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CRÍTICA: TITANIC / Entre de gaiato no navio
Aleluia, irmãos! A Globo passa hoje e sexta um filme de verdade, não aqueles enlatados que ela compra por quilo. Trata-se de "Titanic", o maior arrasa-quarteirões da história do cinema, com mais de dois bilhões de dólares arrecadados mundialmente. Tudo bem, entendo que este é justamente o motivo pra você torcer o nariz para a produção. Mas vamos afastar os preconceitos e reconhecer que "Titanic", apesar de não ser nenhuma obra-prima, é um excelente programa. Quando assisti ao filme no cinema, em 97, gostei, só que não achei nada demais. Não compreendia aquelas filas que davam voltas e lotavam todas as sessões. Eu nem chorei, e olha que meu marido não me chama de "manteguinha derretida" ou "trapinho humano" à toa. Ah, eu vi uma vez apenas, ao contrário das adolescentes e pré, que prestigiaram o navio umas oito vezes cada uma, em média. Na hora do blockbuster bater o recorde de indicações ao Oscar, e arrebatar nada menos que onze estatuetas, não fiquei contente. E não aguentava mais ouvir a xarope música tema da Celine Dion.
Continuei menosprezando "Titanic" até vê-lo de novo recentemente, quando a "Speak Up" o lançou com legendas em inglês. Aí, longe do oba-oba, pude apreciar o filme pelo que ele é, não pelo que representa (um símbolo da globalização e da força da grana que ergue e destrói coisas belas etc). E o que é "Titanic"? Basicamente uma estória de amor com um pano de fundo histórico.
A parte romântica dos dois jovens de classes diferentes que se apaixonam seria bastante banal, se não fosse a atuação cativante dos protagonistas e o ritmo pulsante do diretor James Cameron, que não deixa a peteca cair. Não me entusiasmo muito com as interrupções didáticas da velhinha e do caçador de tesouros, mas elas são curtas e não chegam a comprometer o andamento.
Convenhamos: só porque o Leonardo Di Caprio virou símbolo sexual para meninas que nem sabem o que é sexo não faz dele um mau ator, né? O Leo é ótimo e até se arrisca na escolha dos seus papéis. Mas desconfio que o verdadeiro sucesso de "Titanic" junto ao sexo feminino de certa faixa etária esteja na Kate Winslet. Primeiro, porque ela não acompanha o padrão de beleza à la Etiópia (ossos à mostra; a estética da fome, vocês sabem). Depois, porque ela é desconhecida do grande público. Já tinha mostrado seu talento em "Almas Gêmeas" e "Razão e Sensibilidade", mas quem vê filmes de arte? A garotada se identifica com ela e acredita que, se ela pode ser uma estrela, então há esperança pra todas.
O atrativo principal é mesmo participar de um evento famoso e ver, com abundância dedetalhes, o transatlântico afundar – ih, contei o final do filme! A gente se sente como se estivesse a bordo. A reconstituição de época é impecável e quase que justifica os 200 milhões de dólares gastos e o perfeccionismo megalomaníaco do diretor (que ainda hoje deve se arrepender de ter dito "eu sou o rei do mundo!" na cerimônia do Oscar). E os efeitos especiais? É bárbaro assistir a um navio se partir ao meio. Adoramos tragédias. Lembram do "Destino do Poseidon"? Era super brega, mas quem resiste a uma catástrofe bem contada?
Tá, tá, é claro que "Titanic" não precisava fazer dos ricos vilões unilaterais e dos pobres, os salvadores da lavoura. Aliás, é pouca vergonha esta opção preferencial pelos pobres por parte de Hollywood, uma indústria que cultua o dinheiro. Digamos que o Cameron não leva uma vida exatamente pautada pelo baixo poder aquisitivo. Porém, o filme mostra um certo conflito social – e mostra também que os pobres perdem.
E há uma outra minúcia que os críticos não notaram, e que denota alguma ousadia: a personagem de Kate Winslet não é virgem quando transa com o Leo. Como são figuras fictícias, seria moleza exibir o casal central como modelo de pureza que descobre o sexo pela primeira vez juntos; essas baboseiras que o público adora. Mas não.
A verdade? "Titanic" é um colossal entretenimento. Não dá pra ser contra só porque é disso que o povo gosta.
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