A Cameron é a estrela de “Amor”, junto com a Kate Winslet (de “Titanic”), que me pareceu constrangida. A Kate tem abdicado da carreira pra cuidar do casamento com o Sam Mendes (diretor do excelente “Beleza Americana”). Já a Cameron não é boba de abrir mão do seu ganha-pão pelo Justin Timberlake (pra falar a verdade, não sei mais se continuam juntos. Por sinal, a melhor piada de “Procura-se um Amor que Goste de Cachorro” ocorria quando um adolescente chamava a Cameron de velha). Em “Amor”, Cameron mora em Los Angeles, Kate perto de Londres, e ambas estão desiludidas com suas vidas amorosas. Decidem trocar de ares no Natal. E obviamente as duas vão encontrar o verdadeiro amor. É um pretexto pra ver gente bonita em cenários bonitos. O único diferencial é que quem faz par com a Kate é o Jack Black (de “Escola do Rock”), e bom, o que o Jack tem de bonito são as sobrancelhas do Jack Nicholson. Digamos que, se o Jack Black batesse na porta da Cameron Diaz ou da maior parte da população feminina bêbado, no meio da noite, acho que ela chamaria a polícia e torceria pra que o policial que viesse atendê-la fosse a cara do Jude Law.
O Jude, que tá pra lá de careteiro, faz o papel de homem perfeito. Um breve perfil do que é um homem perfeito em comédia romântica: ele precisa dizer que é sensível e que chora sempre, mas nunca chorar em frente à câmera, pra não se enfraquecer. Tem que ser rico, claro, com um trabalho que não exija nada dele. E o estado civil ideal é viúvo aos 30 e poucos anos. Amar é nunca ter que competir com a ex. Tá, primeiro eu fiquei pensando se valeria a pena ter algo a mais que uns encontros sexuais com um cara que, apesar de lindo, continua se embebedando até cair. Mas é só refletir um pouco pra ver que o personagem não faz o menor sentido. Ele é viúvo e vive pras filhas. Não interessa que as meninas possam ser convenientemente despachadas pra vovó de vez em quando. Um cara com uma responsabilidade dessas não vai beber até ficar inconsciente e dirigir bêbado, vai? Ou senão o sujeito não é um pai tão maravilhoso assim. Ah, e Jude e Cameron protagonizam uma variação sobre o tema. Sabe aquela cena que ninguém mais agüenta, de um casal pós-coito na cama com o lençol cobrindo a parte de baixo do cara e indo até o pescoço da moça? Aqui evitam isso deixando o lençol na parte de baixo dos dois, e a Cameron de sutiã, porque o filme tem que ser liberado pra menininhas, e o contrato da atriz proíbe nudez. Pra mim fica um pouco difícil acreditar que uma super noite de sexo ardente foi feita com uma mulher que nem sequer tirou o sutiã.
Mas a Nancy Meyers entende tudo de comédia romântica, pois foi ela quem dirigiu os bonitinhos “Do que as Mulheres Gostam” e “Alguém Tem que Ceder”. Então ela deveria saber que as quase duas horas e meia de “Amor” são insuportavelmente longas. Deveria saber que o personagem da Kate é de uma chatice só. Deveria saber que o público não é tão bobo: quando a gente ouve que a Cameron não chora desde os quinze anos, a gente tem absoluta certeza que até o final do filme ela vai abrir o berreiro. E o roteiro tem que ser sensacional pra gente não engasgar com o merchandising ostentoso do Hugo Boss e FedEx, entre outros. Do jeito que “Amor” ficou, só me resta dizer, com toda a delicadeza que me é peculiar: às vezes, comédia romântica é um pé no saco.
P.S.: Em “Amor” somos brindados com uma legenda muito errada. O Jude pergunta pra Cameron o que ela acha das preliminares sexuais, e ela responde que são “superestimadas”, o contrário do que a tradutora pôs no tela, “bem cotadas”. Mesmo que as legendas tenham evoluído da época em que “You’re fired” (você está despedido) virava “você está pegando fogo”, um dos piores erros recentes está em “Do que as Mulheres Gostam”. O Mel Gibson assiste a um jogo de basquete, vê um cara arremessar, e grita “Miss!” (“Erre!”). A tradutora tacou lá: “Moça!”.