CRÍTICA: TIROS EM COLUMBINE / Alvos fáceis
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CRÍTICA: TIROS EM COLUMBINE / Alvos fáceis


Como um dos filmes mais esperados do ano (passado) não chega aqui de jeito nenhum, tive que ir até este centro cinematográfico, esta capital cosmopolita que é... Blumenau (adoro a cidade, só não entendo como tudo passa lá antes). Então, fui ver “Tiros em Columbine”, o documentário de quem deve ser o documentarista mais famoso do mundo: Michael Moore. Em março, o gorducho apareceu na cerimônia do Oscar pra receber sua estatueta e fez o discurso mais polêmico da noite, lembra? Falou de presidentes fictícios travando guerras fictícias. Nada de inédito pra quem escreveu um best-seller chamado “Homens Brancos Estúpidos”, cujo personagem central é a múmia do Bush. Eu me sinto muito à vontade pra xingar o dito-cujo agora que uma pesquisa revelou que o Brasil é um dos países mais anti-americanos do universo. Brasil-sil-sil! Tô em casa. “Tiros” é um prato-cheio pros que acreditam precisar de mais munição pro seu anti-imperialismo, os ingênuos.

Gostei pra valer do documentário até a metade. É alto-astral, educativo e cheio de humor. Parecia uma comédia da tragédia ianque, de morrer de rir mesmo. Eu ri quase tanto quanto no último filme com o Jim Carrey. Também, pudera: Michael mostra membros do NRA, a Associação Nacional de Rifles, tentando posar de normais. A gente assiste caipiras clamando que cidadania significa defender o estado por conta própria e que todo filho patriota do Tio Sam deveria ter o seu fuzil MR-15. Sabe, essas coisas que fazem a gente pensar: ESTE é o povo mais poderoso do planeta?! Milênios de civilização pra chegar a este tipinho de ideologia? Em seguida, Michael conversa com o irmão de um dos homens que explodiram o prédio em Oklahoma. O sujeito, visivelmente perturbado, dorme com uma pistola carregada embaixo do travesseiro. Michael argumenta que a Constituição não limita o direito à posse de armas às armas de fogo. Podem ser armas nucleares, se o cidadão preferir armazenar plutônio em seu quintal. Mas o sujeito acredita que deve haver alguma espécie de controle porque, afinal, tem muito louco à solta por aí. E o documentário ainda insere um número hilário do comediante Chris Rock, que afirma que controlar armas é besteira. Devemos é controlar as balas, ele diz. Se cada bala custasse 5 mil dólares, o pessoal iria pensar bem antes de atirar (mais adiante no filme, vemos que as balas que mataram os alunos em Columbine foram compradas no Wal-Mart por 17 centavos cada).

Tem também uma montagem didática (e sem novidades no front pra quem estudou história) sobre como a CIA vem derrubando líderes democraticamente eleitos no resto do mundo nos últimos cinqüenta anos, e um desenho animado excepcional à la “South Park” apresentando um resumo do medo nos EUA. A pergunta que “Tiros” coloca é: por que os americanos são campeões em atirar contra si próprios se, em outros países ricos, o pessoal também porta armas? E a tese é mais ou menos que, nos States, impera uma cultura do medo. Ou seja, os americanos aprendem, através da mídia, a viverem eternamente apavorados. Esta paranóia coletiva faz com que consumam mais. Tudo interligado com o racismo (o filme exibe as conexões entre o NRA e a Ku Klux Klan). Pra comparar, Michael vai até o Canadá pra demonstrar que lá os moradores não trancam suas portas.

“Tiros” é duca na sua primeira hora. Depois, Michael decide que fazer rir de um material tão explosivo não é corrosivo o bastante, e parte pra salvar o mundo com suas próprias mãos. Aí fica bem piegas quando ele leva dois sobreviventes de Columbine ao Wal-Mart pra devolverem as balas remanescentes em seus corpos. E a entrevista com o presidente honorário do NRA e fascista de plantão Charlton Heston (o astro de “Ben-Hur”) deixa a desejar. Parece que Michael quer dizer: tá, fazer documentário é bom, mas tem que participar. Quando ele põe a mão na massa, a massa fica uma bagunça. Pena. Mas, claro, isso não significa que “Tiros” não seja um programão obrigatório pra quem ainda finge se surpreender com a estupidez americana.





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