CRÍTICA: SINÉDOQUE, NOVA YORK / Por obséquio, não entendi lhufas
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CRÍTICA: SINÉDOQUE, NOVA YORK / Por obséquio, não entendi lhufas


Philip limpa apartamento da ex sem ela saber que ele existe.

Vi Sinédoque, Nova York esses dias (mas não no cinema, que ele não chegou aqui de jeito nenhum), e lamento dizer que depois de “three strikes, you're out” (tá, é um termo de baseball, ninguém vai entender, tipo “três erros e você está fora”), e que agora é oficial: definitivamente não estou entre os fãs do Charlie Kaufman. A primeira vez que ouvi falar nele foi ao ler o roteiro de Quero Ser John Malkovich. Ri bastante com o script, achei bem escrito, mas o filme me decepcionou. Não o achei nada engraçado. Aí vi Adaptação, que eu até gosto - isto é, até a metade. Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças tenho que ver de novo pra entender por que tanta gente (confiável, de respeito) acha o troço uma obra-prima. Quer dizer, adoro o Jim Carrey e a Kate Winslet, e o filme é fofo, mas não ao ponto de merecer ser posto num pedestal e eu gritar várias vezes por dia “Ave, Kaufman!”. Agora ele acaba de dirigir seu primeiro trabalho, Sinédoque. E não há como negar que Kaufman seja inventivo, original, um banho de alegria num mundo de água quente. E totalmente distante do cinemão americano. Ele tá mais pra Ano Passado em Marienbad e pro tipo de cinema que era feito (pela vanguarda) nos anos 60. Tem muita coisa que me agrada daqueles tempos, mas também me vem à mente alguns slogans, como “o diretor é um gênio; o filme é uma m****”. Porque alguns filmes eram bem ruins, ou pelo menos soam datadérrimos hoje em dia. Atualmente há diretores pretensiosos que fazem algo parecido. E eu não sinto atração alguma por, sei lá, Viagem a Darjeeling. Nessas horas eu só penso na gozação que fazem com o Michael Gondry, falando que Rebobine Por Favor foi o acontecimento cinematográfico mais importante desde Os Excêntricos Tenembauns.
Então. Não vou fingir que entendi do que trata Sinédoque (ou certas obras do David Lynch), porque estaria mentindo, e eu não minto. Sine começa bem, com o casamento em crise de um diretor de teatro feito pelo grande Philip Seymour Hoffman (que pra mim está meio contido aqui) com a cada vez mais linda Catherine Keener, que faz uma artista plástica que pinta quadros tão pequenos que é preciso vê-los com lupa. A filha deles é uma graça, e posso jurar que é interpretada pela menininha filha da Kate em Pecados Íntimos. E considero tudo uma enorme coincidência, já que estou escrevendo sobre Felicidade, que tem o Philip e a Jane Adams, que tá em Pecados também, e daqui a pouco vou ter que fazer os seis graus de separação com o Kevin Bacon. Tá tudo interligado. Bom, o casamento de Philip e Catherine naufraga, o tempo voa, e eu não consigo distinguir a Samantha Morton (de Minority Report) da Emily Watson (de Dragão Vermelho). Pensei que fossem a mesma pessoa. Eu acho legal que uma delas more numa casa pegando fogo, e é sempre um prazer ver a Jennifer Jason Leigh, ainda mais com sotaque alemão, e a Dianne Wiest (fingindo ser homem numa cena). Mas quando o filme passa da metade e chega um momento em que o Philip recebe um prêmio pra fazer o que quiser, e ele decide montar uma produção teatral que leva dezessete anos, o filme me perdeu. Eu desisti dele. Porque dá a impressão que os dezessete anos passam inteirinhos, na íntegra. Tem uns trinta finais, sabe? O filme não termina nunca, e eu pensando, “Dá licença? Sexta tenho que defender minha tese”. Eu não vejo problema em não entender um filme durante metade do tempo. Mas quando noto que o diretor/roteirista está discursando pra si mesmo e não tem o menor objetivo de clarificar alguma coisa, aí eu já fico com o pé atrás. Os dois pés.
Mas o que se pode esperar de um título como Sinédoque, que 99% da população precisa procurar no dicionário pra saber que significa a substituição de um termo por outro? Este é um filme pra poucos. Se você for um dos poucos, legal, sinta-se especial. Se não for, como eu, bem-vindo à exclusão total. Ando rimando muito ultimamente.




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