ele pode não atrair público, mas continua fazendo bons filmes. Na base do um por ano. Ah, quem dera o Kubrick tivesse sido assim tão produtivo!